Disquezia: Dificuldade na Defecação e Abordagens Terapêuticas


Disquezia: Dificuldade na Defecação e Abordagens Terapêuticas


Introdução

A disquezia, também conhecida como evacuação desordenada, disfunção do assoalho pélvico, disfunção dos esfíncteres anais ou distúrbios funcionais da defecação, é uma condição caracterizada pela dificuldade de defecar. Pacientes com essa condição sentem a presença de fezes e a necessidade de evacuar, mas são incapazes de fazê-lo, devido principalmente à falta de coordenação dos músculos do assoalho pélvico e dos esfíncteres anais. Embora o tratamento seja desafiador, o biofeedback tem demonstrado potencial benéfico.


Etiologia e Fisiopatologia

Normalmente, durante o processo de evacuação, a pressão retal aumenta de forma coordenada com o relaxamento do esfíncter anal externo. Na disquezia, esse processo pode ser alterado por uma ou mais disfunções de etiologia, muitas vezes, desconhecida. As disfunções incluem (1):

  • Dificuldade de contração retal.
  • Contração excessiva da parede abdominal.
  • Contração paradoxal do ânus.
  • Falha do relaxamento anal.

Os distúrbios defecatórios funcionais podem manifestar-se em qualquer idade (1). Por outro lado, a doença de Hirschsprung, que resulta da ausência de reflexo anorretal inibitório, é geralmente diagnosticada em lactentes ou crianças (1). Indivíduos com síndrome do intestino irritável (SII) também podem apresentar evacuação irregular, contribuindo para a disquezia (1).


Sinais e Sintomas

O paciente com disquezia pode ou não sentir a presença de fezes no reto (1). Mesmo com esforço prolongado, a evacuação é difícil ou impossível, muitas vezes mesmo com o uso de emolientes fecais ou enemas (1). O paciente pode se queixar de um bloqueio anal e, frequentemente, pode remover manualmente as fezes de seu reto ou apoiar mecanicamente o períneo, ou, em mulheres, colocar um apoio na vagina para evacuar (1). A frequência evacuatória real pode ou não estar diminuída (1).

Exames retais e pélvicos em pacientes com disquezia podem revelar hipertonia dos músculos do assoalho pélvico e dos esfíncteres anais (1). Com a tentativa de descida das fezes, os pacientes podem não apresentar o esperado relaxamento e a descida perianal (1). Em casos de esforço excessivo, a parede anterior do reto pode prolapsar na vagina em pacientes com dificuldades no relaxamento anal (1). Além disso, a retocele (hérnia do reto na vagina) é geralmente uma causa secundária, e não o distúrbio primário (1). A existência de disquezia por longo tempo, com inércia fecal prolongada, pode causar o aparecimento de úlcera retal solitária, vários graus de prolapso retal, descida perineal excessiva ou enterocele (1).


Diagnóstico

O diagnóstico da disquezia é realizado por meio de manometria anorretal e pela técnica de expulsão retal por balão (1). Ocasionalmente, esses exames podem ser suplementados por defecograma ou proctografia-ressonância magnética para uma avaliação mais detalhada da condição (1).


Tratamento

O tratamento da disquezia é considerado difícil, e o uso de laxativos costuma ser insatisfatório (1). É fundamental avaliar a função anorretal em pacientes com constipação refratária (1).

O biofeedback pode ser de grande benefício (1), auxiliando na coordenação entre a contração abdominal e o relaxamento do assoalho pélvico durante a defecação, aliviando, assim, os sintomas (1). Contudo, o retreinamento do assoalho pélvico para distúrbios defecatórios é uma terapia altamente especializada e, no momento, está disponível apenas em centros específicos (1).

Uma abordagem multidisciplinar é necessária para o tratamento eficaz da disquezia, envolvendo fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas comportamentais e gastroenterologistas (1).


Referências Bibliográficas

  1. Jameson JL, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, Loscalzo J. Medicina Interna de Harrison. 20. ed. Porto Alegre: ArtMed; 2021. 3522 p.