Doença Venosa Crônica: Fisiopatologia, Classificação e Abordagens Fitoterápicas
Introdução
A doença venosa crônica, manifestada principalmente pelas varizes, é uma condição comum que afeta a circulação venosa, com maior prevalência no sexo feminino. Caracteriza-se por alterações funcionais que levam a sintomas incômodos e, em casos avançados, a complicações cutâneas graves.
Fisiologia da Doença Venosa Crônica
As varizes são definidas como veias superficiais anormais: dilatadas, cilíndricas ou saculares, tortuosas e alongadas (1). Elas resultam de uma alteração funcional na circulação venosa, que culmina em um aumento da pressão venosa e capilar (2), levando a um aumento da permeabilidade capilar (2) e, consequentemente, a edema crônico (2). O processo patogênico também envolve inflamação (2) e estresse oxidativo (2).
As principais queixas clínicas dos pacientes incluem:
- Dor tipo “queimação” ou “cansaço” (1).
- Sensação de pernas pesadas ou ardendo (1).
- Edema (inchaço) nas pernas, predominantemente ao redor do tornozelo (1).
Esses sintomas frequentemente melhoram com a elevação dos membros inferiores e tendem a agravar-se ao final do dia, após longos períodos em pé ou sentado, em ambientes quentes, durante os períodos pré ou menstrual e também na gravidez (1).
Fatores de Risco:
Diversos fatores aumentam o risco de desenvolvimento da doença venosa crônica:
- Sobrepeso ou obesidade.
- Pressão arterial sistólica elevada.
- Tabagismo.
- Gestação.
- Uso de anticoncepcionais.
- Predisposição genética.
Classificação CEAP da Doença Venosa Crônica
A classificação CEAP (Clínica, Etiológica, Anatômica e Fisiopatológica) é utilizada para categorizar a gravidade da doença venosa crônica, variando de C0 a C6 (3):
- C0: Sem doença visível ou palpável (3).
- C1: Presença de telangiectasias (vasinhos) ou veias reticulares (3).
- C2: Presença de veias varicosas (3).
- C3: Presença de edema (inchaço) (3).
- C4A: Pigmentação da pele (3).
- C4B: Lipodermatoesclerose (endurecimento e alteração da pele) (3).
- C5: Úlcera venosa curada (3).
- C6: Úlcera venosa ativa (3).
Abordagens Fitoterápicas para Doença Venosa Crônica
Diversos extratos vegetais têm sido estudados por seus potenciais benefícios no manejo da doença venosa crônica, atuando em diferentes mecanismos fisiopatológicos.
Castanha-da-Índia – Aesculus hippocastanum L.
- Parte utilizada: Semente.
- Mecanismo de ação: Inibe a atividade da hialuronidase, uma enzima que pode degradar componentes da matriz extracelular, contribuindo para a permeabilidade vascular.
- Evidências clínicas: Estudos demonstraram uma redução nas dores nas pernas quando comparado ao placebo. No entanto, não houve diferença significativa em relação à meia de compressão, picnogenol e rutosídeos. A castanha-da-índia também promoveu melhora do edema, embora inferior ao efeito do picnogenol. Houve diminuição do volume das pernas comparado ao placebo, com resultados equivalentes aos rutosídeos e às meias compressoras.
- Recomendação: Extrato seco padronizado (ESP) de Aesculus hippocastanum L. (sementes da castanha-da-índia), padronizado em 18-22% de escina, em doses de 100-300 mg/dia. O uso é recomendado por 4-12 semanas.
Pinus pinaster (Pycnogenol)
- Efeitos:
- Ação antioxidante.
- Ação anti-inflamatória.
- Reduz a disfunção endotelial e a permeabilidade vascular.
- Melhora o fluxo sanguíneo na microcirculação.
- Reduz o edema.
- Evidências clínicas: Doses de 100 mg de Pycnogenol, administradas três vezes ao dia, demonstraram redução do edema subcutâneo e da dor (4). Observou-se boa tolerância com 60 dias de uso, sem alterações em hemogramas e enzimas hepáticas (4).
Vitis vinifera (Uva)
- Mecanismo de ação: Modula a inflamação, apresenta efeitos antioxidantes, aumentando a sintase do óxido nítrico (NOSe) e o óxido nítrico (NO), e reduzindo as espécies reativas de oxigênio (EO) (5, 6, 7).
- Evidências clínicas: Foi observada redução do edema (medido pela circunferência de panturrilha e tornozelo), com menor sensação de cansaço e peso nas pernas. Além disso, houve diminuição da dor e melhora da microcirculação cutânea.
- Forma de uso: Pode-se utilizar 1 colher de sopa de farinha da casca ou semente de uva (equivalente a 20g).
Referências Bibliográficas
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR. Varizes. Disponível em: https://sbacv.org.br/varizes/. Acesso em: [30 jun. 2025].
- MACKAY, D. Hemorrhoids and varicose veins: a review of treatment options. Alternative Medicine Review, v. 6, n. 2, p. 126–140, 2001. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11302778. Acesso em: [30 jun. 2025].
- LURIE, F. et al. The 2020 update of the CEAP classification system and reporting standards. Journal of Vascular Surgery: Venous and Lymphatic Disorders, v. 8, n. 3, p. 342–352, 2020. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S2213333X20300639. Acesso em: [30 jun. 2025].
- ARCANGELI, P. Pycnogenol® in chronic venous insufficiency. Fitoterapia, v. 71, n. 3, p. 236–244, 2000. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0367326X99001641. Acesso em: [30 jun. 2025].
- TISSERANT, L.-P. et al. Enhanced Stilbene Production and Excretion in Vitis vinifera cv Pinot Noir Hairy Root Cultures. Molecules, v. 21, n. 12, p. 1703, 2016. Disponível em: http://www.mdpi.com/1420-3049/21/12/1703. Acesso em: [30 jun. 2025].
- PINNA, C. et al. Proanthocyanidins from Vitis vinifera inhibit oxidative stress-induced vascular impairment in pulmonary arteries from diabetic rats. Phytomedicine, v. 25, p. 39–44, 2017. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S094471131630263X. Acesso em: [30 jun. 2025].
- ALBUQUERQUE, J. G. F. et al. Antioxidant and vasorelaxant activities induced by northeastern Brazilian fermented grape skins. BMC Complementary and Alternative Medicine, v. 17, n. 1, p. 376, 2017. Disponível em: http://bmccomplementalternmed.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12906-017-1881-2. Acesso em: [30 jun. 2025].