Impacto do Estresse na Saúde: Fisiopatologia, Consequências e Estratégias de Manejo


Impacto do Estresse na Saúde: Fisiopatologia, Consequências e Estratégias de Manejo


Introdução

O estresse, uma resposta fisiológica natural, pode ser induzido por uma variedade de fatores estressores, sejam eles físicos (como fome, sede, infecções) ou psicológicos (como a percepção de risco, ansiedade ou preocupação) (1). Define-se estresse como uma experiência emocional negativa acompanhada de alterações bioquímicas, fisiológicas e comportamentais (1).


Fisiopatologia do Estresse

A compreensão do estresse envolve uma complexa interação de sistemas biológicos e psicológicos.

Mecanismos Hormonais e Metabólicos

O estresse crônico está associado a uma maior ativação do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) e a um aumento da atividade simpato-adrenal, resultando em um humor negativo e, frequentemente, no fenômeno do “comer emocional” (1). A ativação do eixo HPA promove uma maior liberação de cortisol, enquanto a ativação simpato-adrenal libera adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea (1).

Estudos têm demonstrado associação entre o “estresse percebido” e o ganho de peso, bem como o acúmulo de gordura abdominal, sendo que a ansiedade mostra uma relação dose-resposta com esse acúmulo (1). Embora o estresse não altere a percepção do apetite, observa-se um aumento na ingestão calórica. Durante uma “tarefa estressante”, também há um aumento nos níveis de cortisol, glicose e insulina no sangue (1). Esse aumento do consumo calórico é parcialmente explicado por uma maior ativação da área de “recompensa” cerebral (1).

A elevação crônica do eixo HPA pode promover o acúmulo de gordura abdominal e o aumento do peso corporal devido ao aumento do cortisol, que, além disso, influencia condições como o diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia e doenças cardiovasculares (1).

Estresse e Qualidade do Sono

O aumento do eixo HPA também influencia o sono, gerando um sono mais leve com maior número de interrupções (1). Contudo, não apenas o estresse gera prejuízos no sono, mas o próprio sono pode ser um fator estressante (1). Estudos encontraram que a privação de sono por duas noites foi associada a um aumento de 21% no cortisol (1). A má qualidade do sono também tem influência no estresse e no ganho de peso (1). A privação de sono, principalmente em adolescentes, foi associada a um maior consumo energético, o que pode ser explicado por mudanças na regulação do apetite e dos hormônios como leptina, grelina e GLP-1 (1).

Modelo Trifásico do Estresse

A visão mais clássica e antiga do estresse psicológico compreende que ele é formado por três fases distintas, conhecido como o modelo trifásico do estresse:

  1. Alerta: Esta fase ocorre quando um fator estressor é percebido. Por exemplo, em uma semana de avaliações acadêmicas, a lembrança súbita de uma prova esquecida pode gerar um estado de alerta, resultando em energia para iniciar o estudo (exemplo adaptado).
  2. Resistência: Se o estressor persiste, o indivíduo entra na fase de resistência. No cenário do estudo, a persistência na tarefa, mesmo com a sensação de não aptidão, leva aos primeiros sintomas de estresse, como esquecimento, sudorese e sentimentos catastróficos (exemplo adaptado).
  3. Exaustão: Se o estressor continua inabalável e os recursos do indivíduo se esgotam, ocorre a fase de exaustão. A insistência em uma tarefa que não gera aprendizado, combinada com a intensificação dos sintomas de estresse e a redução da atenção, indica a chegada a este ponto, onde a continuidade da tentativa torna-se disfuncional (exemplo adaptado).

É fundamental compreender que, embora o exemplo ilustre um cenário de curto prazo, o indivíduo pode permanecer dias ou semanas em cada fase, o que pode resultar em danos irreparáveis à saúde mental e à qualidade dos relacionamentos sociais. Embora o organismo seja adaptado ao estresse agudo, que surge e dura pouco tempo, o mesmo não se pode dizer sobre o estresse crônico, que é uma condição patológica capaz de prejudicar a concentração e a memória, além de estar associado a desordens psiquiátricas como depressão, esquizofrenia e transtorno de estresse pós-traumático (PTSD) (2).

Suscetibilidade ao Estresse

Alguns estudos associaram deficiências de nutrientes como Vitamina D, Niacina, Folato, Vitamina B6, B12 e Ômega-3 a uma maior suscetibilidade ao estresse e à depressão (1). Além disso, polimorfismos no gene do receptor de glicocorticoides, que estão associados a uma maior secreção basal de cortisol, também podem aumentar a suscetibilidade ao estresse (1).

Teoria dos Temas da Vida

A Teoria dos Temas da Vida sugere que indivíduos cronicamente estressados podem encarar o estresse como um “tema” recorrente em suas vidas. Nesses casos, mesmo que o cenário e os personagens mudem, o “roteiro” permanece o mesmo, levando a uma repetição de padrões ansiogênicos. Esta teoria auxilia a compreender que, embora existam ambientes favoráveis ao estresse, a forma como o indivíduo o percebe e lida com ele é, em última instância, também um problema intrínseco.


Estratégias de Enfrentamento do Estresse em Jovens Adultos

De forma geral, o enfrentamento do estresse pode ser dividido em duas amplas categorias (3):

  1. Enfrentamento focado na emoção: Consiste na tentativa de lidar com as emoções associadas à experiência de um determinado evento, por meio de táticas como recusar, pensar sobre ou reavaliar o evento sob outra perspectiva (3).
  2. Enfrentamento focado no problema: Envolve abordar o problema diretamente e desenvolver formas de ação para enfrentar e mudar uma situação desfavorável (3).

Há uma diferença de gênero na forma como os jovens adultos lidam com o estresse (3). Observou-se que mulheres em idade universitária são mais propensas a usar estratégias focadas na emoção do que homens na mesma faixa etária (3). Além disso, mulheres nessa idade tendem a experimentar níveis mais elevados de estresse (3).


Conduta Clínica e Terapêutica

Terapia Nutricional

A nutrição desempenha um papel importante no manejo do estresse e na saúde mental:

  • A combinação de vitaminas do complexo B com cálcio e magnésio demonstrou efeitos benéficos no estresse, ansiedade e no humor percebido (1).
  • A suplementação de Ômega-3 tem mostrado melhora em pacientes com depressão (1).
  • A inclusão de fontes de triptofano foi capaz de reduzir o estresse agudo e a resposta do eixo HPA (1).

Fitoterapia

A Passiflora incarnata tem sido estudada por seus potenciais efeitos ansiolíticos. Um estudo em ratos demonstrou que o uso de longo prazo da Passiflora incarnata foi correlacionado com níveis diminuídos de estresse e, consequentemente, um aumento na motivação para agir e na atividade motora (2).


Referências Bibliográficas

  1. GEIKER, N. R. W. et al. Does stress influence sleep patterns, food intake, weight gain, abdominal obesity and weight loss interventions and vice versa? Obes Rev., v. 19, n. 1, p. 81–97, 2018.
  2. JANDA, K. et al. Passiflora incarnata in neuropsychiatric disorders— a systematic review. Nutrients, v. 12, n. 12, p. 1–17, 2020.
  3. PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento Humano. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022. v. 1.
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