A Dinâmica entre Eventos, Pensamentos e Sentimentos na Terapia Cognitiva
Introdução
Na terapia cognitiva, entende-se que a forma como um indivíduo interpreta um evento é o que realmente molda suas respostas emocionais e comportamentais. Um “evento” pode ser uma situação, uma sensação, ou algo factual ou antecipado, e a terapia busca investigar a mediação cognitiva entre esse evento e a reação do indivíduo.
O Evento e a Interpretação Cognitiva
Um “evento” pode ser uma situação específica, seja ela no passado, presente ou futuro (ex: receber um C em uma prova; a possibilidade de receber um C) (1). Ele também pode ser uma sensação (ex: sentir o coração bater rapidamente) e ser factual ou uma antecipação (1).
Indivíduos que frequentemente se sentem deprimidos, ansiosos ou com raiva podem alegar que a “razão” para um determinado comportamento ou sentimento reside diretamente no evento (ex: “senti-me sem esperança porque perdi meu emprego”) (1). A implicação subjacente é que o evento, por si só, levaria necessariamente a um sentimento específico (1). De modo similar, o indivíduo pode atribuir a causa do seu comportamento diretamente ao evento (ex: “saí da festa porque não conhecia ninguém lá”) (1). Embora essas explicações pareçam plausíveis e sejam comuns, é fundamental investigar como a interpretação do evento conduziu ao comportamento ou à emoção (1). Por exemplo, é possível escolher não sair de uma festa mesmo sem conhecer ninguém (1).
O elemento principal é o pensamento sobre o evento e as emoções e comportamentos que são evocados por ele (1). Um mesmo evento pode, de fato, gerar pensamentos e sentimentos distintos em diferentes pessoas (1).
Exemplo: Seu chefe informa que seu trabalho está atrasado e precisa ser concluído ainda hoje à tarde.
O evento, nesse caso, é a comunicação do chefe (1).
Uma pessoa pode sentir-se ansiosa, pensando: “jamais vou concluir isso, então meu chefe vai ficar zangado e posso ser demitido” (1). No entanto, outra pessoa, diante do mesmo evento, pode sentir-se motivada a agir, com o pensamento: “tenho que realmente focar nisso agora e concluir o trabalho” (1).
Ferramentas Terapêuticas: O Registro de Eventos, Pensamentos e Sentimentos
Para auxiliar na identificação dos tipos de pensamentos e sentimentos que surgem em resposta a diferentes eventos, e para visualizar a relação entre eles, o paciente pode utilizar um formulário específico (1).
Formulário de Registro:
Marque com um X no quadrado apropriado. Por exemplo, “meu chefe criticou meu trabalho” é um evento (1).
Situação | Evento | Pensamento | Sentimento |
Meu chefe criticou meu trabalho. | X | ||
Vou perder meu emprego. | Estou ansioso. | ||
Jamais tenho uma pausa. | Estou triste. | ||
Estou preso no trânsito. | X | ||
Está chovendo. | X | ||
Acho que ela não gosta de mim. | X | ||
Sinto-me embaraçado. | X |
(1)
Exemplos de sentimentos a serem registrados incluem: triste, ansioso, com medo, desesperançado, zangado, confuso (1).
Desafios Comuns e Flexibilidade Cognitiva
Alguns pacientes podem insistir que uma situação ou evento é uma explicação suficiente para seus sentimentos, pensamentos e comportamentos (1). De fato, no discurso cotidiano, frequentemente tratamos um evento como a única causa de um pensamento ou sentimento (1).
No entanto, um componente essencial da terapia cognitiva é ajudar o paciente a reconhecer que os mesmos eventos podem, de fato, levar a diferentes pensamentos, sentimentos e comportamentos (1). O objetivo principal é auxiliar o paciente a considerar a possibilidade de que os eventos não ditam necessariamente uma única resposta, mas que existe a flexibilidade para serem curiosos, imaginativos e adaptativos ao explorar uma variedade de pensamentos e comportamentos alternativos (1).
Outras Técnicas Relacionadas
A distinção clara entre evento, pensamento e sentimento é o ponto de partida para a aplicação de uma vasta gama de técnicas terapêuticas (1). Estas incluem a elucidação de como os pensamentos criam sentimentos, a diferenciação entre pensamentos e fatos, e o exame do grau de crença que o paciente atribui aos seus pensamentos (1).
Referências Bibliográficas
- LEAHY, R. L. Técnicas de terapia cognitiva – Manual do terapeuta. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.