Modelos Cognitivos da Psicopatologia: Distorções, Vieses e Implicações Terapêuticas
Introdução
A terapia racional emotiva comportamental (TREC) de Ellis e o modelo cognitivo de psicopatologia de Beck convergem na ênfase do papel central do pensamento na origem e manutenção das dificuldades psicológicas. Ambos os modelos postulam que interpretações distorcidas da realidade e vieses cognitivos inerentes são frequentemente a base de transtornos como depressão, ansiedade e raiva.
Distorções Cognitivas e Suas Raízes (TREC)
A Terapia Racional Emotiva Comportamental (TREC), proposta por Ellis, sugere que as “distorções” ou “vieses” cognitivos estão frequentemente na raiz das dificuldades psicológicas (1). Exemplos dessas distorções incluem:
- Tornar terrível: A crença de que um evento é catastrófico (ex: “Para mim é terrível receber uma nota baixa”) (1).
- Exigências ou “é preciso”: Crenças rígidas e imperativas sobre si mesmo ou sobre os outros (ex: “Preciso ser perfeito” ou “Você deveria atender às minhas necessidades”) (1).
- Pensamento global: Generalizações excessivas (ex: “Isso sempre está acontecendo comigo”) (1).
- Baixa tolerância à frustração: Incapacidade de suportar desconforto ou espera (ex: “Não suporto quando tenho que esperar por muito tempo”) (1).
O Modelo Cognitivo de Beck: Níveis de Avaliação e Vieses
Na mesma linha, o modelo cognitivo de psicopatologia de Beck ressalta o papel central do pensamento na evocação e manutenção da depressão, da ansiedade e da raiva (1). Vieses cognitivos aumentam a vulnerabilidade a eventos negativos da vida, tornando mais provável que uma perda ou impedimento seja interpretado de forma exagerada, personalizada e negativa (1).
O modelo cognitivo de Beck postula a existência de vários níveis de avaliação cognitiva (1). No nível mais imediato, encontram-se os pensamentos automáticos, que surgem espontaneamente, são percebidos como válidos e estão associados a comportamentos problemáticos ou emoções perturbadoras (1). Esses pensamentos automáticos podem ser categorizados por vieses ou distorções específicas, como:
- Leitura da mente
- Personalização
- Rotulação
- Adivinhação do futuro
- Catastrofização
- Pensamento dicotômico (tudo ou nada) (1)
É importante notar que os pensamentos automáticos podem ser verdadeiros ou falsos. Por exemplo, o pensamento “ela não gosta de mim” pode ser uma leitura da mente sem evidências, mas também pode ser uma constatação verdadeira (1).
A vulnerabilidade emocional a esses pensamentos resulta de pressupostos, crenças condicionais ou regras subjacentes, bem como dos esquemas pessoais mantidos pelo indivíduo (1).
- Pressupostos ou regras subjacentes mal-adaptativos são tipicamente rígidos, hiperinclusivos, inatingíveis e elevam a vulnerabilidade a futuros episódios depressivos ou estados de ansiedade (1).
- Esquemas pessoais são crenças mais abrangentes sobre o self (ex: “Não mereço amor”, “Sou impotente”, “Tenho status especial”) e sobre os outros (ex: “Os outros são críticos”, “controladores”, “irresponsáveis”) (1).
Indivíduos com um esquema pessoal de incompetência geralmente preveem seu fracasso (adivinhação do futuro), consideram que falhar em algo é terrível (catastrofização) e veem isso como uma prova de sua incompetência geral (esquema) (1). Da mesma forma, aqueles que acreditam que precisam da aprovação de todos são mais suscetíveis à depressão e ansiedade, pois inevitavelmente não conseguirão satisfazer esses padrões (1).
Esquemas pessoais negativos (ex: “Não sou digno de amor”, “Não tenho valor”, “Sou defeituoso”) geram atenção e memória seletivas (1). Isso significa que esses indivíduos estarão mais propensos a detectar, interpretar e recordar informações que confirmem seus esquemas, o que os reforça ainda mais (1).
Estilos de pensamento depressivo e ansioso são “orientados pela teoria” e “baseados na pesquisa”, no sentido de que estão continuamente “procurando informações” que confirmem o esquema, configurando um “viés de confirmação” (1). Por exemplo, indivíduos deprimidos têm maior probabilidade de recordar experiências negativas e tendem a ser mais hipergeneralizados em sua memória de eventos, enquanto indivíduos ansiosos são mais atentos a informações ameaçadoras, embora não necessariamente as recordem com maior probabilidade do que indivíduos não ansiosos (1).
O modelo cognitivo permite identificar vieses cognitivos específicos e estratégias de enfrentamento para cada transtorno psicológico, o que possibilita uma conceitualização de caso mais detalhada (1).
O modelo cognitivo atual de Beck enfatiza o aspecto do pensamento científico que busca a “desconfirmação” ou “falsificação” de uma crença, ou seja, o exame de como uma crença pode estar incorreta ou inadequada, em vez de simplesmente procurar evidências que a confirmem (1).
Vieses de pensamento automático e pressupostos mal-adaptativos são elementos presentes em todos os transtornos do humor e de ansiedade (1). Exemplos incluem:
- Transtorno de Ansiedade Social: Engajamento em leitura da mente (“Ela consegue ver minha ansiedade – estou transpirando”) e catastrofização (“É terrível que as pessoas vejam que estou ansioso”) (1).
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo: Previsão do futuro (“Vou ficar contaminado se tocar nisso”) e pensamento catastrófico (“Vou pegar ebola”) (1).
- Transtorno do Pânico: Previsão do futuro (“Vou perder o controle”) e pensamento catastrófico (“Vou ter um ataque cardíaco se minha ansiedade piorar”) (1).
- Depressão: Uma ampla gama de vieses cognitivos, como desqualificação dos aspectos positivos (“Qualquer pessoa consegue se formar na faculdade”), rotulação (“Sou um fracasso”) e previsão do futuro (“Jamais vou ser feliz de novo”) (1).
Técnicas Terapêuticas
As técnicas da terapia cognitiva visam abordar esses vieses e distorções. Duas técnicas fundamentais incluem:
- A distinção entre eventos, pensamentos e sentimentos (1).
- A explicação de como os pensamentos criam sentimentos (1).
Referências Bibliográficas
- LEAHY, R. L. Técnicas de terapia cognitiva – Manual do terapeuta. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.