Fibratos: Mecanismos de Ação, Indicações e Efeitos Adversos no Metabolismo Lipídico
Introdução
Os fibratos são uma classe de derivados do ácido fíbrico, incluindo o bezafibrato, ciprofibrato, genfibrozila, fenofibrato e clofibrato (1). Amplamente utilizados no manejo das dislipidemias, esses fármacos exercem seus efeitos principalmente através de mecanismos complexos que modulam o metabolismo lipídico e influenciam a aterosclerose.
Mecanismo de Ação e Efeitos no Metabolismo Lipídico
O mecanismo de ação dos fibratos é complexo, atuando como agonistas dos receptores nucleares PPAR-α (Receptor Ativado por Proliferadores de Peroxissomos alfa) (1). Em seres humanos, seus principais efeitos incluem (1):
- Aumento da transcrição dos genes da lipoproteína lipase (LPL), ApoA-I e ApoA-V. A LPL é crucial para a hidrólise de triglicerídeos nas lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) e quilomicrons.
- Aumento na capacidade de captação hepática de LDL (lipoproteína de baixa densidade).
- Efeitos benéficos sobre as lipoproteínas, impactando diretamente o perfil lipídico.
Além de suas ações diretas no metabolismo lipídico, os fibratos também demonstram efeitos pleiotrópicos importantes (1):
- Redução da PCR (Proteína C Reativa) e do fibrinogênio plasmático, ambos marcadores inflamatórios.
- Aumento da tolerância à glicose.
- Inibição da inflamação da musculatura lisa vascular por meio da inibição da expressão do fator de transcrição nuclear (NFκB), uma via central na resposta inflamatória.
Indicação
Os fibratos são indicados no tratamento de dislipidemias, especialmente aquelas caracterizadas por hipertrigliceridemia (1). Seus efeitos no perfil lipídico abrangem:
- Redução acentuada do VLDL circulante e, consequentemente, dos triglicerídeos.
- Redução modesta (cerca de 10%) do LDL.
- Aumento de aproximadamente 10% do HDL (lipoproteína de alta densidade) (1).
Ao melhorar o perfil lipídico e exercer efeitos anti-inflamatórios e na tolerância à glicose, os fibratos contribuem para a redução do risco cardiovascular associado à aterosclerose (1).
Efeitos Adversos
A rabdomiólise é um efeito adverso incomum, mas grave, associado ao uso de fibratos (1). Essa condição resulta em insuficiência renal aguda devido à excreção de proteínas musculares pelos rins, especialmente a mioglobina (1).
A rabdomiólise ocorre particularmente em pacientes com comprometimento renal, visto que a redução da ligação proteica e a eliminação deficiente dos fármacos aumentam a concentração plasmática do fibrato (1). Os fibratos devem ser evitados nesses pacientes, bem como em alcoólatras, que, embora predispostos à hipertrigliceridemia, possuem um risco elevado de rabdomiólise (1).
É importante notar que as estatinas, em casos raros, também podem causar rabdomiólise. Por essa razão, o uso combinado de fibratos e estatinas é desaconselhável, devido ao risco aumentado de rabdomiólise quando administrados concomitantemente (1).
Referências Bibliográficas
- RITTER, J. M. et al. Rang & Dale Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. 789 p.