Fisiologia Renal: Funções Essenciais para a Homeostase Orgânica


Fisiologia Renal: Funções Essenciais para a Homeostase Orgânica


Introdução

Os rins são órgãos vitais que desempenham múltiplas funções essenciais na manutenção da homeostase corporal. A complexidade de sua estrutura e a diversidade de seus mecanismos regulatórios os tornam pilares fundamentais para a saúde geral.


Organização Estrutural e Funcional dos Rins

Os rins humanos são compostos por um conjunto de néfrons, cada um contido em uma cápsula (4). Cada néfron constitui uma unidade funcional autônoma, compreendendo um glomérulo, túbulos e ductos coletores (4).

Os glomérulos são formados por um enovelado de capilares envoltos pela cápsula de Bowman. Sua principal função é filtrar aproximadamente 180 litros de fluidos que circulam no organismo diariamente (4). Após a filtração glomerular, o ultrafiltrado passa por segmentos distintos dos túbulos renais — o túbulo proximal, a alça de Henle e o túbulo distal. Esses segmentos são responsáveis por modificar o ultrafiltrado, ajustando sua composição e volume para formar a urina, de modo que seja adequada à ingestão diária de água e à carga de solutos (4).

É importante notar que o organismo possui um número de néfrons superior ao necessário para manter a homeostase. Consequentemente, um indivíduo pode permanecer assintomático mesmo com uma perda de até 75% da função renal (4).


Controle da Diurese

A regulação da excreção de água é mediada primariamente pela vasopressina, também conhecida como hormônio antidiurético (ADH) (1, 2). A diminuição da osmolalidade corporal, indicativa de excesso de água, suprime completamente a secreção de vasopressina (1, 2). De forma análoga, o aumento da osmolalidade estimula a secreção de vasopressina e, consequentemente, a retenção de água (1, 2).


Solutos Urinários e Insuficiência Renal

A maior parte dos solutos presentes na urina deriva dos produtos finais do metabolismo proteico (1). Os principais solutos incluem:

  • Ureia: É o soluto predominante, e sua quantidade na urina é diretamente dependente do teor proteico da dieta (1).
  • Ácido Úrico.
  • Creatinina.
  • Amônia.

A insuficiência renal é caracterizada pela incapacidade dos rins de eliminar a carga diária de excreções metabólicas (1).


Mecanismos Renais de Regulação Sistêmica

Mecanismo Renina-Angiotensina

O sistema renina-angiotensina é o principal mecanismo de controle da pressão arterial no organismo (1, 2). A redução do volume sanguíneo estimula a secreção de renina pelas células do glomérulo. A renina atua sobre o angiotensinogênio plasmático, convertendo-o em angiotensina I, que, por sua vez, é convertida em angiotensina II (1). A angiotensina II é um potente vasoconstritor e um poderoso estimulador da secreção de aldosterona, hormônio que promove a reabsorção de sódio e fluidos, resultando na normalização da pressão arterial (1).

Mecanismo da Eritropoietina (EPO)

Os rins são responsáveis pela produção de eritropoietina (EPO), um hormônio crucial para a atividade eritroide na medula óssea (1, 2). A eritropoietina estimula a produção de hemácias pelas células-tronco hematopoéticas na medula óssea, sendo a hipóxia um importante estímulo para esse processo (2). A deficiência de EPO é a principal causa da anemia grave observada na doença renal crônica (1).

Saúde Óssea e Rins

Os rins desempenham um papel central na saúde óssea, sendo responsáveis pela produção da forma ativa da vitamina D, o 1,25-di-hidroxicolecalciferol (1,25-[OH]2D3), também conhecido como calcitriol, bem como pela eliminação de cálcio e fósforo (1, 2). O calcitriol é essencial para a absorção de cálcio pelo trato gastrointestinal e para a deposição normal de cálcio nos ossos (2). A vitamina D ativa e promove a absorção eficiente de cálcio pelo intestino, sendo uma das substâncias necessárias para o remodelamento e a manutenção óssea (1).

Produção de Glicose

Durante períodos de jejum prolongado, os rins contribuem significativamente para a manutenção da glicemia, sintetizando glicose a partir de aminoácidos e outros precursores por meio da gliconeogênese (2). A capacidade renal de adicionar glicose ao sangue pode equivaler à do fígado durante o jejum (2).


Promotores Diuréticos

O efeito diurético é um fator importante no tratamento de cálculos renais, pois o aumento do fluxo renal auxilia na dissolução das pedras e facilita sua excreção, prevenindo novos depósitos ou retenções (3). Um possível mecanismo proposto para esse efeito diurético é a ação de antagonistas dos receptores de adenosina A1 nos rins. Esses antagonistas podem induzir a diurese e a excreção de sódio por meio da inibição da reabsorção de sódio e água nos rins, e possivelmente pela promoção da vasodilatação da arteríola aferente (3). Diferentemente da furosemida, os antagonistas da adenosina não causam efeitos colaterais na filtração glomerular e/ou no fluxo sanguíneo renal (3).


Referências Bibliográficas

  1. MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S.; RAYMOND, J. L. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 1227 p.
  2. HALL, J. E.; GUYTON, A. C. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1–1176 p.
  3. YULIANA, N. D. et al. Adenosine A1 receptor binding activity of methoxy flavonoids from Orthosiphon stamineus. Planta Medica, [s. l.], v. 75, n. 2, p. 132–136, 2009.
  4. SILVA, S. M. C. S.; MURA, J. D. P. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia. 3. ed. São Paulo: Editora Pitaya, 2016. 1308 p.

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