Gama-Glutamil Transferase (GGT): Um Marcador Clínico Essencial para Doenças Hepatobiliares e Outras Condições


Gama-Glutamil Transferase (GGT): Um Marcador Clínico Essencial para Doenças Hepatobiliares e Outras Condições


Introdução

A Gama-Glutamil Transferase (GGT) é uma enzima sérica de grande relevância clínica, cuja origem primária é o sistema hepatobiliar (2). Sua atividade está intimamente ligada à membrana hepática, onde desempenha um papel crucial no metabolismo extracelular da glutationa, um dos principais antioxidantes celulares. A mensuração dos níveis de GGT no soro é uma ferramenta diagnóstica e de monitoramento valiosa para diversas condições de saúde.


Indicações Clínicas

A GGT é amplamente utilizada para as seguintes finalidades clínicas:

  • Diagnóstico e Monitoramento de Doença Hepatobiliar: A GGT é considerada o indicador mais sensível de doença hepática (1).
  • Diferenciação de Elevações da Fosfatase Alcalina (FA): Ajuda a determinar se o aumento da FA é de origem esquelética (GGT normal) ou reflete doença hepatobiliar (GGT elevada) (1).
  • Triagem para Alcoolismo Oculto: Serve como um teste de triagem eficaz para identificar o consumo excessivo de álcool não revelado (1).
  • Auxílio no Diagnóstico de Doença Hepática em Condições Específicas: É particularmente útil quando há condições que elevam a FA e a Fosfatase Alcalina Leucocitária (LAP), como doença óssea, gravidez ou infância, pois a GGT não é afetada por essas condições (1).

Preparo do Paciente

Para a realização do exame de GGT, recomenda-se:

  • Jejum de 8 horas (2).
  • Suspensão de medicamentos à base de paracetamol e anticonvulsivantes, pois podem interferir nos resultados (2).

Valores de Referência

Os valores de referência da GGT podem variar com a idade e o gênero (1, 2):

  • 0-3 meses: 4-120 UI/L
  • 3 meses a 1 ano: 2-35 UI/L
  • 1-16 anos: 2-25 UI/L
  • ≥ 16 anos: 7-50 UI/L
  • Homens: ≤ 50 UI/L
  • Mulheres: ≤ 30 UI/L

Interpretação de Valores

Valores Elevados

Níveis elevados de GGT podem indicar uma variedade de condições, incluindo (1):

  • Aumento do Índice de Massa Corporal (IMC): Pode levar a um aumento de 25-50% nos níveis de GGT.
  • Condições Metabólicas e Endócrinas: Diabetes Mellitus (DM) e hipertireoidismo.
  • Doenças Pulmonares: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).
  • Doenças Reumáticas: Artrite Reumatoide (AR).
  • Uso de Fármacos: Fenitoína, carbamazepina, cimetidina, furosemida, heparina, metotrexato, ácido valproico e anovulatórios orais.
  • Doença Hepática: Frequentemente acompanhada por alterações na FA, LAP e 5’NT, sendo a GGT um indicador mais sensível.
    • Hepatite Aguda: Elevação menos pronunciada que outras enzimas, mas pode ser um indicador de recuperação, sendo a última enzima a se normalizar.
    • Hepatite Ativa Crônica: Geralmente, elevações até 7 vezes o limite superior, sendo mais elevada que TGO/TGP. No estado dormente, pode ser a única alteração laboratorial.
    • Hepatite Alcoólica: Apresenta um aumento médio maior que 3,5 vezes o limite superior.
    • Abuso de Álcool: Uma razão GGT/FA de 2,5 é sugestiva. É um indicador satisfatório para o alcoolismo.
    • Cirrose: Em casos inativos, os valores são, em média, 4 vezes o limite. Aumentos de 10-20 vezes em pacientes cirróticos podem sugerir carcinoma hepático primário.
    • Esteatose Hepática: Acompanha a elevação de TGO/TGP, mas de forma mais acentuada.
    • Icterícia Obstrutiva: Elevação rápida e maior que a FA, com aumento médio de 5 vezes o limite.
    • Metástases Hepáticas: Elevação paralela à FA, com aumento médio de 14 vezes o limite superior.
    • Colestase: Na colestase mecânica e viral, GGT e LAP estão aumentadas de modo semelhante. Na colestase induzida por fármacos, a GGT é significativamente mais elevada que a LAP, com um aumento médio de 6 vezes o limite.
  • Pancreatite: Na pancreatite crônica, a GGT está alterada quando há comprometimento do trato biliar ou inflamação ativa. Na pancreatite aguda, a GGT está sempre alterada.
  • Infarto Agudo do Miocárdio (IAM): Observa-se elevação em 50% dos pacientes, iniciando no 4º ou 5º dia, com valores máximos entre 8-12 dias. Em casos de choque ou insuficiência cardíaca direita aguda, um pico precoce pode surgir em 48 horas, seguido de rápido declínio e posterior elevação tardia. A GGT é considerada um fator de risco para infarto do miocárdio e morte cardíaca.
  • Neoplasias: Pode estar elevada em alguns casos de carcinoma de próstata e outras neoplasias, mesmo na ausência de metástases hepáticas, como melanoma maligno, carcinoma de mama e de pulmão.
  • Outras Condições: Doença renal, doença cardíaca e estado pós-operatório.

Valores Diminuídos

Níveis diminuídos de GGT são menos comuns, mas podem ser observados em:

  • Hipotireoidismo (1).
  • Início da Gestação: Podem ser observados valores até 25% mais baixos (1).

Limitações do Exame

A interpretação da GGT deve considerar algumas limitações:

  • Meia-Vida: A GGT possui uma meia-vida de 7-10 dias. Em lesões hepáticas associadas ao álcool, a meia-vida pode aumentar para até 28 dias (1).
  • Variações Fisiológicas: Podem ocorrer variações diárias de 10-15% nos níveis de GGT, e os valores podem ser aproximadamente o dobro em indivíduos afrodescendentes (1).

Referências Bibliográficas

  1. WILLIMSON, M. A.; SNYDER, L. M. Wallach – Interpretação de Exames Laboratoriais. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 1225 p.
  2. CALIXTO-LIMA, L.; REIS, N. T. Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2012. 490 p.