A Soja na Prática Clínica: Implicações Nutricionais e Terapêuticas
Introdução
A Glycine max, popularmente conhecida como soja, é um alimento vastamente estudado por seus potenciais benefícios à saúde, especialmente em contextos como o climatério e o metabolismo ósseo. Este documento explora suas características botânicas, compostos bioativos, indicações clínicas, posologia recomendada e importantes contraindicações e considerações para profissionais de saúde.
Aspectos Gerais e Composição
Nome Científico e Popular
- Nome Científico: Glycine max
- Nome Popular: Soja
Parte Utilizada
A parte utilizada para fins nutricionais e terapêuticos são as sementes (2).
Compostos Bioativos
A soja é rica em diversos compostos bioativos, destacando-se:
- Isoflavonas: Incluem genisteína, daidzeína e gliciteína (2).
- Fosfolipídios: Como a lecitina (2).
- Fitoesteróis: Compreendendo estigmasterol, campesterol e sitosterol (2).
- Saponinas (2).
Indicações Clínicas e Evidências
Climatério
Estudos clínicos têm demonstrado a eficácia das isoflavonas da soja no manejo dos sintomas da menopausa (2). É relevante notar que essa eficácia ocorre sem alterar as taxas hormonais endógenas e sem induzir proliferação no endométrio ou no tecido mamário, o que é um ponto de segurança importante (2).
Metabolismo Ósseo
A soja também pode influenciar positivamente o metabolismo ósseo. Alguns estudos indicam que seu consumo pode levar a um aumento da massa óssea, particularmente na coluna lombar, e a uma redução dos marcadores urinários de reabsorção óssea (2). Outro estudo demonstrou que as isoflavonas são eficazes no aumento da retenção de cálcio nos ossos em mulheres pós-menopáusicas (2).
Posologia e Administração
Para o uso de extrato seco padronizado em 40% de isoflavonas, a posologia recomendada é de 50-250 mg/dia (2). Para otimizar a absorção, que é favorecida em ambiente ácido, a administração deve ser realizada em jejum ou entre as refeições (2).
Contraindicações e Precauções
Pacientes com Câncer de Mama
A soja é contraindicada para pacientes com câncer de mama (2). Além disso, a genisteína, uma das isoflavonas da soja, pode inibir a ação do tamoxifeno, um fármaco comumente utilizado no tratamento desse tipo de câncer, o que exige cautela e contraindicação em pacientes em uso deste medicamento (2).
Alergia à Soja
A proteína da soja é reconhecida como um dos oito alimentos mais alergênicos globalmente (1). Contudo, a maioria dos indivíduos com alergia à soja consegue consumir com segurança o óleo de soja e a lecitina de soja (1). Por essa razão, a Food and Drug Administration (FDA) isenta o óleo de soja altamente refinado e a lecitina de soja da rotulagem de alérgenos (1). No entanto, uma pequena parcela da população pode, eventualmente, apresentar sintomas alérgicos mesmo com o consumo desses derivados (1).
Soja e Função Tireoidiana
O impacto do consumo de soja sobre a função tireoidiana é um tema de debate na literatura científica (1). Pesquisas sugerem um potencial risco de doenças da tireoide em indivíduos que consomem grandes quantidades de soja e em usuários de suplementos de isoflavonas, bem como em crianças alimentadas exclusivamente com fórmulas à base de soja (1).
Alguns pesquisadores postulam que as isoflavonas atuam como agentes antitireoidianos, inibindo a tireoperoxidase (TPO) tanto in vitro quanto in vivo (1). Outros, contudo, argumentam que as isoflavonas não são as causadoras desse efeito em humanos, mas sim algum outro composto presente na soja (1).
Adicionalmente, o consumo de soja imediatamente após a ingestão de L-tiroxina pode diminuir a absorção do fármaco, comprometendo o tratamento do hipotireoidismo (1). Por outro lado, a ingestão adequada de iodo parece prevenir os potenciais efeitos antitireoidianos da soja (1).
Referências Bibliográficas
- SILVA, S. M. C. S.; MURA, J. D. P. Tratado de alimentação, nutrição & dietoterapia. 3. ed. São Paulo: Editora Pitaya, 2016. 1308 p.
- SAAD, G. DE A.; LÉDA, P. H. DE O.; SÁ, I. M.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.