Hipogonadismo Masculino: Fisiopatologia, Diagnóstico e Implicações Clínicas


Hipogonadismo Masculino: Fisiopatologia, Diagnóstico e Implicações Clínicas


Introdução

O hipogonadismo masculino consiste na redução de uma ou de ambas as funções testiculares: a produção de espermatozoides (espermatogênese) e/ou a produção de testosterona. Esta condição pode ter um impacto significativo na saúde e qualidade de vida do paciente, manifestando-se de diversas formas dependendo da etiologia e do estágio de desenvolvimento.


Classificação e Etiologia

O hipogonadismo é classificado em dois tipos principais, baseados na localização da disfunção primária:

Hipogonadismo Primário (Hipogonadismo Hipergonadotrófico)

Resulta de uma doença ou lesão testicular (1). As causas congênitas primárias incluem a Síndrome de Klinefelter (47,XXY) e distúrbios congênitos da síntese de androgênios. As causas adquiridas primárias abrangem infecções (ex: caxumba com orquite), traumatismos testiculares, quimioterapia e radioterapia (1).

Hipogonadismo Secundário (Hipogonadismo Hipogonadotrófico)

Originado por enfermidades da hipófise ou do hipotálamo, que comprometem a secreção de gonadotrofinas (LH e FSH) (1). As causas congênitas secundárias incluem a Síndrome de Kallmann, hipopituitarismo e hipogonadismo hipogonadrotrófico idiopático. As causas adquiridas englobam lesões tumorais na hipófise ou no hipotálamo, hiperprolactinemia e traumatismo na base do crânio (1).

É relevante observar que, em muitos casos, pode haver uma dissociação clínica entre os sintomas relatados pelos pacientes e os achados laboratoriais. Frequentemente, a normalização dos exames não resulta na completa resolução das queixas, como observado em pacientes após emagrecimento significativo. Ambas as classes de hipogonadismo (primário e secundário) podem ter etiologias congênitas ou adquiridas.


Sinais e Sintomas Clínicos

As manifestações clínicas do hipogonadismo variam com a idade de início:

Homens Pós-Púberes

As principais manifestações incluem redução da energia e da libido. Com a progressão da condição, podem surgir sintomas tardios como diminuição de pelos (androgênio-dependentes), perda de massa muscular e redução da densidade mineral óssea (1).

Adolescentes

No contexto de adolescentes, o hipogonadismo pode manifestar-se como atraso no desenvolvimento puberal. Nestes casos, observam-se baixas concentrações séricas de testosterona, com níveis de LH e/ou FSH normais ou subnormais (1). Se o atraso no desenvolvimento for de curta duração, a correção hormonal tende a ocorrer espontaneamente. No entanto, quanto maior o tempo de atraso puberal, maior a probabilidade de a causa ser um hipogonadismo secundário subjacente (1).


Achados Laboratoriais

A avaliação laboratorial é crucial para o diagnóstico e diferenciação do hipogonadismo:

  • Testosterona Normal, Espermatozoide Baixo: Se a testosterona total estiver dentro dos limites normais, mas a contagem de espermatozoides estiver baixa (oligozoospermia/azoospermia), é indicada a avaliação dos níveis de LH e FSH (1). Se o LH estiver normal e o FSH estiver elevado, isso sugere uma lesão primária dos túbulos seminíferos, que compromete a espermatogênese sem afetar significativamente a produção de testosterona pelas células de Leydig (1).
  • Testosterona Baixa ou Limítrofe, Espermatozoide Baixo: Nestes casos, os níveis de LH e FSH são determinantes para diferenciar as causas primárias das secundárias (1).
    • Se as gonadotrofinas (LH e FSH) estiverem elevadas, o diagnóstico é de hipogonadismo primário, indicando falha testicular.
    • Se as gonadotrofinas estiverem normais ou baixas, o diagnóstico é de hipogonadismo secundário, sugerindo disfunção hipofisária ou hipotalâmica.

Avaliação da Testosterona

Valores diminuídos de testosterona sérica total são indicativos da condição (1). A concentração sérica de testosterona total é considerada um reflexo fidedigno da secreção androgênica (1). Em indivíduos obesos e idosos, a dosagem da testosterona livre pode ser mais relevante, pois a testosterona total pode ser enganosa devido a alterações nas proteínas carreadoras (1). A coleta da amostra sanguínea para dosagem de testosterona deve ser realizada preferencialmente pela manhã, por volta das 8h, devido à variação diurna do hormônio (1).


Fatores Associados ao Hipogonadismo

Obesidade

A obesidade pode induzir um hipogonadismo secundário, resultando na redução da atividade do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, com consequente diminuição dos níveis de LH e FSH, e subsequente queda da testosterona (1). Adicionalmente, o hipogonadismo primário pode contribuir para o desenvolvimento ou agravamento da obesidade. Estudos têm demonstrado que uma perda de 15% do peso corporal pode levar a uma melhora significativa nos níveis de testosterona em casos de hipogonadismo secundário associado à obesidade.

Envelhecimento

No processo de envelhecimento, os níveis de testosterona total podem não apresentar uma queda tão acentuada. No entanto, a testosterona livre diminui significativamente, podendo atingir metade ou um terço dos níveis observados em indivíduos jovens (20 anos) após os 80 anos de idade (1).


Referências Bibliográficas

  1. WILLIMSON, M. A.; SNYDER, L. M. Wallach – Interpretação de Exames Laboratoriais. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 1225 p.