Homocisteína: Aspectos Bioquímicos, Clínicos e Interpretação Laboratorial
Introdução
A homocisteína (Hcy) é um aminoácido tiólico que desempenha um papel crucial no metabolismo da metionina. Sua avaliação laboratorial é de grande importância na prática clínica, auxiliando no diagnóstico e manejo de diversas condições de saúde, desde deficiências nutricionais até doenças cardiovasculares.
Definição Bioquímica da Homocisteína
A homocisteína total (Hcy) é um aminoácido tiol contendo um grupo sulfidrila, produzido no interior das células através da desmetilação da metionina. Este processo metabólico culmina na formação de cisteína (1).
Aplicações Clínicas da Homocisteína em Exames Laboratoriais
A dosagem de homocisteína é empregada para excluir ou confirmar deficiências de vitamina B12 ou folato (1,2). É um marcador relevante em pacientes que fazem uso de medicamentos como o metotrexato, em indivíduos vegetarianos que não recebem suplementação de vitamina B12, em casos de abortos espontâneos recorrentes, infertilidade e anemia inexplicada (1). Adicionalmente, a homocisteína é reconhecida como um fator de risco independente para doença coronariana e/ou vascular cerebral (1).
Valores de Referência da Homocisteína
Os valores de referência para a homocisteína plasmática são estratificados da seguinte forma (1):
- Normal: 5,0 – 15 µmol/L
- Elevação Moderada: 15 – 30 µmol/L
- Elevação Intermediária: 30 – 100 µmol/L
- Elevação Grave: > 100 µmol/L
Condições Associadas a Valores Elevados de Homocisteína
A hiper-homocisteinemia, ou seja, a elevação dos níveis plasmáticos de homocisteína, pode ser um indicativo de diversas condições clínicas. As principais causas incluem (1):
- Deficiência de Vitamina B12
- Deficiência de Folato (Vitamina B9)
- Deficiência de Vitamina B6
- Hipotireoidismo
- Insuficiência renal crônica
- Coronariopatia
A homocisteína elevada possui propriedades aterogênicas e protrombóticas primárias. As elevações plasmáticas podem ser decorrentes de defeitos genéticos, deficiências nutricionais e uso de determinados fármacos (1).
A hiper-homocisteinemia genética mais comum resulta de uma variante termolábil da metilenotetra-hidrofolato redutase (MTHFR). A homozigosidade para essa variante da MTHFR é uma causa relativamente frequente de homocisteína elevada na população geral, afetando cerca de 5% a 14% dos indivíduos (1).
Embora a hiper-homocisteinemia moderada seja um fator de risco independente para tromboembolismo venoso e arterial, seu impacto é menos pronunciado em comparação com outros fatores de risco já bem estabelecidos (1). Além disso, a hiper-homocisteinemia está associada ao aumento do estresse oxidativo, disfunção endotelial e ao desenvolvimento de doença arterial coronariana (2).
Condições Associadas a Valores Diminuídos de Homocisteína
Níveis diminuídos de homocisteína podem ser observados em certas condições clínicas, tais como (1):
- Síndrome de Down
- Gravidez
- Hipertireoidismo
- Diabetes mellitus precoce
Limitações na Interpretação da Homocisteína
É importante considerar fatores que podem influenciar os níveis de homocisteína e, consequentemente, a interpretação dos resultados (1):
- O tabagismo e o consumo de café podem elevar os níveis de Hcy.
- A variabilidade intrapessoal da homocisteína é de 8%, podendo atingir 25% em pacientes com hiper-homocisteinemia, o que exige cautela na interpretação de resultados isolados.
Referências Bibliográficas
- Willimson MA, Snyder LM. Wallach – Interpretação de Exames Laboratoriais. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. 1225 p.
- Braga JAP, Amancio OMS. Deficiências Nutricionais – Manual para diagnóstico e condutas. 1. ed. Santana de Parnaíba: Manole; 2022. 216 p.