Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs): Mecanismo, Implicações e Recomendações Clínicas
Introdução
Os inibidores da bomba de prótons (IBPs), como o omeprazol, são fármacos amplamente utilizados para reduzir a secreção de ácido gástrico. Embora eficazes, seu uso prolongado pode acarretar diversas alterações fisiológicas e requer considerações clínicas e nutricionais específicas para otimizar a segurança e a eficácia do tratamento.
Mecanismo de Ação
O omeprazol, um representante da classe dos IBPs, atua inibindo irreversivelmente a H+−K+-ATPase (bomba de prótons), que é a etapa final na via secretora de ácido (2). Isso resulta em uma redução significativa das secreções de ácido gástrico, tanto as basais quanto as estimuladas por alimentos (2).
O fármaco é frequentemente formulado em cápsulas contendo grânulos de revestimento entérico, o que permite que ele seja absorvido no intestino delgado (2). Após a absorção, o omeprazol se move do sangue para o interior das células parietais e, em seguida, para os canalículos, onde exerce seus efeitos (2).
Curiosamente, doses aumentadas de omeprazol podem causar uma elevação desproporcional da concentração plasmática, possivelmente porque seu efeito inibitório sobre a secreção de ácido melhora sua própria biodisponibilidade (2). Embora a meia-vida do omeprazol seja de aproximadamente 1 hora, uma única dose diária afeta a secreção de ácido por 2 a 3 dias. Isso se deve, em parte, ao seu acúmulo nos canalículos e à inibição irreversível da H+−K+-ATPase (2). Com a dosagem diária, observa-se um efeito antissecretor crescente por até 5 dias, atingindo um platô após esse período (2).
Efeitos Adversos
Os efeitos adversos dos IBPs são geralmente incomuns e podem incluir cefaleia, diarreia e rashes cutâneos (2).
É importante que os inibidores da bomba de prótons sejam utilizados com cautela em pacientes com hepatopatia ou em mulheres grávidas. Além disso, seu uso pode mascarar os sintomas do câncer gástrico, o que exige vigilância clínica (2).
Alterações de Longo Prazo e Conduta Clínica
O consumo prolongado de IBPs pode gerar mudanças na estrutura e função do estômago (1). Podem ocorrer mudanças na mucosa gástrica, associadas à hiperplasia e hipertrofia das células parietais (1). A hipocloridria resultante interfere nas células G e D, levando a um aumento da gastrina, que, por sua vez, ativa uma reação hiperplásica nas células enterocromafins (ECL) e nas células parietais (1).
A hiperplasia das células parietais tem um importante efeito rebote após a descontinuação do medicamento, resultando em uma produção exacerbada de ácido devido à maior quantidade de células parietais (1). Para minimizar esse efeito, é fundamental orientar os pacientes sobre a retirada gradual do medicamento, utilizando um esquema de dias de intervalo (por exemplo, 1 dia de intervalo, 2 dias de intervalo, e aumentando progressivamente até a cessação), embora não exista uma diretriz formal para essa retirada (1).
H. Pylori e Microbiota
Estudos demonstram que a utilização de IBPs em pacientes com H. pylori está associada ao desenvolvimento de gastrite predominante no corpo do estômago (1). Algumas sociedades médicas recomendam o tratamento do H. pylori em pacientes com indicação para uso prolongado de IBPs, visando prevenir o desenvolvimento de anormalidades da mucosa e a progressão para gastrite atrófica (1).
Diversos estudos reportaram alterações na microbiota intestinal, principalmente em relação à diminuição da diversidade intestinal (1). Outro problema relacionado à microbiota, embora ainda controverso, é a Supercrescimento Bacteriano do Intestino Delgado (SIBO), uma vez que um dos mecanismos propostos para o seu surgimento é o aumento do pH estomacal induzido pelos IBPs (1).
Orientações Nutricionais e Suplementação
A conduta clínica deve incluir a avaliação e, se necessário, o ajuste de alguns nutrientes:
- Vitamina B12: O ácido gástrico é crucial para a liberação da vitamina B12 de outros nutrientes (1). As células parietais gástricas, responsáveis pela liberação do fator intrínseco (necessário para a absorção da B12), são inibidas pela baixa concentração de H+ (1). Por isso, é recomendado determinar a vitamina B12 sérica pelo menos duas vezes ao ano (1) em pacientes em uso prolongado de IBPs.
- Magnésio: O ajuste do magnésio também é uma consideração importante (1).
Saúde Óssea
Apesar de controverso, a relação entre o uso prolongado de IBPs e a interferência na saúde óssea é um ponto de atenção. Embora não seja recomendado alarde em relação ao risco à saúde óssea, é necessária maior cautela na indicação do uso de IBPs (1).
Referências Bibliográficas
- Malfertheiner, P.; Kandulski, A.; Venerito, M. Proton-pump inhibitors: Understanding the complications and risks. Nature Reviews Gastroenterology & Hepatology, v. 14, n. 12, p. 697–710, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/nrgastro.2017.117
- Ritter, J. M. et al. Rang & Dale Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. 789 p.