A Trajetória para a Vida Adulta: Desenvolvimento psicossocial e Relacionamentos na Adultez Emergente
Introdução
A transição para a vida adulta é um período multifacetado, com diferentes caminhos que moldam o desenvolvimento individual. Este processo, que se estende por fases distintas da adultez emergente, envolve a consolidação da identidade, a renegociação de relacionamentos familiares e a formação de novos vínculos sociais e afetivos, com implicações significativas para o bem-estar e a adaptação social.
Caminhos para a Vida Adulta
As pesquisas identificaram três caminhos principais que caracterizam a trajetória de jovens adultos nos Estados Unidos (1):
- Formação de família precoce e ausência de faculdade: Jovens adultos que começam a família cedo e, em geral, não frequentam a faculdade. Casar e formar família cedo estão associados a pobreza e uso de substâncias (1). A parentalidade precoce limita as perspectivas de futuro, especialmente para mulheres que não se casam (1). No entanto, nem tudo é negativo; essas jovens relatam menos parceiros sexuais e menos uso de substâncias em comparação com mulheres que interromperam uma gravidez indesejada (1).
- Parentalidade postergada e início de trabalho em tempo integral: Jovens adultos que esperam para ter filhos no início da vida adulta, mas que, em vez de investir em faculdade, começam a trabalhar em tempo integral (1). Esses jovens adultos têm mais filhos até os 30 e poucos anos, trabalham mais horas, têm menos crescimento de renda e dependem mais de auxílio do governo (1).
- Parentalidade e marcos tradicionais postergados para objetivos educacionais/de carreira: Envolve adultos emergentes de ambos os sexos que postergam a parentalidade e outros marcos tradicionais da vida adulta em busca de objetivos educacionais ou de carreira. Esse grupo tende a começar de uma posição mais privilegiada e tem os resultados mais positivos (1).
Desenvolvimento da Identidade e Recentralização
A adultez emergente representa um ponto crucial durante o qual os compromissos do papel do adulto gradualmente se cristalizam (1). Nos países pós-industrializados, a busca por identidade tende a se estender até a adultez emergente (1).
A recentralização é o processo subjacente à mudança para uma identidade adulta (1). É um processo de três estágios no qual poder, responsabilidade e tomada de decisão gradualmente passam da família de origem para o jovem adulto independente (1).
- Estágio 1 (Início da adultez emergente): O indivíduo continua inserido na família de origem, mas as expectativas de autoconfiança e autodirecionamento começam a aumentar. Assim, um jovem adulto pode ainda morar na casa dos pais e estudar no ensino médio, mas ter a expectativa de programar e monitorar suas próprias atividades fora do horário de aula (1).
- Estágio 2 (Durante a adultez emergente): O indivíduo permanece conectado à família de origem, mas não está mais inserido nela. Por exemplo, uma aluna de faculdade pode morar no dormitório da instituição, mas ainda ser sustentada financeiramente pelos pais, enquanto está matriculada. Envolvimentos temporários e exploratórios em uma variedade de cursos universitários, empregos e relacionamentos íntimos marcam esse estágio. Próximo do seu final, o indivíduo começa a assumir compromissos sérios e a obter os recursos para sustentá-los (1).
- Estágio 3 (Geralmente próximo aos 30 anos): O indivíduo entra no período de jovem adulto. Esse estágio é marcado por independência da família de origem (embora mantendo vínculos estreitos com ela) e compromisso com uma carreira, com um relacionamento amoroso e possivelmente com filhos. Aqui, um jovem adulto pode estar se estabelecendo na carreira ou no casamento e criando uma vida independente, mas permanece próximo aos pais e à família de origem (1).
Moratória Contemporânea
A moratória contemporânea é denominada como uma crise autoconsciente que, em um mundo ideal, leva à resolução e à realização da identidade (1). Em vez de explorar ativa e cuidadosamente sua identidade, muitos jovens adultos parecem fazer pouca deliberação ativa e consciente, adotando uma abordagem passiva (difusa) ou deixando os pais tomarem as rédeas de sua vida (execução). Não obstante, aproximadamente 3 em cada 4 jovens estabelecem algum tipo de identidade ocupacional no final da década dos 20 anos (1).
Desenvolvendo Relacionamento Adulto com os Pais
Quando os jovens saem de casa, eles precisam concluir a negociação de autonomia iniciada na adolescência e redefinir seu relacionamento com seus pais como um relacionamento entre adultos (1). Pais que são incapazes de reconhecer essa mudança podem retardar o desenvolvimento de seus filhos (1).
Influências nos Relacionamentos com os Pais
Embora não sejam mais crianças, os adultos emergentes ainda precisam de aceitação, empatia e apoio dos pais, e o apego a eles continua sendo um ingrediente fundamental do bem-estar (1). Relações positivas entre pais e filhos no início da adolescência predizem relacionamentos mais afetuosos e menos conflitantes com ambos os pais quando os filhos chegam aos 26 anos (1).
Em geral, os pais e os filhos jovens adultos se entendem melhor quando o filho está seguindo um curso de vida esperado, mas adiou a responsabilidade da parentalidade até que outros papéis adultos estejam bem estabelecidos (1). A qualidade do relacionamento entre pais e filhos adultos pode ser afetada pelo relacionamento entre a mãe e o pai. Quando o jovem adulto se vê “preso no meio” de dois pais conflitantes, pode haver consequências negativas (1).
Vale ressaltar que essa é uma relação bidirecional. Os pais de jovens adultos problemáticos também podem experimentar maior sofrimento devido às ações de seus filhos, particularmente dada a alteração do equilíbrio de forças quando os jovens adultos se tornam mais independentes e menos sujeitos ao controle dos pais (1).
Incapacidade de “Soltar as Amarras”
Dizer que esses jovens adultos — que não “soltam as amarras” e não se mudam da casa dos pais — são preguiçosos e egoístas que se recusam a crescer é, na maioria, incorreto (1). Em vez disso, eles são forçados a permanecer um pouco dependentes principalmente por preocupações econômicas e pela necessidade de obter treinamento ou escolarização em um grau maior do que as gerações anteriores (1). Na verdade, a média de idade em que os jovens adultos entram na força de trabalho aumentou nas últimas décadas e, em comparação com as gerações anteriores, eles não alcançam os mesmos níveis de renda até fases posteriores da vida (1). E as projeções econômicas sugerem que essa tendência irá continuar (1).
Perspectivas sobre o Desenvolvimento da Personalidade
Quatro abordagens ao desenvolvimento psicossocial do adulto são representadas pelos modelos de estágio normativos, modelo de momento dos eventos, modelos de traços e modelos tipológicos (1).
Modelo de Estágios Normativos
Toda cultura possui normas sobre a hora “certa” para grandes eventos da vida. Os modelos de estágio normativos sustentam que os adultos seguem uma sequência básica de mudanças psicossociais relacionadas à idade (1). As mudanças são normativas no sentido de que são comuns à maioria dos membros de uma população em um dado momento. Entretanto, o que é normativo depende das expectativas sobre o momento dos eventos da vida naquele grupo cultural específico (1).
Pesquisas sobre os estágios normativos chamaram atenção para o fato de que os seres humanos continuam a mudar e a se desenvolver durante toda a vida (1). Psicólogos, baseando-se no trabalho de Erikson, identificaram tarefas do desenvolvimento que precisam ser realizadas para a adaptação bem-sucedida a cada estágio de vida. Dentre as tarefas do desenvolvimento do jovem adulto estão: deixar a casa da infância; desenvolver amizades novas e mais íntimas e relacionamentos afetivos; e desenvolver independência e autoconfiança (1).
Modelo de Momento dos Eventos
O modelo do momento sustenta que o curso do desenvolvimento depende de quando certos eventos ocorrem na vida das pessoas (1). De acordo com esse modelo, as pessoas geralmente têm plena consciência tanto do seu momento quanto do seu relógio social — as normas e expectativas da sua sociedade para o momento apropriado dos eventos da vida (1).
Se os eventos ocorrem na hora certa, o desenvolvimento prossegue sem problemas. Se não, pode ocorrer estresse. O estresse pode originar-se de um evento inesperado (como perder um emprego), de um evento que acontece fora de hora (ficar viúvo aos 35 anos), ou da não ocorrência de um evento esperado e desejado (ser incapaz de gerar um filho) (1). As diferenças de personalidade influenciam como as pessoas respondem aos eventos de vida e podem influenciar seu momento (1).
O momento típico dos eventos varia de cultura para cultura e de uma geração para a outra. De fato, coortes mais recentes de jovens adultos estão completando tarefas do desenvolvimento desse período em idades mais tardias do que era anteriormente normativo, indicando que o “relógio cultural” mudou um pouco nos últimos anos (1). Por exemplo, houve um aumento na idade média em que os adultos se casam, e há uma tendência a adiar a primeira gravidez nos Estados Unidos (1). Essa variação mais ampla de normas etárias prejudica a previsibilidade na qual o modelo de momentos dos eventos é baseado (1). O modelo de momento dos eventos deu uma contribuição importante para nosso entendimento da personalidade adulta ao enfatizar o curso de vida individual e desafiar a ideia de mudança universal relacionada à idade (1).
Modelo de Traços: “Big Five”
Os modelos de traços são modelos psicológicos que focalizam a medição e análise de diferentes traços de personalidade (1). Um dos modelos mais conhecidos é o modelo dos cinco fatores (Big Five), composto por (1):
- Abertura a experiência.
- Conscienciosidade.
- Extroversão.
- Amabilidade.
- Neuroticismo.
Continuidade e Mudança no Modelo dos Cinco Fatores
Em média, as mudanças de personalidade são pequenas (1). Análises longitudinais e transversais de homens e mulheres norte-americanos encontraram uma considerável continuidade (1). Mudanças de desenvolvimento normativas ocorrem em todas as cinco dimensões entre a adolescência e os 30 anos, com mudanças muito mais lentas após esse período (1). As mudanças ocorrem quase exclusivamente na direção positiva, com aumentos na dominância social (assertividade, uma faceta da extroversão), na conscienciosidade, na estabilidade emocional e na amabilidade (1). Há também uma tendência de redução de neuroticismo, extroversão e abertura à experiência (1).
O “Big Five” parece estar ligado a vários aspectos da saúde e do bem-estar (1). Traços dos cinco grandes fatores também foram associados com satisfação conjugal, relacionamentos entre pais e bebês, conflito entre trabalho e família e transtornos da personalidade (1).
Com relação a fatores específicos:
- A abertura a experiência está relacionada à inteligência verbal e à capacidade criativa, assim como à melhor saúde (1).
- A conscienciosidade foi associada com comportamentos relacionados à saúde que contribuem para a longevidade (1).
- Pessoas com baixa extroversão são propensas a agorafobia (medo de lugares abertos) e a fobias sociais, enquanto aquelas com alto nível de extroversão tendem a ter níveis elevados de bem-estar, mas são mais propensas ao uso de substâncias (1).
- A amabilidade está associada com menos respostas negativas ao estresse, mas também parece estar associada com declínios maiores em afeto positivo após um estressor (1).
- Pessoas com alto neuroticismo tendem a ser suscetíveis a depressão e ansiedade e têm maior probabilidade de desenvolverem uma dependência química e de ter baixo bem-estar (1).
Avaliando o Modelo “Big Five”
Eventos isolados parecem influenciar pouco as mudanças de personalidade, mas estressores de longo prazo, como problemas crônicos de saúde, parecem exercer alguma influência (1). Pessoas com carreiras bem-sucedidas e gratificantes no período de jovem adultez tendem a mostrar aumentos desproporcionais na estabilidade emocional e na conscienciosidade ao longo do tempo (1).
Estimativas de herdabilidade para traços de personalidade diminuem com a idade, o que sugere que as influências ambientais se tornam progressivamente mais importantes (1). É importante lembrar que, embora os eventos da vida afetem a personalidade, esta também afeta a probabilidade de determinados eventos ocorrerem. Pessoas com alto nível de amabilidade têm maior probabilidade de perder seus empregos; as altamente extrovertidas são mais propensas a ir morar com um parceiro; e mulheres com alto neuroticismo têm maior probabilidade de casar (1).
Modelo Tipológico
A pesquisa tipológica visa complementar e expandir a pesquisa sobre traços examinando a personalidade como uma unidade funcional (1). Pesquisadores identificaram três tipos de personalidade: ego-resiliente, supercontrolado e subcontrolado (1). Esses três tipos diferem na resiliência do ego (adaptabilidade sob estresse) e no controle do ego (autocontrole) (1).
- Pessoas ego-resilientes são bem ajustadas: autoconfiantes, independentes, articuladas, atentas, prestativas, cooperativas e focadas na tarefa (1).
- Pessoas supercontroladas são tímidas, caladas, ansiosas e confiáveis; tendem a manter seus pensamentos para si e a afastar-se de conflitos, e são mais sujeitas a depressão (1).
- As pessoas subcontroladas são ativas, enérgicas, impulsivas, teimosas e facilmente distraídas (1).
A resiliência do ego interage com o controle do ego para determinar se o comportamento é ou não adaptativo, ou mal-adaptativo (1).
As Bases do Relacionamento Íntimo
Relacionamentos íntimos requerem autoconsciência; empatia; capacidade de comunicar emoções; resolver conflitos e manter compromissos; e, se o relacionamento é potencialmente sexual, tomar decisões sobre sexo (1).
Amizade
Em geral, os jovens adultos têm redes de amizades maiores; contudo, as amizades nesse período muitas vezes são menos estáveis do que na adolescência ou posteriormente na vida, pois as pessoas se mudam com mais frequência durante a adultez emergente (1). Mas, sejam amizades virtuais ou não, elas tendem a centrar-se nas atividades de trabalho e parentalidade e na troca de confidências e conselhos (1).
Jovens adultos solteiros recorrem mais às amizades para satisfazer suas necessidades sociais do que jovens adultos casados ou jovens pais (1). Durante a jovem adultez, o número de amigos e o tempo passado com eles diminuem gradualmente, supostamente porque o tempo livre diminui e as responsabilidades para com os outros aumentam (1).
Pessoas que têm amigos tendem a ter uma sensação de bem-estar, ainda que não esteja claro se a amizade causa o bem-estar ou se pessoas que se sentem bem consigo mesmas têm mais facilidade para fazer amigos (1). As mulheres, normalmente, têm amizades mais íntimas do que os homens. Elas têm uma maior tendência a contar segredos para as amigas, conversar com elas sobre seus problemas conjugais e receber conselho e apoio (1). Já os homens, por outro lado, são mais propensos a compartilhar informações e atividades. Entretanto, quando revelam detalhes íntimos, como fazem as mulheres, o resultado é a maior proximidade (1).
Amizades íntimas e apoiadoras podem ser incorporadas às redes familiares. Amigos desse tipo são chamados de parentes fictícios (1). Adultos solteiros, sem filhos, são mais propensos a desenvolver relações de parentesco fictício mais fortes do que adultos casados com família (1).
Amor
A maioria das pessoas aprecia histórias de amor, incluindo as delas próprias (1). De acordo com a Teoria Triangular do Amor, de Sternberg, a maneira pela qual o amor se desenvolve é uma história (1). Os três elementos, ou componentes, do amor são: intimidade, paixão e compromisso (1).
- Intimidade: O elemento emocional, envolve autorrevelação, que leva à ligação, ternura e confiança (1).
- Paixão: O elemento motivacional, baseia-se em impulsos interiores que transformam a excitação fisiológica em desejo sexual (1).
- Compromisso: O elemento cognitivo, é a decisão de amar e permanecer com a pessoa amada (1).
O grau em que cada um dos três elementos está presente determina o tipo de amor que as pessoas sentem (1). À medida que entram na vida adulta, os adolescentes tendem a sentir níveis crescentes de intimidade, paixão e compromisso em seus relacionamentos amorosos (1). A formação de um sentido de realização da identidade parece afetar a qualidade dos relacionamentos amorosos (1). Por exemplo, o estado de realização da identidade está associado com sentimentos mais fortes de companheirismo, valor, afeição e apoio emocional no relacionamento amoroso (1).
Apesar de mais parecidos do que diferentes, homens e mulheres apresentam diferenças modestas em intimidade, paixão e compromisso em seus relacionamentos (1). Em geral, as mulheres relatam maior intimidade, enquanto os homens informam mais paixão (1). Os níveis de compromisso, entretanto, parecem semelhantes para ambos os gêneros (1). A duração do relacionamento afeta sua dinâmica. Em geral, a paixão é maior no início do relacionamento e diminui com o tempo, à medida que o compromisso aumenta (1).
Padrões de Amor (1):
Tipo | Descrição |
Ausência de amor | Os três componentes do amor estão ausentes. Isso descreve a maioria das relações interpessoais, sendo simplesmente interações casuais. |
Gostar | Intimidade é o único componente presente. Há intimidade, compreensão, apoio emocional, afeição, ligação e calor humano. Não há paixão nem compromisso. |
Paixão | A paixão é o único componente presente. Este é o “amor à primeira vista”, uma atração física e excitação sexual forte, sem intimidade ou compromisso. |
Amor vazio | Compromisso é o único componente presente. O amor vazio é encontrado com frequência em relacionamentos duradouros que perderam tanto a intimidade quanto a paixão, ou em casamentos arranjados. |
Amor romântico | Intimidade e paixão estão presentes. Os amantes românticos são atraídos um pelo outro fisicamente e estão emocionalmente ligados. Entretanto, não estão mutualmente comprometidos. |
Amor companheiro | Intimidade e compromisso estão presentes. Esse amor é uma amizade comprometida, de longo prazo, que ocorre com frequência em casamentos nos quais a atração física se esgotou, mas os parceiros se sentem mutuamente íntimos e tomaram a decisão de permanecerem juntos. |
Amor fatual | Paixão e compromisso estão presentes sem intimidade. Isso muitas vezes leva a um namoro-relâmpago, no qual o casal assume um compromisso sem se permitir o tempo necessário para desenvolver intimidade. Este tipo de amor geralmente não dura. |
Amor pleno | Os três componentes estão presentes neste amor “completo”. É mais fácil atingi-lo do que mantê-lo. |
Relacionamentos Homossexuais
Em muitos aspectos, os relacionamentos homossexuais espelham os relacionamentos heterossexuais (1). Casais homossexuais tendem a ser pelo menos tão satisfeitos com seus relacionamentos quanto casais heterossexuais (1). Os fatores que predizem a qualidade dos relacionamentos tanto homossexuais como heterossexuais — traços de personalidade, percepções do relacionamento pelos parceiros, formas de comunicação e resolução de conflitos e apoio social — são semelhantes (1). Assim como nas relações heterossexuais, o apoio da família e dos amigos está relacionado à duração e à harmonia do relacionamento (1).
Diferenças entre casais homossexuais e casais heterossexuais também foram encontradas em pesquisas (1). Primeiro, os casais homossexuais são mais propensos do que os casais heterossexuais a negociar os afazeres domésticos de forma mais igualitária (1). Segundo, eles tendem a resolver os conflitos em uma atmosfera mais positiva do que os casais heterossexuais (1). Com relação à dissolução do relacionamento, os casais de lésbicas são mais propensos ao divórcio do que os de homens gays (1).
Coabitação
A coabitação é um estilo de vida cada vez mais comum, no qual um casal não casado envolvido em um relacionamento sexual mora junto (1). A coabitação hoje é mais comum para adultos jovens (18-24 anos) do que o casamento (1). Tem sido visto que pessoas com menos educação formal têm mais propensão a viver em coabitação do que aquelas com educação superior (1). Os casais que vivem em coabitação também tendem a ser menos religiosos, menos tradicionais, a ter menos confiança em seus relacionamentos, a aceitar mais o divórcio, a ser mais negativos e agressivos em suas interações com seus parceiros românticos e a comunicar-se menos eficazmente (1).
Os relacionamentos de coabitação tendem a ser menos satisfatórios e menos estáveis do que os casamentos (1). Em geral, as relações de pior qualidade são relatadas por quem vive em coabitação sem planos de casar ou em relações nas quais um membro deseja se casar e o outro não (1). Outro estressor comum envolve expectativas divergentes sobre a divisão do trabalho doméstico; os casais coabitantes nessa situação são altamente propensos a romper a relação (1). A coabitação após um divórcio é mais comum do que a coabitação pré-conjugal e pode funcionar como uma forma de seleção do parceiro para um novo casamento (1).
Casamento
As coortes mais recentes mostram que mulheres jovens são mais propensas a ter alcançado um nível educacional superior do que as gerações anteriores de mulheres, e, em geral, são mais bem-sucedidas economicamente (1). Para muitos casais, isso altera as dinâmicas do casamento (1). Dentre elas, uma das consequências é que o casamento agora é associado com um aumento na segurança econômica tanto para os homens quanto para as mulheres (1). As crenças religiosas também são uma influência importante. Pessoas religiosas são mais propensas a aprovar o casamento mais cedo, a casar-se mais cedo e a considerar o casamento fundamental para as suas vidas (1).
Significado do Casamento
A maioria dos jovens adultos planeja se casar, mas apenas quando se sentir pronta (1). Eles acreditam que ser financeiramente independentes e estabelecer-se em empregos ou carreiras estáveis são tremendos obstáculos (1). Essa orientação em relação ao casamento inclui cerca de 80% dos jovens adultos e é mais característica daqueles oriundos de ambientes urbanos (1). De fato, a vasta maioria dos adultos nos Estados Unidos hoje considera o propósito primário do casamento como sendo “a felicidade e satisfação mútua dos adultos” mais do que como sendo baseado em parentalidade e filhos (1).
Ingresso no Matrimônio
Atualmente, a maioria da população se casa após os 30 anos de idade (1). Em geral, a média de idade no casamento é maior para os homens do que para as mulheres (1). Em casamentos arranjados, existe uma expectativa muito diferente entre os cônjuges sobre o casamento. Há menos expectativa de intimidade e amor, e responsabilidade e compromisso são enfatizados (1). Entretanto, a despeito dessas variações nas crenças sobre como deveria ser o casamento, os casais em casamentos arranjados parecem igualmente felizes em seus relacionamentos (1). A transição para a vida de casado provoca grandes mudanças em relação ao funcionamento sexual, disposições de vida, direitos e responsabilidades, apegos e fidelidades. Entre outras tarefas, os cônjuges precisam redefinir a ligação com suas famílias originais, equilibrar intimidade com autonomia e estabelecer um relacionamento sexual gratificante (1).
Sexo Depois do Casamento
Estima-se que aproximadamente 20-25% dos casamentos sofrem com a infidelidade, com prevalência anual de 2-4% e auge no verão (1). A atividade extraconjugal é mais prevalente entre os adultos jovens e é mais comum entre os maridos do que entre as esposas (1). Indivíduos com alto grau de neuroticismo e baixo grau de amabilidade e conscienciosidade são mais propensos à infidelidade (1).
Em geral, a atividade extraconjugal ocorre no início do relacionamento; casamentos que duram longos períodos apresentam menor risco (1). Mais da metade daqueles que praticam sexo extraconjugal se divorciam ou se separam de seus parceiros (1). Em 40 países, os adultos concordaram que seria moralmente inaceitável que um adulto tivesse um caso extraconjugal, sendo que a vasta maioria listou a infidelidade como uma transgressão maior do que jogos de azar, homossexualidade, sexo antes do casamento e aborto (1).
Satisfação Conjugal
Pessoas casadas tendem a ser mais felizes do que as não casadas, embora as que estão em casamentos infelizes sejam menos felizes do que as não casadas ou as divorciadas (1). Em geral, maridos e mulheres relatam níveis semelhantes de satisfação conjugal (1). A felicidade conjugal é afetada positivamente pelo aumento dos recursos econômicos, tomada de decisões iguais, atitudes não tradicionais quanto ao gênero e apoio à norma do casamento para a vida inteira; e negativamente afetada pela coabitação antes do casamento, por romances extraconjugais, pelas demandas de emprego e horas de trabalho mais longas das esposas (1).
O aumento das responsabilidades dos maridos no trabalho doméstico pareceu diminuir a satisfação conjugal entre eles, mas melhorou entre as esposas (1). Para a maioria dos casais, o sexo impacta a qualidade do relacionamento (1). Casais casados relatam mais satisfação emocional no sexo do que os solteiros ou os casais coabitantes (1). Mais importante que a quantidade de sexo que o casal casado pratica provavelmente é se ambos desejam ou não níveis semelhantes de atividade sexual (1). A alta discrepância com relação ao desejo por atividades sexuais está associada a maior insatisfação com o relacionamento, menos estabilidade do relacionamento e mais conflito (1).
Um fator subjacente à satisfação conjugal pode ser uma diferença no que o homem e a mulher esperam do casamento (1). As mulheres tendem a dar mais importância à expressividade emocional do que os homens (1). Empatia, validação e cuidado estão relacionados a sentimentos de intimidade e melhor qualidade do relacionamento (1). Os esforços dos homens para expressar emoção positiva a suas esposas, prestar atenção às dinâmicas do relacionamento e reservar um tempo para atividades focadas na construção do relacionamento são importantes para as percepções das mulheres sobre a qualidade do relacionamento (1).
Parentalidade
A idade de uma mulher no primeiro parto varia de acordo com a etnia e cultura, mas foi visto que mulheres brancas geralmente têm seu primeiro filho aos 27,6 anos e mulheres negras aos 24,9 anos (1). Tem sido observado também que uma proporção crescente de casais norte-americanos permanece sem filhos (1). A porcentagem de famílias com filhos caiu de 45% em 1970 para 28,7% em 2016 (1). O envelhecimento da população, tanto quanto o adiamento dos casamentos e da geração de filhos, podem ajudar a explicar esses dados, mas alguns casais permanecem sem filhos por opção (1).
Alguns veem o casamento primeiramente como uma forma de aumentar sua intimidade, não como uma instituição dedicada a gerar e a criar filhos (1). Outros podem ser desencorajados pelos encargos financeiros da parentalidade e pela dificuldade de combinar essa condição com o emprego (1).
Envolvimento dos Pais na Parentalidade
O índice de participação de mães com filhos menores de 6 anos no mercado de trabalho é de 65,1%, um número que sobe para 75,7% quando incluídas mães com filhos de 7 a 17 anos (1). Apesar de trabalharem fora de casa, as mulheres passam mais tempo cuidando dos filhos do que suas contrapartes na década de 1960, quando 60% das crianças viviam com um pai provedor de família e uma mãe dona de casa (1).
Já os pais (genitores masculinos), em geral, não são tão envolvidos quanto as mães. Entretanto, o tempo que os pais passam com os filhos aumentou (1). À medida que os filhos envelhecem, o tempo que os pais passam com seus filhos aos finais de semana se aproxima daquele tempo passado com as mães (1). Além do tempo dedicado a cuidar dos filhos em si, os pais que moram com filhos dependentes também estão menos propensos a se envolver nas suas próprias atividades sociais. Entretanto, eles têm maior probabilidade de estarem envolvidos em atividades relacionadas à escola, a grupos da igreja e a organizações de serviço comunitário (1).
Parentalidade e Satisfação Conjugal
Alguns estudos mostram que a satisfação conjugal normalmente diminui durante os anos de criação dos filhos, e quanto mais filhos maior o declínio (1). Além disso, as mães de crianças pequenas tendem a sentir os efeitos mais do que qualquer um (1). Novos pais provavelmente experimentam estressores que poderiam afetar sua saúde e seu estado mental (1). Tomar conta de recém-nascidos é difícil e muitas vezes envolve privação do sono, incerteza e isolamento (1). O choro noturno, por exemplo, está associado com a queda da satisfação conjugal no primeiro ano de vida do bebê (1).
Se a mulher estava trabalhando fora de casa e agora está em casa, a carga do trabalho doméstico e do cuidado da criança recai principalmente sobre seus ombros (1). Na verdade, a divisão das tarefas domésticas é um problema comum para os novos pais (1). Além disso, muitos casais veem seus relacionamentos tornarem-se mais “tradicionais” após o nascimento de um filho, com a mulher frequentemente envolvida com a carga de cuidar de um filho e da casa (1).
No entanto, outros estudos também encontraram resultados diferentes. Eles não observaram diferenças em satisfação conjugal no primeiro ano de casamento entre casais com e sem filhos (1). Alguns dados indicam que os pais têm maior felicidade, emoções positivas e significado em suas vidas do que os não pais (1). É provável que famílias diferentes respondam de maneiras diferentes ao nascimento de uma criança, e os casais que tinham uma relação saudável antes do nascimento de uma criança consigam se adaptar melhor (1). As famílias coesas, com alta afetuosidade e baixo conflito, apresentavam aumentos em autonomia e intimidade no primeiro ano após o nascimento (1). Por outro lado, sistemas familiares com relações disfuncionais apresentavam exacerbação dos padrões mal-adaptativos com o tempo (1). Outras pesquisas mostram que o fato de o casal ser ou não feliz antes da gravidez, de a gravidez ter sido ou não planejada, a idade dos pais e a relação de apego dos pais afetam a satisfação conjugal após o nascimento de um filho (1). Um bom equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, e a redução subsequente do estresse, também estão associados com uma redução menor da satisfação conjugal após o nascimento de uma criança (1).
Famílias de Renda Dupla
Em geral, combinar trabalho e papéis familiares é bom para a saúde mental e física, tanto dos homens quanto das mulheres, e tem efeitos positivos para a vitalidade do relacionamento (1). Contudo, muitas vezes é difícil equilibrar múltiplos papéis — parceiro, pai e empregado (1).
Os casais que têm trabalhos remunerados podem enfrentar demandas extras de tempo e energia, conflitos entre o trabalho e a família, possível rivalidade entre os cônjuges e ansiedade e complexo de culpa em relação a satisfazer as necessidades dos filhos (1). O papel familiar é mais exigente principalmente para as mulheres quando as crianças são pequenas, e a carreira é mais exigente quando o trabalhador está se estabelecendo ou sendo promovido (1). Assim, os benefícios dos papéis múltiplos dependem de quantos papéis cada parceiro assume, das demandas de tempo de cada papel, do sucesso ou satisfação que os parceiros obtêm de seus papéis e do grau em que os casais mantêm atitudes tradicionais ou não tradicionais a respeito dos papéis de gênero (1).
Para os pais que não conseguem estabelecer um equilíbrio satisfatório entre trabalho e família, pode haver uma avalanche de efeitos negativos. Quanto maior o número de horas trabalhadas, maior o efeito negativo sobre o equilíbrio entre trabalho e família (1). Os efeitos negativos podem transferir-se do trabalho para a família ou da família para o trabalho, embora o estresse do trabalho pareça afetar a vida em um grau maior (1). As mulheres são mais propensas a reduzir o ritmo de trabalho, o que geralmente ocorre nos primeiros anos de criação dos filhos (1). Estudos transculturais sugerem que a relação geral entre o equilíbrio entre trabalho e família e o bem-estar é válida internacionalmente (1). Contudo, os efeitos são mais fortes nas culturas individualistas do que nas coletivistas e nas culturas mais igualitárias em relação aos papéis de gênero (1).
O Fim do Casamento
Nos Estados Unidos, a duração média dos casamentos que terminam em divórcio é de 7 ou 8 anos (1). O divórcio, muito frequentemente, leva a um novo casamento com um novo parceiro e à recomposição de uma família, que inclui filhos biológicos ou adotados por um ou ambos os parceiros antes do casamento atual (1).
Divórcio
As taxas de divórcio variam com a faixa etária analisada (1). A queda mais acentuada na taxa de divórcio ocorreu nas coortes mais jovens (1). Contudo, a taxa de divórcio para adultos com mais de 35 anos dobrou nos últimos 20 anos (1). A educação também é um fator relevante. Mulheres com curso universitário, que anteriormente tinham as opiniões mais permissivas sobre divórcio, tornaram-se mais conservadoras, enquanto mulheres com níveis educacionais mais baixos tornaram-se mais permissivas e, portanto, mais propensas a se divorciar (1). O declínio na taxa de divórcio pode refletir o aumento na coabitação, que, quando termina, não envolve divórcio (1). Além disso, os adolescentes, as pessoas que não concluíram o ensino médio e as pessoas não religiosas têm os índices de divórcio mais elevados (1).
Por Que os Casamentos Fracassam?
As razões mais citadas para o fracasso conjugal são incompatibilidade e falta de apoio emocional (1). Para as mulheres divorciadas mais recentemente e presumivelmente mais jovens, os motivos incluem uma falta de apoio na carreira (1). A agressão do cônjuge estava em terceiro lugar, sugerindo que a violência doméstica pode ser mais frequente do que geralmente se pensa (1). Outros fatores de risco comuns para o divórcio incluem a coabitação pré-conjugal, além de recursos econômicos e o trabalho (1).
Em geral, os casais são mais propensos a permanecer casados quando têm filhos (1). No entanto, em vez de permanecerem juntos “devido aos filhos”, alguns cônjuges concluem que expor os filhos a um contínuo conflito entre os pais causa maiores estragos (1). Divórcio gera mais divórcio (1). Adultos com pais divorciados são mais propensos a esperar que seus casamentos não durem e a se divorciar, eles próprios, do que aqueles cujos pais permaneceram juntos (1).
Adaptando-se ao Divórcio
O divórcio tende a reduzir o bem-estar de longo prazo, principalmente para o parceiro que não o pediu ou que não se casa novamente (1). Especialmente para os homens, o divórcio pode ter efeitos negativos sobre a saúde física ou mental, ou ambas (1). As mulheres têm maior probabilidade do que os homens de experimentar uma redução acentuada nos recursos econômicos e nos padrões de vida após a separação ou divórcio (1). Entretanto, as mulheres em casamentos infelizes se beneficiam mais da dissolução do relacionamento do que os homens em casamentos infelizes (1).
As pessoas que eram — ou pensavam serem — felizes no casamento tendem a reagir mais negativamente e a se adaptar mais lentamente ao divórcio (1). Por outro lado, quando o casamento é altamente conflituoso, seu término pode melhorar o bem-estar a longo prazo (1). Um fator importante no ajuste é o desapego emocional do ex-cônjuge. Pessoas que discutem com seus ex-parceiros sofrem mais (1). Uma vida social ativa, tanto durante quanto depois do divórcio, ajuda (1). Encontrar um novo parceiro, em especial, está associado ao bem-estar após o divórcio (1).
Rede Social
Estudos indicam que o uso de mídias sociais está associado a efeitos negativos sobre o bem-estar, depressão e imagem corporal negativa (1). Porém, outras pesquisas também mostram que as redes sociais oferecem algumas vantagens, como manter e fortalecer laços, maior participação em debates políticos, aumentos na percepção de apoio social, reduções no estresse e na solidão, e melhores resultados na saúde (1).
Algumas pessoas utilizam a comunicação eletrônica para ampliar suas interações com os outros. Esse tipo de uso pode servir para aumentar as conexões com outras pessoas e, assim, promover o bem-estar. Entretanto, algumas pessoas utilizam a comunicação eletrônica como forma de evitar o isolamento social, e nesses casos, as mídias sociais podem estar tomando o lugar das interações presenciais e ter efeitos negativos sobre o bem-estar (1).
Referências Bibliográficas
- Papalia DE, Martorell G. Desenvolvimento Humano. 14. ed. Artmed; 2022. v. 1.