Lipoproteína de Alta Densidade (HDL-C): Papel Fisiológico e Implicações Clínicas
Introdução
A lipoproteína de alta densidade (HDL-C), sintetizada no fígado, é uma partícula complexa composta por colesterol, proteínas e fosfolipídios, fundamental no transporte reverso do colesterol e na modulação do risco cardiovascular.
Definição e Função Fisiológica
O HDL-C, também conhecido como colesterol de lipoproteína de alta densidade, é uma partícula lipoproteica produzida principalmente no fígado. Sua composição inclui predominantemente colesterol, proteínas e fosfolipídios (1). A principal função do HDL-C é o transporte reverso de colesterol, um processo crucial no qual o colesterol é removido dos tecidos periféricos e transportado de volta ao fígado para ser metabolizado e excretado (1). Este mecanismo é vital para a homeostase do colesterol e a prevenção de seu acúmulo nos vasos sanguíneos.
Aplicações em Exames Laboratoriais
Uso Clínico
A dosagem de HDL-C é rotineiramente solicitada como parte do perfil lipídico completo, em conjunto com o colesterol total, LDL-C e triglicerídeos (1). A avaliação desses parâmetros é essencial na determinação do risco de doença cardíaca aterosclerótica e outras condições cardiovasculares (1).
Valores de Referência
Os valores de referência para o HDL-C variam de acordo com a faixa etária:
Pediatria (2-19 anos)
- > 45 mg/dL: Desejável (3)
Adultos
- < 40 mg/dL: Considerado um principal fator de risco para doença cardíaca (1,3).
- 40-59 mg/dL: Reflete um nível intermediário; “quanto mais alto, melhor” (1).
- ≥ 60 mg/dL: Considerado um fator protetor contra a doença cardíaca (1,3).
Fatores que Influenciam os Níveis de HDL-C
Valores Elevados
Concentrações elevadas de HDL-C podem ser observadas em resposta a:
- Atividade física e exercícios regulares (1)
- Perda de peso (1)
- Doença hepática crônica (1)
- Hiperalfalipoproteinemia (1)
- Consumo moderado de etanol (álcool) (1)
- Uso de estrogênios (1)
- Uso de insulina (1)
Valores Diminuídos
Níveis reduzidos de HDL-C estão associados a condições como:
- Diabetes mellitus desregulado (1)
- Insuficiência renal crônica, nefrose, uremia (1)
- Colestase (1)
- Abetalipoproteinemia (1)
- Outras condições metabólicas e genéticas.
Considerações Adicionais para Avaliação
É recomendado que a coleta para o perfil lipídico seja realizada mantendo-se um estado metabólico estável e a dieta habitual do paciente. Um período de jejum de 12 horas não representa o estado metabólico normal do indivíduo (2). Além disso, o jejum não é estritamente necessário para a dosagem de HDL-C, visto que o estado pós-prandial não interfere significativamente na concentração dessa lipoproteína (2).
É importante notar que alterações nos níveis de HDL-C frequentemente se correlacionam com disfunções hepáticas e/ou intestinais. Adicionalmente, em estados inflamatórios crônicos, o HDL pode sofrer modificações estruturais, tornando-se disfuncional. Embora o exame de sangue quantifique o HDL, um HDL disfuncional pode não exercer adequadamente suas funções protetoras, o que sublinha a complexidade da avaliação do risco cardiovascular para além da simples quantificação.
Referências Bibliográficas
- Willimson MA, Snyder LM. Wallach – Interpretação de Exames Laboratoriais. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. 1225 p.
- Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 109, n. 2, supl. 1, p. 1-76, ago. 2017.
- Calixto-Lima L, Reis NT. Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Rubio; 2012. 490 p.