Aspectos Terapêuticos Abrangentes da Maytenus ilicifolia (Espinheira-Santa)


Aspectos Terapêuticos Abrangentes da Maytenus ilicifolia (Espinheira-Santa)


Introdução

A Maytenus ilicifolia, popularmente conhecida como espinheira-santa, tem sido amplamente empregada na medicina tradicional e validada por pesquisas científicas devido às suas notáveis propriedades gastroprotetoras. Este artigo explora os compostos bioativos, mecanismos de ação e recomendações clínicas para o uso das folhas desta planta no tratamento de condições como gastrite e refluxo gastroesofágico.


Aspectos Botânicos e Fitoquímicos

Nomenclatura e Parte Utilizada

A Maytenus ilicifolia é também referida pelos nomes populares cancerosa e cancorosa. Outras espécies do gênero, como Maytenus muelloeri e Maytenus officinalis, também são estudadas. As folhas são a parte da planta utilizada para fins terapêuticos.

Compostos Bioativos

As folhas da espinheira-santa contêm uma vasta gama de compostos bioativos, incluindo:

  • Alcaloides: maitanprina, maitansina, maitanbutina (2)
  • Monoterpenoides (2)
  • Sesquiterpenoides (2)
  • Triterpenoides: friedelina, maitenina (2)
  • Fitoesteróis: campesterol, simiarenol (2)
  • Antocianinas (2)
  • Ácidos fenólicos: ácido clorogênico (2)
  • Taninos (2)
  • Saponinas (2)
  • Resina (2)
  • Mucilagem (2)

Indicações Clínicas e Atividade Farmacológica

Gastrite e Úlcera Péptica

A Maytenus ilicifolia é primariamente indicada para o tratamento de gastrite e úlcera péptica (1, 2). O extrato da planta demonstrou capacidade de reduzir a secreção ácida por inibição da atividade da bomba de prótons, configurando um processo gastroprotetor em casos de hipersecreção ácida (1). Essa atividade foi corroborada por testes com uma fração rica em flavonoides isolados das folhas, que exibiram atividade gastroprotetora ao inibir a enzima H+,K+-ATPase da membrana das células da mucosa gástrica, resultando na redução da produção de ácido e na modulação da formação de óxido nítrico (2).

Adicionalmente, os taninos e terpenoides, especialmente o friedenelol, são identificados como responsáveis por parte dos efeitos protetores da mucosa gástrica (2). Um estudo conduzido pela USP com o chá da planta evidenciou um aumento da proteção da mucosa sem elevação adicional do pH, sugerindo um mecanismo provavelmente relacionado ao incremento da barreira mucosa (2). Este efeito protetor é também atribuído à presença de arabinogalactanas, um tipo de polissacarídeo liberado inclusive em infusões das folhas da espinheira-santa, que, em modelos animais, foi capaz de reduzir lesões ulcerosas (1). Dessa forma, a infusão de espinheira-santa é indicada inclusive para o processo de “desmame” de medicamentos inibidores da bomba de prótons (1).

Algumas pesquisas indicaram que a M. ilicifolia apresenta atividade semelhante à da cimetidina, um medicamento bloqueador dos receptores histamínicos H₂ que inibe o aumento da produção de ácido clorídrico pelas células oxínticas do fundo gástrico, sendo utilizado no tratamento de gastrites (2). A ação do extrato hidroalcoólico de M. robusta em úlceras gástricas induzidas em ratos também foi estudada, revelando efeitos positivos na redução da área ulcerada, com aumento da produção de muco, redução do estresse oxidativo e melhora dos parâmetros inflamatórios, demonstrando seu potencial como fitoterápico (2).


Posologia e Recomendações de Uso

O chá de Maytenus ilicifolia é preparado utilizando as folhas da espinheira-santa, na proporção de 5g por xícara, administrado 3 vezes ao dia.

As dosagens recomendadas para outras formas de apresentação são:

  • Infusão: 5g/xícara, 3 vezes ao dia (2).
  • Planta seca: 3-20g/dia (2).
  • Extrato seco 10:1: 300-600 mg/dia (2).
  • Tintura: 15-30mL/dia (2).

Contraindicações e Precauções

O uso da espinheira-santa é contraindicado ou requer precaução nas seguintes situações:

  • Gestantes (2).
  • Crianças: devido à falta de estudos conclusivos (2).
  • Lactantes: pois pode reduzir a secreção láctea (2).
  • Houve relatos isolados de diarreia (2).

Embora seja citada popularmente como abortiva, estudos em ratos não encontraram efeitos tóxicos ou teratogênicos, nem influência abortiva (2).


Referências Bibliográficas

  1. SILVA, S. M. C. S.; MURA, J. D. P. Tratado de alimentação, nutrição & dietoterapia. 3. ed. São Paulo: Editora Pitaya, 2016. 1308 p.
  2. SAAD, G. A. de; LÉDA, P. H. de O.; SÁ, I. M.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.

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