Medo – Fisiopatologia e Diferenciação Clínica
Introdução
O medo constitui um mecanismo de defesa adaptativo e fundamental para a preservação da integridade do organismo. Esta resposta psicofisiológica atua na preparação do corpo e da mente para o enfrentamento de ameaças, compelindo o indivíduo a manter o estado de alerta diante de possíveis fontes de injúria e a adotar providências imediatas para a evitação ou remoção do perigo. (1)
Espectro Clínico e Etiologia
A manifestação do medo apresenta gradações de intensidade variáveis, oscilando desde estados de inquietude ou preocupação até quadros severos de pânico e terror. O denominador comum nestas apresentações é a percepção da possibilidade de ocorrência de danos, sejam estes de natureza física ou psicológica. (1)
É relevante notar que ameaças geradas internamente — compreendendo cognições e estados afetivos — possuem capacidade de desencadear a resposta de medo, podendo apresentar-se de forma mais aterrorizante do que ameaças externas. Independentemente da origem do estímulo (interna ou externa), as reações fisiológicas e psicológicas desencadeadas são idênticas. (1)
No contexto contemporâneo, observa-se que o medo é predominantemente motivado por ameaças de ordem psicológica. Ressalta-se o papel dos processos cognitivos, visto que a imaginação e a ideação atuam como gatilhos facilitadores para o desencadeamento desta emoção. (1)
Diagnóstico Diferencial: Medo versus Ansiedade
Para a prática clínica, é imperativo estabelecer a distinção entre medo e ansiedade, dadas as suas implicações no manejo do estresse: (1)
- Medo: Caracteriza-se como uma resposta a um estímulo ameaçador identificável e real. Tende a apresentar remissão completa na ausência do agente estressor. (1)
- Ansiedade: Prescinde da presença imediata de um estímulo alarmante. Ocorre por mecanismos antecipatórios diante de um perigo que nem sempre é concreto. Clinicamente, a ansiedade persiste mesmo na ausência de perigo iminente, prolongando e intensificando a resposta ao estresse e acarretando as consequências deletérias associadas a este estado crônico. (1)
Abordagem e Manejo Terapêutico
O manejo adequado dessas condições requer a superação da tendência habitual de esquiva automática dos sentimentos e dos fatores desencadeantes. A estratégia terapêutica envolve a coragem para a aproximação do fenômeno emocional através da aceitação, observação e investigação. (1)
É fundamental que o profissional oriente o paciente a reconhecer o caráter transitório desse estado. A técnica recomendada envolve o redirecionamento da atenção para as sensações somáticas (interocepção), abandonando a narrativa cognitiva ou “história” que o indivíduo tende a construir, cujos pensamentos frequentemente exacerbam a experiência do medo. (1)
Referências Bibliográficas:
1- COSENZA, Ramon M. Neurociência e mindfulness: meditação, equilíbrio emocional e redução do estresse. Porto Alegre: Artmed, 2021.