Melasma: Fisiopatologia, Tratamento e o Papel da Microbiota


Melasma: Fisiopatologia, Tratamento e o Papel da Microbiota


Introdução

O melasma é uma hiperpigmentação cutânea adquirida, caracterizada por máculas assimétricas de coloração marrom, irregulares e reticuladas, que surgem predominantemente em áreas da pele expostas ao sol, especialmente na face (1, 2). Seu manejo é complexo e desafiador devido à propensão a recaídas, mesmo após tratamentos de clareamento bem-sucedidos (1).


Fisiopatologia

A patogênese do melasma ainda não está totalmente elucidada, mas fatores como a exposição crônica aos raios ultravioleta (UV), a estimulação hormonal feminina e a predisposição genética são propostos como elementos cruciais para o desenvolvimento do quadro (1). Atualmente, o melasma é compreendido como uma doença dos melanócitos que exibe características de fotoenvelhecimento (1). Análises histopatológicas demonstram que, além dos melanócitos, componentes dérmicos também estão envolvidos no desenvolvimento do melasma (1). Estima-se que 83-93% dos pacientes com melasma apresentem diferentes graus de elastose solar, um processo de acúmulo de tecidos elásticos anormais na derme devido à exposição solar crônica (1).

Prevalência

Embora o melasma também afete homens, eles representam apenas cerca de 10% do total de casos (2). Entre as mulheres grávidas brasileiras, a prevalência é de 10,7% (2).


Abordagem Terapêutica

Tratamento Convencional

O manejo do melasma é notoriamente desafiador, com alta taxa de recaídas mesmo após o sucesso inicial do clareamento (1).

Terapia Nutricional

A relação entre fatores nutricionais e doenças dermatológicas tem sido pouco estabelecida de forma conclusiva (4).

Microbiota e Probióticos

Recentemente, a influência dos probióticos em diversas desordens dermatológicas tem sido reconhecida. No melasma, sugere-se que os probióticos possam atuar através de seus efeitos anti-inflamatórios, antioxidativos, fornecendo proteção contra os danos ultravioleta e inibindo a atividade da tirosinase (enzima chave na produção de melanina) (2).

Um estudo investigou o uso de um suplemento simbiótico contendo 50 bilhões de Unidades Formadoras de Colônia (UFC), dividido entre seis cepas específicas (Lactococcus lactis, Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei, Bifidobacterium longum, Bifidobacterium infantis, Bifidobacterium bifidum). Administrado um sachê antes de dormir, durante 12 semanas, o estudo observou uma melhora significativa na severidade do melasma, bem como uma melhora nos índices de melanina e eritema (2).

Outros estudos corroboram esses achados:

  • Uma cultura de Bifidobacterium bifidum demonstrou diminuir o número de pigmentos de melanina em ratos de forma dose-dependente (2).
  • A suplementação com Lactobacillus plantarum por 12 semanas foi capaz de promover o clareamento do melasma em pacientes (2).

Soja

Alguns estudos sugerem que a soja pode agravar o quadro de melasma, possivelmente devido aos seus efeitos antiestrogênicos (4).


Conduta Clínica

A abordagem para o melasma deve ser multifacetada, considerando a natureza crônica e multifatorial da doença.

  • Probióticos: A suplementação com cepas específicas, como as mencionadas, pode ser considerada como terapia adjuvante, visando aos efeitos anti-inflamatórios, antioxidativos e à modulação da pigmentação.
  • Tratamento Farmacológico: Envolve o uso de agentes despigmentantes tópicos, como hidroquinona, retinoides e corticosteroides, além de procedimentos como peelings químicos e terapias a laser.
  • Fotoproteção Rigorosa: Essencial para prevenir a exacerbação e as recaídas, dada a influência dos raios UV na patogênese do melasma.
  • Aconselhamento Nutricional: Embora poucos fatores nutricionais estejam diretamente ligados, a atenção à dieta é importante, e a inclusão de alimentos com propriedades antioxidantes pode ser benéfica. A ingestão de soja deve ser avaliada individualmente.
  • Manejo Hormonal: Em casos associados a fatores hormonais (gravidez, uso de contraceptivos orais), a revisão da terapia hormonal pode ser necessária em conjunto com o médico responsável.

Referências Bibliográficas

  1. KWON, S. H. et al. Melasma: Updates and perspectives. Exp Dermatol., v. 28, n. 6, p. 704–708, 2019.
  2. PIYAVATIN, P. et al. Synbiotics supplement is effective for Melasma improvement. J Cosmet Dermatol., v. 20, n. 9, p. 2841–2850, 2021.
  3. MCKESEY, J.; TOVAR-GARZA, A.; PANDYA, A. G. Melasma Treatment: An Evidence-Based Review. Am J Clin Dermatol., v. 21, p. 173–225, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s40257-019-00488-w.
  4. SARDANA, K.; SACHDEVA, S. Role of nutritional supplements in selected dermatological disorders: A review. J Cosmet Dermatol., v. 21, n. 1, p. 85–98, 26 jan. 2022. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jocd.14436.

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