Terapia Cognitivo-Comportamental no Contexto Esportivo: Influência de Crenças e Comportamentos no Desempenho e Aderência Nutricional
Introdução
O modelo cognitivo-comportamental baseia-se na premissa de que nossas reações emocionais, comportamentais e fisiológicas são significativamente influenciadas pela forma como percebemos e interpretamos as situações (1). Essas interpretações, frequentemente denominadas pensamentos disfuncionais, não necessariamente correspondem à realidade objetiva, mas sim à leitura subjetiva moldada pelas crenças e valores individuais (1). Tais padrões de pensamento, ou crenças centrais, permeiam todas as áreas da vida, exercendo um impacto considerável, inclusive na prática esportiva e na aderência a planos nutricionais (1).
O Processo de Distorção Cognitiva
Diante de uma situação, uma crença central é ativada, gerando um pensamento disfuncional (1). Esse pensamento, por sua vez, determina a emoção e o comportamento subsequentes (1). Crenças negativas frequentemente resultam em sofrimento intenso, levando os indivíduos a desenvolverem comportamentos de autoproteção para encobri-las ou compensá-las (1). Embora esses comportamentos possam ter sido funcionais na infância ou adolescência, tornam-se inadequados à medida que o indivíduo amadurece e vivencia novas situações (1).
Existem três grupos principais de crenças negativas que merecem atenção clínica:
- Desamparo: Caracterizado pelo sentimento de incompetência (1).
- Desamor: Crença de não ser merecedor de afeto ou de não ser amado (1).
- Desvalor: Ideia de que não se possui valor, frequentemente ligada a “regras de vida” rígidas (1).
Crenças e Comportamentos em Atletas
No contexto atlético, é comum observar crenças distorcidas que atrelam o valor pessoal ao desempenho, negligenciando ou desvalorizando outros aspectos da vida (1). No ambiente esportivo, o desempenho tem sido cada vez mais vinculado à competência, superioridade, sucesso e aceitação social, tornando-se intrinsecamente associado à autoestima do atleta (1).
Algumas das crenças mais frequentes em atletas incluem:
- Vulnerabilidade: Medo de ameaças futuras, como não atingir o sucesso ou falhar (1).
- Competência: Criação de altas expectativas e um esforço contínuo para manter um padrão de excelência (1).
Padrões de comportamento comumente observados em atletas incluem:
- Autoexigência e autocobrança (1).
- Esquiva/boicote (1).
- Hipervigilância do peso/dieta (1).
- Controle excessivo do desempenho (1).
Estratégias de Intervenção
A intervenção eficaz envolve identificar os padrões de pensamentos (crenças), comportamentos e as “regras de vida” que o atleta utiliza (1). É crucial focar nos pensamentos disfuncionais que distorcem a realidade, causam aflição emocional e/ou interferem na capacidade do atleta de atingir suas metas (1).
É importante, então:
- Incentivar o questionamento desses pensamentos, analisando todas as evidências disponíveis para torná-los mais funcionais (1).
- Ajustar as expectativas para que se aproximem mais da realidade (1).
- Valorizar outros atributos que vão além do desempenho físico, como os valores pessoais do atleta (1).
Adicionalmente, pesquisas indicam que apenas frases positivas não são eficazes (1). O fundamental diante do fracasso é a forma como se interpreta o evento, adotando um pensamento não negativo (1). Para isso, é crucial compreender que as bases do otimismo não se fundamentam em frases motivacionais ou imagens de vitória, mas na maneira como se atribui as causas a uma determinada situação (1).
Por exemplo:
- Otimistas: Entendem as situações de sucesso como mérito próprio, eventos que tendem a persistir e a influenciar positivamente todas as áreas da vida. Situações de insucesso são vistas como transitórias e específicas daquele evento, cujas causas foram provocadas por circunstâncias desfavoráveis (1).
- Pessimistas: Explicam as situações de sucesso como algo passageiro e específico daquela situação, com causas atribuídas a fatores externos. O insucesso, por outro lado, é interpretado como um evento duradouro e abrangente, cuja responsabilidade exclusiva recai sobre eles (1).
Referências Bibliográficas
- HIRSCHBRUCH, M. D. Nutrição Esportiva – Uma Visão Prática. 3. ed. Barueri – SP: Manole, 2014. 496 p.