Morte

A morte e suas implicações:

Kovacs (1992) postula que, embora a apreensão da morte não seja congênita, ela emerge intrinsecamente ao desenvolvimento humano e manifesta-se universalmente. Na senescência, a finitude torna-se mais proeminente, intensificando o temor associado.

A experiência da morte ocorre mediante a perda de indivíduos próximos ou distantes (familiares, amigos, conhecidos, colegas, figuras de destaque ou pacientes). Diversas etiologias podem subjazer a essa perda, incluindo eventos traumáticos, violência interpessoal, condições patológicas congênitas ou adquiridas, toxicodependência ou insuficiência orgânica relacionada à idade.

Diante da ocorrência da morte, Kovacs (1992) assinala a emergência da dor, deflagrando o processo de luto. Nesse contexto, crianças também processam suas perdas ao perceberem alterações no comportamento dos adultos, expressando-as através de choro e desespero, seguido por um processo de conformação semelhante ao dos adultos.

A autora ainda descreve que, apesar da compreensão racional em contrário, adultos frequentemente atribuem a responsabilidade emocional pela morte de outrem a si mesmos ou a terceiros, motivados por diversas razões, experimentando sentimentos de culpa e remorso. Essa reação pode estar vinculada à dificuldade na aceitação da perda.

Luto e suas fases:

Parkes (1998, p.24) define o luto como uma resposta à perda, especificando que esse processo se vincula à ausência de indivíduos com laços afetivos significativos, e não à perda de objetos. A perda de um ente querido é considerada intrínseca à condição humana, e a elaboração do luto ocorre em distintos momentos, auxiliando o indivíduo na reorganização psíquica e na ressignificação da existência.

As manifestações mais proeminentes no luto incluem episódios intensos de sofrimento profundo, ansiedade e dor psíquica. Tais manifestações podem surgir nas primeiras horas ou dias subsequentes ao óbito e podem apresentar recorrência, sendo deflagradas por estímulos que remetem à dor da perda.

A característica distintiva do luto reside em episódios agudos de dor, acompanhados por intensa nostalgia e sofrimento psíquico, e não primariamente por um quadro de depressão profunda.

O processo de luto possui natureza universal, e sua vivência se manifesta de maneiras diversas. A expressão da dor não segue padrões específicos, podendo variar desde o choro até o riso, do conformismo à negação e da angústia à raiva.

De acordo com a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross (1969), o processo de luto pode ser categorizado em cinco estágios distintos:

  1. Negação: o indivíduo pode desenvolver um mecanismo de defesa psíquico com o objetivo de evitar a vivência da situação dolorosa presente. Essa esquiva manifesta-se na tentativa de não confrontar o problema, seja ele decorrente da perda de um ente querido, de um vínculo empregatício, de um relacionamento interpessoal ou de outra natureza. Adicionalmente, é uma reação comum a relutância em discutir o evento ocorrido.
  2. Raiva: com a diminuição da sustentação da negação, o indivíduo pode apresentar um sentimento de revolta direcionado ao ambiente, a entidades religiosas ou a sistemas de crenças. Essa reação emerge da percepção do enlutado de que não houve intervenção para impedir a ocorrência da perda, acompanhada pela inconformidade diante da situação vivenciada.
  3. Barganha: o indivíduo inicia um processo de negociação, primeiramente internalizado e, subsequentemente, direcionado a entidades religiosas ou crenças pessoais. Nesse estágio, podem surgir promessas de autoaprimoramento em troca da resolução da situação vivenciada.
  4. Depressão: o indivíduo tende ao isolamento, apresentando um estado de melancolia e retraimento para o seu universo interior, acompanhado por um sentimento de impotência frente à situação.
  5. Aceitação: o indivíduo cessa o estado de desespero, reconhecendo a irreversibilidade da situação. A realidade é percebida com maior clareza, e o indivíduo inicia uma preparação para a continuidade da vida, apesar da perda.

Diversos autores subscrevem a compreensão dessas fases no processo de luto. Contudo, algumas críticas emergem, notadamente em relação à linearidade da progressão, uma vez que a ocorrência dessas fases pode não seguir a sequência proposta.

Outro teórico que oferece perspectivas sobre a experiência do luto é John Bowlby.

  • Fase do choque: na perspectiva de Bowlby, a fase inicial do luto é caracterizada pelo choque, durante o qual o indivíduo pode manifestar raiva e desespero, expressando sentimentos intensos. Nesse momento, a presença de suporte é considerada de extrema importância.
  • Fase da busca: na segunda fase delineada por Bowlby, inicia-se uma procura pela pessoa que se perdeu. Este processo é caracterizado pela coexistência de sentimentos ambivalentes, como a esperança de um reencontro confrontada pela realidade da ausência. Consequentemente, nesta etapa, pode-se observar a emergência da raiva, concomitantemente a sentimentos de responsabilidade e frustração.
  • Fase do desespero: a terceira fase, na concepção de Bowlby, oscila entre a desestruturação e o desespero, marcando o reconhecimento definitivo da perda do ente querido. Nesse período, podem ocorrer comportamentos paradoxais, como o descarte de objetos que evocam a memória da pessoa falecida, ao mesmo tempo em que se preservam itens associados a recordações positivas. Tais reações refletem a ambivalência característica das fases mais tardias do processo de luto.
  • Fase de reorganização: na fase final, conforme a descrição de Bowlby, o indivíduo inicia a aceitação da perda e o processo de adaptação a uma nova realidade. Frequentemente, essa nova etapa da vida implica o desenvolvimento de novas estratégias para a resolução de problemas e situações anteriormente sob a responsabilidade do ente perdido. Embora a saudade e as lembranças possam persistir, esses processos integram a reestruturação psíquica e a elaboração do luto.

Luto patológico:

A morte, embora inerente ao ciclo vital, desencadeia reações emocionais e um processo de luto distintos quando ocorre de maneira violenta ou por suicídio, interrompendo abruptamente a existência do indivíduo.

Nessa perspectiva, Kovacs (1992) assinala que óbitos de ocorrência súbita tendem a potencializar a desorganização psíquica, a ruptura e a sensação de invalidez diante da brusca quebra do vínculo. Esse rompimento inesperado pode precipitar o desenvolvimento de um luto patológico.

A vivência do luto manifesta-se através de um espectro diversificado de expressões, que abrange desde o sorriso ao choro, da aceitação à negação, da angústia à raiva. Os sentimentos e as emoções podem revelar distintas formas de demonstrar a experiência subjetiva diante da notícia trágica do falecimento de uma pessoa próxima.

Identificação do luto patológico:

Alguns aspectos clínicos podem ser identificados na avaliação do processo de luto:

Um padrão de luto abrupto e intenso pode manifestar-se tardiamente, somente após meses da notificação do óbito, com manifestações prévias escassas ou ausentes. Caracteriza-se como desorganização aguda a persistência de sintomas como choro contínuo, angústia profunda, raiva constante, culpabilização e autorrecriminação decorridas três a seis semanas após a comunicação da perda.

A persistência de demonstrações de sofrimento e a ausência de resolução do luto após um ano da perda podem ser observadas através de intensa saudade, dificuldade em relaxar e repousar, e tensão contínua.

Conforme previamente definido, o luto tipicamente representa a reação à perda de uma pessoa, objeto ou significado relevante para o indivíduo, sendo considerado uma experiência esperada. Entretanto, em algumas situações, observa-se a ocorrência de melancolia em substituição ao processo de luto.