Neuropatia Diabética: Compreensão, Diagnóstico e Manejo Clínico
Introdução
A neuropatia diabética é uma complicação crônica e progressiva do Diabetes Mellitus, caracterizada por danos aos nervos periféricos. Embora afetando uma parcela significativa de pacientes diabéticos, sua apresentação clínica pode variar desde a ausência de sintomas até quadros graves que comprometem a qualidade de vida e aumentam o risco de complicações sérias.
Epidemiologia
A neuropatia diabética apresenta uma prevalência elevada, afetando aproximadamente 50% dos indivíduos com Diabetes Mellitus em todo o mundo (1). Contudo, a maioria desses pacientes permanece assintomática (1). Um estudo conduzido no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto encontrou uma prevalência de 51% de neuropatia entre indivíduos com diabetes tipo 2, um achado consistente com a literatura internacional (1).
Fisiopatologia e Causas
A neuropatia diabética é uma complicação progressiva que acomete os nervos periféricos (sensitivos, motores e autonômicos) de forma ascendente (1). Ela se inicia tipicamente pelos dedos dos pés e progride, ao longo do tempo, para tornozelos, pernas, joelhos, coxas, mãos, genitais e abdome, culminando em problemas na comunicação entre o cérebro e outros órgãos (1).
- Nervos Sensitivos: São os mais frequentemente acometidos, responsáveis por transmitir informações dos órgãos para o cérebro (1).
- Nervos Motores: Levam informações do cérebro para os músculos e são afetados mais tardiamente (1).
- Nervos Autonômicos: Controlam as funções involuntárias do corpo, como pressão arterial, produção de suor, temperatura corporal, evacuação e ereção (1).
A principal causa da neuropatia diabética é o excesso de glicose no sangue (hiperglicemia crônica), que provoca estresse ou disfunção mitocondrial nos nervos, resultando em sua “inflamação” (1). Os nervos são estruturas ricas em mitocôndrias, e o excesso de açúcar é tóxico para essas organelas, tornando-as lentas e sobrecarregadas (1).
Além dos fatores glicêmicos, existem fatores não glicêmicos que são relevantes, especialmente em indivíduos com diabetes tipo 2 e pré-diabetes. Estes incluem (1):
- Obesidade visceral
- Hipertrigliceridemia
- Hipertensão arterial
- Tabagismo
- Alcoolismo
- Idade avançada
Diagnóstico
O diagnóstico da neuropatia diabética não deve se basear exclusivamente nas queixas dos pacientes (1). Geralmente, não há necessidade de exames invasivos e dolorosos, como a eletroneuromiografia (1).
É recomendada a utilização do Escore de Comprometimento Neuropático (ECN), um exame que pode ser realizado em consultório e consiste em testar as sensibilidades térmicas, dolorosas e vibratórias nos pés, além do reflexo no tendão de Aquiles (1).
Na prática, são necessárias duas condições para o diagnóstico de neuropatia diabética (1):
- Haver pelo menos dois testes alterados entre os descritos no ECN.
- Excluir outras condições que podem causar neuropatia, tais como: hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12, alcoolismo, hepatite, câncer, hérnia de disco, doenças da medula espinhal, uso de drogas neurotóxicas e quimioterápicos.
Sintomas
A maioria dos pacientes com neuropatia (cerca de 60%) é assintomática ou apresenta apenas perda da sensibilidade ao tato, à dor, ao frio e ao calor (conhecida como anestesia da sola dos pés) (1). Com o tempo (após 10 a 20 anos), pode evoluir para o quadro de pé diabético, caracterizado por úlceras ou infecções nos pés devido à neuropatia grave e avançada (1).
Os sintomas podem ser classificados em três tipos (1):
- Sintomas Sensitivos: Manifestam-se precocemente, incluindo dores nos pés tipo queimação, formigamentos, sensações de facadas, agulhadas e frio doloroso (1). Esses sintomas tendem a piorar à noite e com o repouso, e melhoram com caminhadas, ao contrário das dores causadas por artrites, tendinites ou hérnia de disco, que melhoram com o repouso (1).
- Sintomas Motores: São mais tardios e caracterizados por perda de força muscular nos pés e pernas, quedas e dificuldade para andar nos calcanhares ou na ponta dos pés, indicando neuropatia grave (1).
- Sintomas Autonômicos: Podem acompanhar os sintomas sensitivos, mas frequentemente passam despercebidos por anos (1). Os mais frequentes incluem: pés ressecados (fissuras e calos), alterações dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, tonturas ao levantar, palpitações, fraqueza e cansaço ao realizar atividades físicas, além de prisão de ventre, diarreia, incontinência urinária e problemas na função sexual (1).
Conduta Clínica
O manejo da neuropatia diabética envolve uma abordagem multifacetada para controlar a progressão da doença e aliviar os sintomas:
- Controle Rigoroso de Fatores de Risco: É fundamental o controle estrito da glicemia, pressão arterial, excesso de peso e níveis de triglicerídeos (1).
- Manejo Sintomático: Utilização de medicações para alívio da dor, insônia, ansiedade ou depressão (1).
- Suplementação e Reabilitação: Avaliar a necessidade de reposição de vitaminas e orientar a prática de fisioterapia e exercícios físicos (1).
Referências Bibliográficas
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diabetes Magazine. 5. ed. [S. l.]: [s. n.], 2023. v. 3.