Guaraná (Paullinia cupana): Propriedades Farmacológicas e Aplicações Clínicas


Guaraná (Paullinia cupana): Propriedades Farmacológicas e Aplicações Clínicas


Introdução

O guaraná (Paullinia cupana) é uma planta nativa da Amazônia, cujas sementes são amplamente reconhecidas por suas propriedades estimulantes e por seu uso tradicional e moderno em diversas aplicações terapêuticas. Rico em metilxantinas e outros compostos bioativos, o guaraná tem sido investigado por seus potenciais benefícios na fadiga, desempenho cognitivo, câncer e síndrome metabólica.


Nome Científico e Popular

  • Nome Científico: Paullinia cupana
  • Nome Popular: Guaraná

Parte Utilizada

A parte da planta utilizada para fins terapêuticos são as sementes.


Principais Compostos Bioativos

O guaraná é quimicamente complexo, contendo diversos compostos, incluindo:

  • Óleos fixos (1)
  • Óleo essencial (1)
  • Amido (1)
  • Taninos (1)
  • Proantocianidinas (1)
  • Alcaloides do grupo xantina: Notavelmente cafeína (2-7,5%), teobromina e teofilina (1).
  • Saponinas (1)
  • Alantoína (1)

Efeitos Fisiológicos no Organismo e Indicações

Ação Estimulante

O principal princípio ativo responsável pelos efeitos estimulantes do guaraná é a cafeína (1). Devido ao seu conteúdo rico em metilxantinas, o guaraná é capaz de bloquear os receptores de adenosina e inibir a fosfodiesterase (1). Essas ações aumentam as ações da norepinefrina e estimulam a liberação de epinefrina de seus estoques (1).

Em humanos, os efeitos estimulantes do guaraná são atribuídos ao seu significativo teor de cafeína, bem como a outros constituintes, como taninos e saponinas, que podem exercer atividades psicoativas (1). Isso resulta na melhora do desempenho cognitivo e na redução da fadiga mental (1). É descrito que a cafeína no guaraná está ligada aos taninos, o que confere a ele um efeito estimulante mais duradouro em comparação ao café (1). Essas ações provocam um aumento dos batimentos cardíacos e relaxamento dos vasos sanguíneos musculares (1).

Efeito Diurético

Devido ao seu teor de metilxantinas, o guaraná é capaz de bloquear os receptores de adenosina e inibir a fosfodiesterase (1). Essas ações, que aumentam as ações da norepinefrina e estimulam a liberação de epinefrina de seus estoques, provocam um aumento da diurese (1).

Quimioproteção e Câncer

O guaraná demonstrou potencial na quimioproteção, reduzindo a proliferação de células pré-neoplásicas (1). Um estudo administrou extrato seco de Paullinia cupana a pacientes em quimioterapia (50 mg 2x ao dia) e radioterapia para câncer de mama (75 mg/dia). O estudo demonstrou uma melhora significativa na fadiga física e mental, com praticamente nenhum efeito colateral (1). Esses resultados foram associados à presença das metilxantinas que agem bloqueando a ação da adenosina endógena (1).

Manejo de Fogachos

Em um estudo prospectivo de fase II, o extrato de Paullinia cupana (contendo 7,97% de cafeína e 1,47% de tanino) foi administrado por via oral a mulheres em tratamento de câncer de mama que sofriam com fogachos (1). O estudo demonstrou que os sintomas foram reduzidos tanto em frequência quanto em intensidade (1).

Síndrome Metabólica

Um estudo revelou que indivíduos que utilizavam guaraná habitualmente apresentaram menor prevalência de hipertensão arterial, obesidade e síndrome metabólica em comparação com aqueles que não o utilizavam (1).

Desempenho esportivo:

Alguns estudos apoiam a melhora do desempenho cognitivo em torno do exercício com ingestão ou enxágue bucal de preparações multi-ingredientes contendo 112 a 300 mg de guaraná por porção. (2)

Devido ao seu teor de cafeína, o guaraná pode aumentar a oxidação de gordura, aumentando potencialmente a utilização de combustível durante atividades agudas. No entanto, faltam evidências desse efeito em humanos. (2)


Posologia

As posologias sugeridas para o guaraná variam de acordo com a forma de apresentação:

  • Infusão ou decocção a 5%: 50-200 mL/dia (1).
  • : 2 a 10 g/dia (1).
  • Extrato seco: 100-300 mg/dia (1).
  • Extrato (padronizado): 15-70 mg de metilxantinas expressas em cafeína (de acordo com a RDC 26/2014) (1).

Contraindicações, Precauções e Toxicidade

A segurança do guaraná está amplamente relacionada à sua contribuição para a dose cumulativa de cafeína. (2)

O uso de guaraná requer cautela em certas populações e condições:

  • Grávidas e lactantes: A cafeína atravessa a placenta e chega ao leite materno. A ingestão deve ser limitada a um máximo de 300 mg/dia de cafeína (1).
  • Hipertensão arterial grave (1)
  • Arritmias (1)
  • Hipertireoidismo (1)
  • Gastrite, úlcera, Síndrome do Intestino Irritável (SII) (1)
  • Cirrose hepática (1)

Referências Bibliográficas

  1. SAAD, G. de A.; LÉDA, P. H. de O.; SÁ, I. M.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.
  2. JAGIM, A. R. et al. International Society of Sports Nutrition position stand: energy drinks and energy shots. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 20, n. 1, p. 2171314, 2023.

Deixe um comentário0