O Papel dos Pensamentos Automáticos na Cognição e no Comportamento


O Papel dos Pensamentos Automáticos na Cognição e no Comportamento


Introdução

Os pensamentos automáticos representam interpretações espontâneas e rápidas de situações, influenciando diretamente as respostas emocionais, comportamentais e fisiológicas dos indivíduos.


Pensamentos Automáticos e Sua Influência

O modelo cognitivo postula que a interpretação de uma situação, expressa por meio de pensamentos automáticos ou imagens mentais, é o que modula a emoção, o comportamento e a resposta fisiológica de um indivíduo, e não a situação em si. Embora certos eventos, como agressão pessoal ou rejeição, sejam inerentemente perturbadores para a maioria das pessoas, indivíduos com transtornos psicológicos frequentemente exibem um viés de pensamento, percebendo as situações de maneira consideravelmente mais negativa do que a realidade. (1)

Os pensamentos automáticos disfuncionais distorcem a realidade, levando a reações emocionais e/ou fisiológicas desadaptativas. Consequentemente, geram comportamentos ineficazes e podem comprometer o bem-estar do paciente, além de dificultar o alcance de seus objetivos. (1)

Esses pensamentos são predominantemente negativos, exceto em cenários específicos, como em casos de mania ou hipomania (“É uma ótima ideia ver como meu carro pode correr”), traços narcisistas (“Sou superior a todos”), ou quando o indivíduo busca uma auto-permissão para comportamentos mal-adaptativos (“Tudo bem beber demais porque todos os meus amigos estão fazendo a mesma coisa”). (1)

Os pensamentos automáticos são, em geral, transitórios. O paciente frequentemente tem maior consciência da emoção resultante de seus pensamentos do que dos próprios pensamentos. Por exemplo, ele pode estar ciente de sentir ansiedade, tristeza, irritação ou vergonha, mas pode não identificar os pensamentos automáticos subjacentes até que sejam ativamente eliciados. (1)

A maioria dos pensamentos automáticos está vinculada a situações externas (e.g., interações sociais) ou a um fluxo de pensamentos (e.g., reflexões sobre eventos futuros ou passados). Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tradicional, o foco recai sobre as situações problemáticas da semana anterior, investigando os momentos de maior angústia e os pensamentos automáticos associados. Em uma abordagem voltada para a recuperação, a ênfase é deslocada para os pensamentos que o paciente antecipa como obstáculos para o progresso em direção aos seus objetivos na semana subsequente. (1)

Os pensamentos automáticos coexistem com um fluxo de pensamentos mais manifestos, surgem espontaneamente e não são resultado de reflexão deliberada. Eles estão intrinsecamente ligados a emoções específicas, variando de acordo com seu conteúdo e significado. A identificação, avaliação e resposta adaptativa aos pensamentos automáticos são passos cruciais que frequentemente resultam em mudanças positivas no afeto e/ou comportamento do paciente. (1)


Identificação de Pensamentos Automáticos

A identificação de pensamentos automáticos é fundamental. As perguntas essenciais a serem formuladas quando o paciente descreve uma situação, emoção, comportamento ou reação fisiológica problemática (seja vivenciada na semana anterior ou esperada na semana seguinte), ou quando há uma mudança negativa no afeto ou um comportamento desadaptativo durante a sessão, incluem: (1)

  • “O que (está/estava/estará) passando pela sua mente?”
  • “O que você (está/estava/estará) pensando?”

Ensinando o Paciente a Identificar os Pensamentos

Para capacitar o paciente a reconhecer seus próprios pensamentos, as seguintes questões podem ser úteis: (1)

  • “O que está passando pela minha mente? O que estou pensando?”
  • “O que definitivamente não estou pensando?”
  • “O que essa situação significa para mim?”
  • “Estou fazendo uma previsão ou relembrando algo?”

Formas de Apresentação do Pensamento Automático

Os pensamentos automáticos se manifestam predominantemente de forma verbal. Contudo, podem também surgir como imagens mentais. Em alguns casos, o paciente não verbaliza seus pensamentos automáticos de forma completa. Eles podem expressar suas interpretações de experiências, incorporar pensamentos automáticos no discurso cotidiano, usar frases curtas ou relatar pensamentos automáticos na forma de perguntas. (1)


Especificando os Pensamentos Automáticos

É crucial que os pacientes aprendam a especificar as palavras exatas que lhes vêm à mente para que possam avaliá-las eficazmente. Exemplos de como expressões implícitas podem ser clarificadas em pensamentos automáticos reais incluem: (1)

Expressões ImplícitasPensamentos Automáticos Reais
“Acho que eu estava preocupada com o que ela ia me dizer.”“Ela vai me criticar.”
“Não sei se ir falar com o chefe não seria uma perda de tempo.”“Provavelmente vai ser uma perda de tempo se eu for.”

É essencial que o paciente identifique as palavras reais que passaram pela sua mente para uma intervenção eficaz. (1)


Dificuldades na Identificação dos Pensamentos Automáticos

Em certas situações, o paciente pode não conseguir responder à pergunta “O que está passando pela sua mente?”. Nesses casos, algumas técnicas podem ser empregadas para auxiliar na identificação:

  • Intensifique a resposta do paciente: Encoraje o paciente a aprofundar a descrição de suas emoções e sensações. (1)
  • Visualize a situação estressante: Solicite que o paciente recrie mentalmente a cena estressora. (1)
  • Dramatização: Se a situação envolver outra pessoa, sugira uma encenação com o terapeuta. (1)
  • Investigue as imagens: Explore quaisquer imagens mentais que surjam durante a descrição da situação. (1)
  • Ofereça pensamentos opostos: Sugira pensamentos que o terapeuta acredita serem contrários aos que o paciente possa estar tendo. (1)
  • Questione o significado da situação: Aprofunde a compreensão do paciente sobre o que a situação significa para ele. (1)

Referências Bibliográficas

  1. BECK, J. S. Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022.