O Desenvolvimento da Personalidade ao Longo do Ciclo Vital: Abordagens e Teorias de Traços
Introdução
A compreensão da personalidade humana tem sido um campo fértil para diversas abordagens teóricas na psicologia. Aqueles que consideram o ciclo vital como um todo defendem que a personalidade é um constructo dinâmico que se desenvolve e se molda ao longo de toda a existência do indivíduo. Essa perspectiva contrasta com visões mais restritivas que limitam a formação da personalidade a períodos específicos da vida.
Desenvolvimento da Personalidade ao Longo do Ciclo Vital
Erik Erikson e os Estágios Psicossociais
Um dos principais precursores da teoria do desenvolvimento da personalidade ao longo do ciclo vital foi Erik Erikson. Ele dividiu o desenvolvimento da personalidade em oito estágios psicossociais (1), distanciando-se do foco predominantemente biológico de outras teorias. Para Erikson, cada fase apresenta um conflito (crise psicossocial) com potencial para uma adaptação tanto positiva quanto negativa (1). O desfecho desses conflitos, influenciado por fatores genéticos e ambientais, é determinante para a constituição da personalidade (1).
Os oito estágios psicossociais são (1):
- Confiança vs. Desconfiança
- Autonomia vs. Dúvida e Vergonha
- Iniciativa vs. Culpa
- Diligência vs. Inferioridade
- Identidade vs. Confusão de Papéis
- Intimidade vs. Isolamento
- Generatividade vs. Estagnação
- Integridade do Ego vs. Desespero
Se a adaptação em cada estágio for positiva, desenvolvem-se forças básicas igualmente positivas, como esperança, vontade, propósito, competência, fidelidade, amor, cuidado e sabedoria (1).
Gordon Allport e a Singularidade da Personalidade
Em consonância com a ideia de desenvolvimento ao longo do ciclo vital, Gordon Allport consolidou o estudo dos aspectos psicológicos do indivíduo (1). Para Allport, cada pessoa é um “todo único” e sua personalidade é individual, mesmo que apresente aspectos semelhantes aos de outros indivíduos (1). Dessa forma, os traços que nos tornam únicos explicam tanto a motivação para determinados comportamentos quanto as diferenças observadas entre os indivíduos (1).
Henry Murray e a Personologia
No mesmo sentido de Allport, Henry Murray defendia o estudo da pessoa e de sua personalidade na totalidade (1). Ele denominou seu estudo de “personologia”, cujos principais conceitos giram em torno da ideia de que possuímos 20 necessidades psicogênicas básicas (1). Essas necessidades interagem com as situações ambientais, que funcionam como oportunidades ou obstáculos (1). A percepção subjetiva da situação e sua natureza objetiva interagem para organizar a vida do indivíduo (1).
Estudo da Personalidade a Partir dos Fatores Traços
A abordagem dos traços concentra-se na identificação e mensuração de características estáveis que compõem a personalidade.
Raymond Cattell e as Categorias de Traços
Raymond Cattell foi um precursor do estudo da personalidade a partir dos fatores traços (1). Para ele, a característica predominante da personalidade é a capacidade de previsão de comportamentos a partir de seu entendimento (1). Cattell propôs diversas categorias de traços (1):
- Dinâmicos: Instigam o indivíduo a realizar um plano de ação.
- De Habilidade: Relacionados ao senso de autoeficácia.
- De Temperamento: Associados à velocidade, reatividade e energia emocional.
Hans Eysenck e os Três Fatores Amplos
Além de Cattell, Hans Eysenck cunhou uma classificação da personalidade composta por três traços amplos (1):
- Extroversão-Introversão: Varia da sociabilidade e impulsividade à quietude e introspecção.
- Neuroticismo-Estabilidade Emocional: Reflete a tendência a experimentar emoções negativas (ansiedade, depressão) ou a ser calmo e equilibrado.
- Psicoticismo-Controle de Impulso: Abrange tendências à agressividade, impulsividade e não conformidade social, em oposição ao controle e conformidade.
Eysenck defendia que esses traços ou fatores estavam presentes na personalidade de todos os indivíduos, e que a personalidade era definida pelo nível e pela expressão singular de cada traço (1).
O Modelo dos “Big Five”
Mais tarde, surgiu a teoria do “Big Five” (Cinco Grandes Fatores), que propõe cinco dimensões universais na constituição da personalidade humana (1):
- Neuroticismo: Tendência à instabilidade emocional, ansiedade e depressão.
- Extroversão: Sociabilidade, assertividade e busca por estimulação.
- Abertura à Experiência: Curiosidade, imaginação e apreciação pela variedade.
- Amabilidade (ou Afabilidade): Cooperação, empatia e cordialidade.
- Conscienciosidade: Organização, responsabilidade e disciplina.
Referências Bibliográficas
- SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. Teorias da Personalidade. 4. ed. CENGAGE, 2021.