Peumus boldus: Propriedades Farmacológicas e Aplicações Clínicas no Trato Gastrointestinal e Hepático


Peumus boldus: Propriedades Farmacológicas e Aplicações Clínicas no Trato Gastrointestinal e Hepático


Introdução

O Peumus boldus, popularmente conhecido como boldo, é uma planta amplamente empregada na medicina tradicional, especialmente por suas ações no sistema gastrointestinal e hepático. Seus compostos bioativos conferem-lhe propriedades coleréticas, antioxidantes e gastroprotetoras, tornando-o um importante recurso terapêutico no manejo de diversas condições.


Nomenclatura e Morfologia

O nome botânico da planta é Peumus boldus Molina, e é comumente conhecido como Boldo verdadeiro ou simplesmente Boldo. A parte utilizada para fins terapêuticos são as folhas (1).


Compostos Bioativos

As folhas do boldo são ricas em uma variedade de compostos bioativos, incluindo:

  • Alcaloides: Boldina, isocoridina, isoboldina, glaucina, entre outros (1, 2). A boldina é o alcaloide mais estudado e considerado o principal responsável por muitas de suas ações farmacológicas.
  • Flavonoides: Ramnetina, isorramentina, kaempferol, entre outros (2).
  • Óleo essencial: Contém p-cimeno, ascaridol, 1,8-cineol, linalol, entre outros (2).
  • Resinas (2).
  • Taninos (2).
  • Cumarinas (2).

Principais Indicações e Efeitos Farmacológicos

O Peumus boldus é indicado para diversas condições, principalmente aquelas que afetam o sistema digestório e hepático:

  • Indigestão (2).
  • Hepatite (2).
  • Litíase biliar (cálculos biliares) (2).
  • Colecistite (inflamação da vesícula biliar) (2).
  • Náuseas e vômitos (2).
  • Constipação intestinal (2).

Litíase Biliar e Colecistite

A atividade colerética do boldo, que estimula o fígado a produzir bile, é atribuída aos seus alcaloides, sendo a boldina o principal responsável por essa ação (2).

Efeito Antioxidante

A ação antioxidante da boldina ocorre pela restauração de enzimas antioxidantes, incluindo a atuação mitocondrial no aumento da superóxido dismutase dependente de manganês (MnSOD) no fígado e pâncreas (1). Além disso, a boldina demonstrou capacidade de sequestrar radicais hidroxila e peroxila em ratos (2).

Efeito Hepatoprotetor

A infusão das folhas de boldo contém diversos compostos fenólicos que, em conjunto com a boldina, exercem ação hepatoprotetora contra xenobióticos. Isso ocorre por sua atuação nas fases de desintoxicação hepática e pela diminuição do processo de peroxidação lipídica (1). Em estudos com ratos, foi observada a capacidade do boldo de proteger o fígado de danos provocados por tetracloreto de carbono (2).

Efeito Gastroprotetor

A ação gastroprotetora do boldo no estômago deve-se à presença de catequinas, que demonstram potente atividade antiurease e antiaderência da bactéria Helicobacter pylori. Portanto, as folhas de boldo exibem uma ação gastroprotetora, especificamente contra o câncer de estômago (1).

Constipação Intestinal

Estudos em animais tratados com boldo apresentaram relaxamento e melhora do trânsito intestinal (2). Sugere-se que a boldina seja responsável por esse efeito, visto que já demonstrou atividade relaxante da musculatura lisa (2).


Posologia e Produtos Disponíveis

Posologia

As formas e doses recomendadas para o uso do Peumus boldus são:

  • Planta seca: 2 a 5 g/dia (2).
  • : 2 a 10 g/dia (2).
  • Infusão: 2 a 5 g/dia (2).
  • Tintura (1:5, etanol 80% v/v): 10 a 20 mL/dia (2).
  • Extrato fluido (etanol 80% v/v): 1 a 2 mL/dia (2).
  • Extrato Seco (4:1): 400 mg/dia (2).

Extratos Disponíveis no Mercado Brasileiro

Existem no mercado brasileiro extratos secos de Peumus boldus padronizados em 0,10% a 0,15% de boldina (2).


Contraindicações e Toxicidade

Contraindicações

O uso do boldo é contraindicado nas seguintes situações:

  • Obstrução das vias biliares (2).
  • Gestantes (2).
  • Durante a infância e lactação (2).
  • O óleo essencial de boldo não deve ser utilizado (2).

Toxicidade

A boldina em doses elevadas é tóxica e pode causar efeitos narcóticos ou convulsivantes (2).


Referências Bibliográficas

  1. SILVA, S. M. C. S.; MURA, J. D. P. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia. 3. ed. São Paulo: Editora Pitaya; 2016. p. 1308.
  2. SAAD, G. de A. et al. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. p. 441.

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