Piper methysticum (Kava): Aspectos e Aplicações Terapêuticas


Piper methysticum (Kava): Aspectos e Aplicações Terapêuticas


Introdução

A Piper methysticum, popularmente conhecida como kava, é uma planta valorizada por suas propriedades ansiolíticas e sedativas. Este documento detalha seus compostos bioativos, mecanismos de ação, indicações clínicas, posologia e importantes contraindicações, fornecendo informações essenciais para profissionais de saúde.


Aspectos Botânicos e Fitoquímicos

Nomenclatura e Parte Utilizada

A Piper methysticum é comumente referida como kava ou pimenta embriagante. A raiz é a parte da planta utilizada para fins terapêuticos (1).

Compostos Bioativos

A raiz da kava é rica em diversos compostos, sendo as kavalactonas (ou kavapironas) as mais estudadas e responsáveis pelos seus efeitos farmacológicos. Outros componentes incluem:

  • Resina: contendo kavalactonas e kavapironas.
  • Flavonoides.
  • Saponinas.
  • Mucilagem.
  • Óleo essencial.
  • Alcaloides.
  • Glicosídeos.

Ações Farmacológicas e Indicações Clínicas

Ansiedade e Sono

As kavalactonas exercem seus efeitos terapêuticos através de múltiplos mecanismos, incluindo a ligação aos receptores GABA e benzodiazepínicos (1). Dentre os mecanismos de ação atribuídos, destacam-se:

  • Modulação dos receptores GABA pelo bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem no cérebro, o que resulta na redução da excitabilidade neuronal (1).
  • Diminuição da liberação de neurotransmissores excitatórios por meio do bloqueio dos canais de cálcio (1).
  • Intensificação da ligação dos receptores GABAa(1).

Outros efeitos observados incluem a inibição reversível da monoamina oxidase B e da ciclo-oxigenase, além da redução da recaptação neuronal da dopamina e norepinefrina no córtex pré-frontal (1). Ao estimular os receptores GABAa, as kavapironas promovem a redução da excitabilidade do sistema límbico e o relaxamento muscular, contribuindo para sua atividade depressora do sistema nervoso central e analgésica (1).

Estudos clínicos suportam a eficácia da kava no tratamento da ansiedade e problemas de sono. Uma pesquisa indicou a redução da ansiedade após 4-12 semanas de tratamento com o extrato de P. methysticum em dosagens equivalentes a 60-240 mg de kavalactonas/dia (1). Outros estudos também demonstraram a eficácia dessa espécie no tratamento de ansiedade, tensão e agitação (1). Um trabalho com 75 pacientes com transtorno de ansiedade generalizada tratados por 6 semanas com extrato aquoso da kava (120-240 mg de kavalactonas/dia) revelou uma melhora moderada dos sintomas de ansiedade no grupo que utilizou o extrato em comparação com o placebo (1).


Posologia e Biodisponibilidade

Posologia

É crucial enfatizar que a kava é uma planta de prescrição médica exclusiva no Brasil, devido a regulamentações específicas (ver legislação vigente).

As dosagens recomendadas são:

  • Planta seca: 1,5-4g/dia (1).
  • Extrato seco padronizado (30% de kavalactonas): 200-400 mg/dia (1).
  • Extrato do rizoma: 60-210 mg de kavalactonas/dia (1).

Devido à grande variação na concentração de kavalactonas (3-20%) na planta, recomenda-se o uso de extratos padronizados para garantir a segurança e eficácia terapêutica (1).

Biodisponibilidade

Alguns estudos demonstraram que as kavalactonas, quando administradas por via oral na forma de extrato, são absorvidas mais rapidamente e atingem maior concentração no sistema nervoso central em comparação com as kavalactonas isoladas (1).


Contraindicações, Precauções e Toxicidade

A Piper methysticum possui importantes contraindicações e requer precauções devido a potenciais efeitos adversos:

  • Gestação e lactação (1).
  • Hepatopatias (doenças hepáticas) (1).
  • Alcoolismo (1).
  • Uso concomitante de drogas hepatotóxicas (1).
  • Pode ocasionar toxicidade hepática (1).
  • Atua no sistema citocromo P450, podendo gerar interações medicamentosas significativas (1).

Referências Bibliográficas

  1. SAAD, G. A. de; LÉDA, P. H. de O.; SÁ, I. M.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.

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