Avaliação da Composição Corporal por Pregas Cutâneas: Técnicas e Considerações Clínicas
Introdução
A mensuração das pregas cutâneas é um método amplamente empregado na avaliação da composição corporal, permitindo estimar o percentual de gordura subcutânea e, consequentemente, a gordura corporal total. Para garantir a acurácia e a reprodutibilidade dos resultados, é imperativo seguir rigorosamente as técnicas padronizadas e considerar as variáveis que podem influenciar as medidas.
Locais de Mensuração e Técnicas Específicas
As mensurações das pregas cutâneas são realizadas em locais anatômicos específicos, geralmente no lado direito do corpo, com o indivíduo em posição ortostática (1). Recomenda-se um mínimo de duas a três mensurações em ordem de rodízio em cada local, utilizando a média dos valores como representativa da prega cutânea (1).
Dobra Tricipital
Localizada verticalmente na face posterior do braço, com o membro relaxado e estendido ao longo do corpo (2).
- Identifique e marque os acidentes ósseos: o ponto mais lateral da margem superior do acrômio e o ponto mais superior da margem lateral da cabeça do rádio (2).
- Utilize uma fita métrica para encontrar o ponto médio entre esses dois pontos (2).
- Passe a fita ao redor do braço e trace uma linha horizontal na margem superior da fita, que delimita o local da medida (2).
Dobra Bicipital
Localizada na parte anterior do braço, utilizando os mesmos acidentes ósseos da dobra tricipital para encontrar o ponto médio (2).
- Com o indivíduo em posição anatômica, solicite uma pequena rotação externa na articulação do ombro para facilitar o acesso (2).
- A marcação é feita na parte anterior do braço, no ponto médio previamente identificado (2).
Dobra Subescapular
Para essa medida, que é um excelente preditor de massa adiposa e amplamente utilizada em protocolos (2):
- Palpe a escápula até localizar o ângulo inferior (2).
- A partir desse ponto, meça 2 centímetros para baixo e à direita (em uma diagonal de 45º externa) (2).
- A dobra e o plicômetro devem ser posicionados obliquamente (2). Uma técnica que facilita a visualização é traçar uma linha de 3 cm a partir do ângulo ósseo e marcar o local da medida no segundo centímetro (2).
Dobra Axilar
Menos utilizada devido à dificuldade de acesso, especialmente em mulheres, e não inclusa no protocolo ISAK (2).
- Localize o processo xifoide e trace uma linha horizontal até a linha axilar (2).
- A dobra deve ser destacada verticalmente no ponto de interseção das retas axilar e xifoide (2).
- Posicione o plicômetro 1 cm abaixo do ponto marcado (2).
- Para facilitar, peça ao indivíduo para apoiar o braço direito em seu ombro (2).
Dobra Supra ilíaca (Crista Ilíaca ou Ilíaca)
- Identifique e demarque a margem superior do ílio (tuberosidade ilíaca) (2).
- A dobra deve ser feita 3 cm acima dessa marcação, alinhada com o eixo axilar e seguindo o sentido da crista ilíaca (2).
- Para facilitar, solicite ao indivíduo que cruze os braços à frente do corpo ou apoie o braço no ombro (2).
Dobra Supraespinal
- Localize o ponto de interseção entre uma linha imaginária que conecta a espinha ilíaca à prega axilar anterior e o eixo horizontal que passa pela margem superior da crista ilíaca (normalmente coincide com a cicatriz umbilical) (2).
- Após marcar a região, solicite que o indivíduo mantenha os braços estendidos ao longo do corpo e forme a prega em sentido oblíquo interno (45º) (2).
Dobra Abdominal
Considerada a medida que melhor prediz o tecido adiposo, estando presente em quase todos os protocolos (2).
- O pinçamento deve ser vertical para evitar interferências da adaptação do tecido adiposo devido à posição sentada ou uso de vestimentas (2).
- A medida é realizada na região mesogástrica, no lado direito da cicatriz umbilical, a 5 cm de distância dessa referência (2).
- A mensuração deve ser feita após uma expiração normal (2).
Dobra da Coxa
- Com o indivíduo sentado e a perna fletida a 90º, identifique o ponto médio entre a prega inguinal e a margem superior da patela (2).
- O pinçamento deve ser vertical, no sentido longitudinal do fêmur (2).
- Durante a mensuração, o indivíduo deve permanecer sentado na borda do banco, com o membro inferior direito relaxado e estendido, mantendo o calcanhar em contato com o solo (2).
Dobra da Panturrilha
Pouco utilizada em protocolos, esta dobra é destacada verticalmente na face medial da panturrilha (2).
- Localize o ponto de maior volume do membro e faça uma marcação horizontal na margem superior da fita (2).
- Em seguida, localize o ponto mais medial da região e defina o sentido da dobra (2).
- Solicite ao indivíduo que posicione a perna direita à frente, sob o banco, formando um ângulo de 90º com o joelho (2).
- A dobra deve ser tomada no sentido longitudinal da tíbia (2).
Considerações Específicas na Mensuração de Pregas Cutâneas
Pregas Cutâneas e Idade
Em adultos jovens, aproximadamente 50% da gordura corporal total corresponde à gordura subcutânea; o restante é composto por gordura visceral e orgânica (1). Com o envelhecimento, há uma redistribuição da gordura, com maior deposição interna em proporção aos tecidos subcutâneos (1). Por essa razão, em indivíduos mais idosos, recomenda-se o uso de equações generalizadas ajustadas para a idade, que preveem a gordura corporal a partir de pregas cutâneas ou circunferências (1).
Pregas Cutâneas em Indivíduos Obesos
A mensuração da espessura da prega cutânea em indivíduos com obesidade extrema pode ser uma fonte de erro, pois a espessura da dobra pode exceder a largura dos ramos do compasso (1). Nesses casos, é mais recomendado utilizar a medição de circunferências ou outros métodos de avaliação da composição corporal, como a bioimpedância (1).
Equações de Predição
As equações de predição de gordura corporal são mais exatas para indivíduos que apresentam características semelhantes (idade, sexo, estado de treinamento, adiposidade e raça) ao grupo no qual foram desenvolvidas (1). Quando esses critérios são respeitados, a gordura corporal estimada para um indivíduo geralmente apresenta uma variação de 3-5% em relação aos valores obtidos por pesagem hidrostática (1). Contudo, muitos profissionais optam por trabalhar diretamente com os valores brutos das dobras, sem convertê-los em percentuais (3).
Inflamação
Em avaliações iniciais, especialmente em pacientes com hábitos alimentares inadequados, é comum observar uma “inflamação” na dobra, que pode se manifestar como edema e aumento da sensibilidade dolorosa. Nesses casos, a dobra pode apresentar uma consistência mais “dura” ao tato.
Observações Relevantes
Para garantir a consistência e reprodutibilidade dos resultados, é ideal que as mensurações das dobras cutâneas sejam sempre realizadas pela mesma pessoa (3). Quando obtidas corretamente, as dobras cutâneas demonstram forte correlação com a pesagem hidrostática, com um erro padrão de 3% a 4% (3).
Referências Bibliográficas
- MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício – Nutrição, Energia e Desempenho Humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 1059 p.
- LOPES, A. L.; PETROSKI, C. A.; RIBEIRO, G. dos S. Antropometria Aplicada à Saúde e ao Desempenho Esportivo. 2. ed. Porto Alegre: Geben, 2018. 185 p.
- JEUKENDRUP, A. E.; GLEESON, M. Nutrição no Esporte – Diretrizes Nutricionais e Bioquímica e Fisiologia do Exercício. 3. ed. São Paulo: Manole, 2021. 559 p.