Raiva – Fisiopatologia e Manejo Clínico das emoções
Introdução
A raiva constitui uma resposta emocional filogeneticamente determinada, cuja função primária consiste na mobilização de recursos para a remoção de obstáculos identificados pelo indivíduo. Este mecanismo afetivo atua como um catalisador para a modificação de circunstâncias avaliadas como aversivas, nocivas ou impeditivas ao atendimento das necessidades básicas, manifestando-se em variados espectros de intensidade clínica.
Dinâmica Comportamental e Impacto Social
Embora integre a herança biológica humana, servindo como um sinalizador de irregularidades que demandam intervenção, a raiva é classificada como uma emoção de manejo complexo e potencialmente perigosa. Sua natureza impulsiona o sujeito a remover ou atacar a causa do obstáculo percebido, o que frequentemente resulta em prejuízos significativos nas interações sociais. (1)
Adicionalmente, a expressão desregulada desta emoção tende a evocar reações recíprocas em outros indivíduos, favorecendo uma escalada do conflito ou a expansão da hostilidade. Observa-se, com frequência, o fenômeno do deslocamento, no qual a agressividade é redirecionada para terceiros ou objetos neutros quando a descarga no agente causador original é inviabilizada. (1)
Expressão, Supressão e Consequências Secundárias
Do ponto de vista terapêutico, é fundamental distinguir a raiva construtiva da destrutiva. A vertente construtiva deve ser direcionada, sempre que viável, ao ato de injustiça ou agravo, e não à integridade do perpetrador. (1)
Contrariando o senso comum, não existem evidências científicas que corroboram a crença de que a “explosão raivosa” (catarse agressiva) promova um estado de calma subsequente. Entretanto, a simples inibição ou supressão da resposta emocional também não se configura como a estratégia mais adequada. O manejo inadequado pode precipitar o surgimento de emoções secundárias, como culpa, vergonha ou frustração. (1)
Estratégias de Regulação Emocional
A eficácia na regulação da raiva é diretamente proporcional à precocidade de sua identificação. Quanto mais cedo se detecta a manifestação emocional ou sua iminência, maiores as probabilidades de um controle eficiente. (1)
Para este fim, recomenda-se o direcionamento da atenção aos fenômenos interoceptivos (manifestações somáticas). Esta prática auxilia na familiarização com a sintomatologia física da raiva e desvia o foco cognitivo de pensamentos ruminativos que poderiam intensificar ou prolongar o estado emocional. (1)
A abordagem deve priorizar uma postura de observação, reconhecendo a raiva como um processo transitório em curso. É crucial evitar a fusão cognitiva com a emoção ou a ação impulsiva. O objetivo é desenvolver a capacidade de constatar a presença da raiva no organismo sem que o indivíduo se defina por ela ou se confunda com a emoção presente. Nesse contexto de regulação, práticas como a caminhada meditativa demonstram ser estratégias adjuvantes eficazes. (1)
Referências Bibliográficas:
1- COSENZA, Ramon M. Neurociência e mindfulness: meditação, equilíbrio emocional e redução do estresse. Porto Alegre: Artmed, 2021.