Resveratrol: Propriedades, Indicação Clínica e Implicações para a Saúde
Introdução
O resveratrol (trans-3,5,4-trihidroxiistilbeno) é um polifenol de defesa encontrado em várias plantas, mas principalmente nas cascas da uva vermelha (1). Nas uvas, o resveratrol concentra-se na casca, com baixíssima concentração na polpa da fruta, geralmente variando entre 50-100 mcg/g (1). As uvas mais abundantes em resveratrol são Vitis vinifera no vinho Merlot, e V. labrusca e V. muscadine no vinho tipo Moscatel (1).
Composição e Absorção
Nas uvas, a concentração de resveratrol aumenta durante a fermentação na presença da casca, mas essa quantidade é dependente da variedade da uva e das condições enológicas (1). Sua extração da casca pode ser facilitada pelo etanol produzido durante o processo de fermentação (1). O resveratrol está relacionado à luz UV-B, sendo esta responsável pelo aumento das enzimas que geram a biossíntese de flavonoides, os quais podem proteger a uva da injúria por raios UV, prevenindo o dano ao material genético da planta (1).
Em seres humanos, o resveratrol é rapidamente absorvido, e suas concentrações podem ser detectadas no plasma e na urina após administração oral (1). Estudos sugerem que o trans-resveratrol pode ser absorvido do suco de uva em quantidades biologicamente ativas e em concentrações efetivas para a redução do risco de aterosclerose (1).
Indicação Clínica e Implicações para a Saúde
O resveratrol tem sido amplamente estudado por seus potenciais benefícios em diversas condições de saúde.
Diabetes
O resveratrol parece exercer um papel hipoglicêmico, resultante de uma ação aumentada do transportador de glicose na membrana citoplasmática (1). No diabetes, o resveratrol afeta a secreção de insulina e, consequentemente, suas concentrações no sangue (1). Dentre os mecanismos propostos, existe a influência nas vias metabólicas AMPK e SIRT1, com possível aumento da biogênese mitocondrial e ação da PPAR-γ coativador 1-α (PGC-1α) (1).
Obesidade
Em estudos sobre obesidade, o resveratrol tem sido relatado na redução do peso corporal e da adiposidade (1).
Câncer
O resveratrol tem a capacidade de interferir em alguns tipos de câncer, como os de mama, próstata, pulmão, cólon, estômago e ovário (1). Quando administrado em pequenas doses, associado a quimioterápicos, ele reduz os efeitos tóxicos dos quimioterápicos sobre as células normais, melhorando a eficácia do tratamento (1). Alguns estudos sugerem que o resveratrol diminui as citocinas inflamatórias dos macrófagos alveolares, o que leva à crença de que fumantes que consomem vinho tinto teriam menos chances de desenvolver câncer de pulmão (1).
Dislipidemia
O resveratrol diminui os níveis de lipídios no soro sanguíneo e a agregação plaquetária, aumenta o HDL, ajuda a remover o colesterol LDL e pode prevenir a obstrução das artérias (1).
Desempenho Físico
O resveratrol foi identificado como um potente ativador da biogênese mitocondrial no músculo esquelético em ratos (2). Embora exista um crescente suporte para os benefícios do resveratrol no remodelamento muscular em humanos, a suplementação de resveratrol pode prejudicar as adaptações do exercício físico, impedindo seus benefícios (2). Até o momento, não houve resultados positivos consistentes em humanos em relação à suplementação de resveratrol com o remodelamento do músculo esquelético (2).
Conduta Clínica e Recomendações
Suplementação Nutricional
- Dosagem usual: 50mg a 200mg por dia.
Recomendações Nutricionais (Vinho)
Para alcançar o máximo de benefícios do resveratrol, o vinho deve ser consumido junto às refeições (1). O ácido cinâmico presente no vinho estimula a vesícula biliar a descarregar uma quantidade maior de bile no intestino delgado, melhorando e aumentando a digestão das gorduras (1). Além disso, o alimento retarda a absorção do álcool, o que, por sua vez, melhora a absorção do resveratrol, permitindo que os dois atuem sinergicamente (1).
Segurança
Apesar de existirem inúmeros estudos que comprovem a eficácia do resveratrol no tratamento de diversas doenças, ainda não há um consenso em relação ao consumo diário de vinho, visto que o álcool pode gerar dependência (1).
Referências Bibliográficas
- PHILIPPI, S. T.; PIMENTEL, C. V. de M. B.; ELIAS, M. F. Alimentos Funcionais e Compostos Bioativos. 1. ed. São Paulo: Manole, 2019. 893 p.
- CLOSE, G. L. et al. New strategies in sport nutrition to increase exercise performance. Free Radic Biol Med, v. 98, p. 144–158, 2016.