Otimização Terapêutica com Rosmarinus officinalis L.: Evidências e Aplicações Clínicas


Otimização Terapêutica com Rosmarinus officinalis L.: Evidências e Aplicações Clínicas


Introdução

O Rosmarinus officinalis L., popularmente conhecido como alecrim, é uma planta aromática amplamente utilizada em diversas culturas por suas propriedades medicinais. Este documento explora as indicações clínicas, a composição fitoquímica, a posologia, a segurança e as contraindicações do Rosmarinus officinalis L., com foco em suas aplicações terapêuticas baseadas em evidências científicas.


Aspectos Botânicos e Farmacêuticos

O Rosmarinus officinalis L., da família Lamiaceae, é conhecido botanicamente como Rosmarinus officinalis L. A parte da planta utilizada para fins terapêuticos são suas folhas (Folium Rosmarini).


Posologia e Formas de Administração

A posologia do Rosmarinus officinalis L. varia conforme a forma de apresentação:

  • Chá: A dose recomendada é de 2 a 4 g/dia (3).
  • Extrato Fluido (1:1 etanol 45% v/v): A dosagem indicada é de 1,5 a 3 mL/dia (3).
  • Tintura (1:5, 70% etanol): Recomenda-se de 3 a 8,5 mL/dia (3).
  • Óleo Essencial (2% v/v, em etanol): Utilizado como antisséptico (3).
  • Extrato Líquido (ou equivalente em cápsula): A dose usual é de 2 a 4,5 mL/dia para a proporção 1:2 (3).

É importante notar que, para se obter efeitos terapêuticos significativos, a concentração dos princípios ativos na planta inteira exige grandes volumes de consumo. Por essa razão, a extração de seus componentes é frequentemente necessária (1). Atualmente, a literatura não descreve estudos clínicos em humanos, limitando o uso para essa população (1,2).


Produtos Disponíveis no Mercado

Existem produtos comerciais, como o extrato seco de Rosmarinus officinalis padronizado para conter 1% de ácido rosmarínico (3).


Segurança e Contraindicações

O uso de Rosmarinus officinalis L. requer precauções. A administração crônica ou em doses elevadas pode induzir irritação renal (3). É contraindicado em pacientes com afecções prostáticas, gastroenterites e dermatoses generalizadas (3). Seu uso não é recomendado em crianças menores de 3 anos (3) e em gestantes, devido à ausência de dados de segurança (3,4). Além disso, pacientes hipertensos não devem utilizar o alecrim (4).


Indicações Clínicas

As principais indicações terapêuticas do Rosmarinus officinalis L. incluem:

  • Hepatopatias (3)
  • Colecistites crônicas (3)
  • Flatulências (3)
  • Edema associado a hepatopatias (com ação diurética) (3)
  • Cólicas menstruais e abdominais (3)
  • Tônico geral, especialmente em casos de convalescença (3)
  • Irregularidades menstruais (3)
  • Artroses (para aplicação tópica) (3)
  • Proteção neurológica (3)
  • Prevenção do câncer (3)
  • Ansiedade (3)
  • Alterações da glicemia (3)
  • Favorecimento da transpiração (4)

Propriedades Farmacológicas

Propriedade Anti-Câncer

Os efeitos protetores do Rosmarinus officinalis L. são atribuídos principalmente às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que atuam na eliminação de radicais livres e na proteção contra o dano oxidativo causado por espécies reativas de oxigênio (ROS) (1,2,3). Estudos demonstram efeitos antiproliferativos em células tumorais (CA e CS), através da desestabilização da membrana mitocondrial, culminando na liberação de proteínas pró-apoptóticas no citoplasma e promovendo a morte celular (1,2).

Observou-se que o ácido carnósico (CA) foi capaz de reduzir a fosforilação da via Akt, que está envolvida na proliferação, crescimento e sobrevivência de células cancerígenas. Essa redução pode induzir a morte celular por apoptose (1). Não está totalmente elucidado se os efeitos observados são resultantes de polifenóis específicos ou da ação combinada de todos eles (2). O ácido cafeico e seu derivado, o ácido rosmarínico, têm sido os compostos mais estudados (3). Além disso, foram notados níveis séricos reduzidos de insulina, receptor de insulina, leptina, IGF-1, bem como diminuição da atividade da ERK e da expressão de ciclina D1 e Bcl-xL, proteínas associadas à regulação da sobrevivência celular (3).

Propriedade Anti-inflamatória

A ação anti-inflamatória do Rosmarinus officinalis L. tem sido predominantemente investigada em relação ao ácido cafeico e seu derivado, o ácido rosmarínico (3). Mecanismos propostos incluem:

  • Ativação do PPARγ (1).
  • Redução da produção de óxido nítrico (NO) estimulada por lipopolissacarídeos (1).
  • Inibição da secreção de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α, IL-1β e IL-6 (1,2).

Efeitos na Composição Corporal

Diferentes extratos de Rosmarinus officinalis L. foram capazes de diminuir o peso corporal, colesterol e triglicerídeos em roedores (1).

Efeitos Neurológicos

Os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios estão entre os mecanismos mais relevantes para os efeitos neurológicos do Rosmarinus officinalis L. (1). O ácido carnósico (CA) e o carnosol (CS) demonstraram ser protetores pela redução de ROS, via ativação da via Keap1/Nrf2 (1).

Efeito Hepatoprotetor

O ácido carnósico (CA) foi o composto mais eficaz nesse processo (1). Além da redução do peso, observou-se uma diminuição nos níveis de ALT, AST, glicose, insulina, peso do fígado, triglicerídeos (TG) e ácidos graxos livres (AGL) (1). O extrato aquoso da planta exibiu atividade protetora para os hepatócitos (3).

Ansiedade

O óleo essencial de Rosmarinus officinalis L. é empregado na aromaterapia para o tratamento da ansiedade (3).

Atividade Inotrópica Positiva e Circulação

Experimentalmente, o alecrim demonstra atividade inotrópica positiva, estimulando a força de contração cardíaca e melhorando o fluxo sanguíneo (3). Adicionalmente, seu flavonoide diosmina reduz a fragilidade capilar, aumentando a irrigação periférica e favorecendo a oxigenação dos tecidos (4).

Efeito no Metabolismo Glicêmico

Soluções alcoólicas de Rosmarinus officinalis L. apresentaram atividade hipoglicêmica e anti-hiperglicêmica, possivelmente devido a múltiplos mecanismos pancreáticos e extrapancreáticos (3).

Efeito Antiespasmódico e Digestivo

O Rosmarinus officinalis L. demonstra capacidade de reduzir a formação de gases e auxiliar na eliminação do acúmulo de gorduras, através do aumento da secreção biliar (3,4).


Biodisponibilidade e Composição

É crucial considerar o método de obtenção do extrato para evitar a concentração de compostos indesejados (1). Apesar da baixa biodisponibilidade, a microbiota intestinal possui a capacidade de gerar metabólitos potencialmente mais potentes do que os compostos estudados (2). Extratos à base de metanol demonstraram maior eficácia na produção de efeitos terapêuticos (2).

Principais Compostos

Os principais grupos de compostos presentes no alecrim incluem (1,2,3):

  • Flavonoides, com destaque para o ácido rosmarínico (RA).
  • Diterpenoides amargos, como o carnosol (CS) e o ácido carnósico (CA).
  • Triterpenoides.
  • Óleo essencial.

Referências Bibliográficas

  1. SÁNCHEZ-CAMARGO, A. del P.; HERRERO, M. Rosemary (Rosmarinus officinalis) as a functional ingredient: recent scientific evidence. Current Opinion in Food Science, v. 14, p. 13-19, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.cofs.2016.12.003.
  2. MOORE, J.; YOUSEF, M.; TSIANI, E. Anticancer effects of rosemary (Rosmarinus officinalis L.) extract and rosemary extract polyphenols. Nutrients, v. 8, 2016.
  3. SAAD, G. de A.; LÉDA, P. H. de O.; SÁ, I. M.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.
  4. HIRSCHBRUCH, M. D. Nutrição Esportiva – Uma Visão Prática. 3. ed. Barueri – SP: Manole, 2014. 496 p.

Deixe um comentário0