Saúde Vocal: Nutrição e Cuidados Essenciais
Introdução
A saúde vocal é essencial para a comunicação e para diversas profissões. A manutenção da voz em condições ideais envolve uma série de práticas, entre as quais a higiene vocal, que inclui aspectos nutricionais e de hidratação. O objetivo é prevenir disfonias e lesões nos tecidos e mucosas dos órgãos fonoarticulatórios.
Higiene Vocal: Componentes e Objetivos
A higiene vocal compreende um conjunto de normas básicas que visam promover o bem-estar vocal e aprimorar a eficácia comunicativa, minimizando o risco de lesões nos tecidos e na mucosa dos órgãos fonoarticulatórios (1). Dentre os componentes essenciais de um programa de higiene vocal, destacam-se a hidratação adequada, o controle do refluxo gastroesofágico e considerações sobre aspectos dietéticos ideais (1).
Benefícios da Alimentação para a Voz
A alimentação adequada oferece diversos benefícios para a saúde vocal. Ela pode reduzir o atrito entre as pregas vocais, melhorar a vibração da mucosa e estimular a mastigação, o que indiretamente auxilia a fonação (1).
Malefícios da Alimentação para a Voz
Em contrapartida, certos hábitos alimentares podem ser prejudiciais à produção vocal. Isso ocorre por meio do efeito anestésico provocado por alguns alimentos, pela redução da movimentação do diafragma e pela promoção do refluxo gastroesofágico (1).
Alimentos que induzem a sensação de anestesia podem levar ao abuso vocal, resultando na utilização inadequada da voz e, a longo prazo, em alterações vocais (1). Outros alimentos podem aumentar a secreção mucosa, prejudicando a vibração das pregas vocais e alterando seu movimento muco-ondulatório (1).
Recomendações Nutricionais Específicas
Hidratação
A hidratação adequada é fundamental para o desempenho vocal, sendo a água o principal contribuinte para este fim (1). Em cantores profissionais, a dissipação de calor e o aumento da fricção das cordas vocais, devido ao tempo prolongado de fonação, podem resultar em alterações na composição dos fluidos do mecanismo vocal (2). Essa alteração pode levar à rigidez e diminuição da viscosidade das cordas vocais, resultando em maior esforço para o movimento e fadiga (2).
A água atua como lubrificante e amortecedor nas cordas vocais, minimizando os danos causados pelo abuso ou mau uso da voz (2). A hidratação da laringe oferece proteção adicional contra o atrito da fonação, reduzindo a irritação da mucosa, pois absorve os choques entre as pregas vocais, atenuando os efeitos do mau uso ou abuso vocal (1).
Estudos prévios já demonstraram que o descanso vocal associado à hidratação pode ser uma estratégia eficaz para restaurar as funções vocais e melhorar a qualidade da voz (2). Uma pesquisa específica indicou que a ingestão de 250 mL de água a cada 30 minutos de canto foi benéfica para a qualidade e saúde vocal (2). A hidratação adequada também resultou em um aumento na frequência máxima, ampliando o alcance da voz (2).
Fibras
Alimentos ricos em fibras promovem uma mastigação mais vigorosa e com maior amplitude de movimento, o que auxilia na abertura da boca e no treinamento da musculatura facial, consequentemente aprimorando a articulação dos fonemas (1).
A pectina, uma fibra solúvel amplamente distribuída na parede celular de frutas e vegetais, contribui para a higienização da cavidade oral, melhorando a ressonância vocal (1). Frutas como banana-prata, caqui, manga, mamão, pera, pêssego, goiaba e ameixa são ricas em pectina e, portanto, recomendadas para a saúde vocal (1). No entanto, não existem estudos específicos que comprovem seus benefícios de forma tão robusta quanto para a maçã e frutas cítricas (1).
Adstringência
Os taninos condensados são responsáveis pela característica adstringente de alguns frutos. A interação desses taninos com as proteínas salivares estimula a salivação (1). Além da maçã, o salsão e o aipo também apresentam essa característica adstringente (1).
Frutas Cítricas
As frutas cítricas são indicadas por estimularem a salivação, o que melhora a lubrificação do trato vocal (1). A estimulação salivar promove um maior número de deglutições, contribuindo para o relaxamento da musculatura da laringe (1). Sucos naturais, especialmente os de laranja e limão, auxiliam na absorção do excesso de secreção mucosa. Contudo, sua ingestão não é aconselhável para indivíduos que apresentam refluxo gastroesofágico (1).
Maçã
A maçã possui propriedades adstringentes que diminuem a secreção da mucosa, além de contribuir para a hidratação (1). Seu consumo auxilia na produção vocal, não apenas por sua propriedade adstringente, mas também por promover a melhora da articulação e da ressonância através dos movimentos vigorosos da mastigação, que exercitam a musculatura da boca e mandíbula (1). A maçã, como outras frutas cítricas, contém pectina, uma fibra solúvel que promove a higienização da cavidade oral, melhorando a ressonância vocal (1).
Mel e Limão
O mel pode atuar como um lubrificante das caixas de ressonância, devido à presença de diversos compostos bioativos e enzimas com atividade antioxidante e antibacteriana (1). Alguns autores relatam que o mel, especialmente quando associado ao limão, cria boas condições para a produção vocal (1). No entanto, alguns indivíduos relatam alterações na viscosidade da saliva após a ingestão de mel, o que o torna contraindicado antes do uso intenso da voz (1).
Própolis
A própolis oferece ação anti-inflamatória e atua como lubrificante da boca e da faringe (1).
Alimentos e Bebidas a Serem Evitados
Alimentos Gordurosos e Condimentados
Alimentos gordurosos e condimentados podem prejudicar a produção vocal ao lentificar a digestão, o que dificulta a movimentação do diafragma (músculo crucial na respiração e produção vocal) (1).
Bebidas Alcoólicas
As bebidas alcoólicas atuam como irritantes da laringe e promovem um efeito anestésico, que pode reduzir a sensibilidade e mascarar possíveis alterações vocais (1). Além disso, causam irritação na mucosa das pregas vocais (1). As bebidas destiladas, como uísque, cachaça e conhaque, são consideradas as mais agressoras ao trato vocal e são especialmente contraindicadas para profissionais da voz (1). O consumo de álcool também pode levar a um descontrole na atividade muscular da laringe, afetando o controle de ajustes finos de intensidade (fraca ou forte) e frequência (agudo ou grave) da voz (1).
Balas, Pastilhas e Sprays
Assim como as bebidas alcoólicas, balas e pastilhas podem mascarar o esforço vocal, levando o indivíduo a abusar da voz e, consequentemente, prejudicando ainda mais a mucosa do trato vocal (1).
Bebidas Gasosas
As bebidas gasosas devem ser evitadas, pois os gases podem permanecer no estômago, favorecendo a distensão gástrica. Isso dificulta a movimentação do diafragma, limitando a excursão respiratória e alterando a produção vocal (1).
Lácteos
Leite e derivados podem aumentar a secreção da mucosa no trato vocal, dificultando a vibração das pregas vocais e prejudicando a ressonância vocal (1). Por essa razão, é aconselhável evitá-los antes do desempenho profissional (1). Esses alimentos podem tornar a saliva mais espessa, provocando pigarro e dificultando a propagação do som através do trato vocal (1). Em indivíduos saudáveis, recomenda-se evitar o consumo apenas antes de atividades vocais intensas (1).
Suplementação Nutricional para Reabilitação Vocal
A suplementação de alguns nutrientes pode ser benéfica na reabilitação vocal:
Coenzima Q10 (CoQ10)
Um estudo demonstrou que a administração de 300 mg de Qter (equivalente a 30 mg de CoQ10), duas vezes ao dia, foi benéfica na recuperação de lesões associadas à voz (3). É provável que os níveis aumentados de Qter melhorem as funções bioenergéticas do sistema respiratório e fonatório, permitindo uma melhor recuperação vocal (3).
Vitamina A (Acetato de Vitamina A)
Um estudo mostrou que a administração de 1 mg de acetato de vitamina A, duas vezes ao dia, foi benéfica na recuperação de lesões associadas à voz (3). Aparentemente, a vitamina A é capaz de restaurar a textura da mucosa laríngea (3).
Referências Bibliográficas
- FONTES, V. S.; OLIVEIRA, C. G. de. Alimentação como fator relevante à saúde vocal: alimentos que proporcionam efeitos benéficos e maléficos para a produção da voz. HU Revista, v. 42, p. 19–25, 2016.
- VAN WYK, L. et al. The Effect of Hydration on the Voice Quality of Future Professional Vocal Performers. Journal of Voice, v. 31, n. 1, p. 111.e29-111.e36, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2016.01.002. Acesso em: [30 jun. 2025].
- RUOPPOLO, G. et al. CoQ10 and Vitamin A supplementation support voice rehabilitation. A double-blind, randomized, controlled, three-period cross-over pilot study. Frontiers in Pharmacology, v. 10, p. 1–8, 2019.