Síndrome da Fragilidade no Idoso: Fisiopatologia, Diagnóstico e Manejo
Introdução
A síndrome da fragilidade é um estado de vulnerabilidade fisiológica progressiva, caracterizado por uma redução da reserva funcional do organismo e da resistência aos estressores. Embora frequentemente associada ao processo de envelhecimento, essa síndrome não é exclusiva da idade avançada. Compreender seus mecanismos fisiopatológicos, critérios diagnósticos e opções de manejo é essencial para otimizar a saúde e a qualidade de vida dos indivíduos afetados.
Fisiopatologia
A fragilidade é uma síndrome complexa e multifatorial, definida pela diminuição das reservas de energia e pela resistência reduzida aos estressores, culminando em declínios cumulativos em diversos sistemas fisiológicos (1, 2). Representa uma vulnerabilidade fisiológica relacionada à idade, decorrente da deterioração da homeostase biológica e da capacidade do organismo de se adaptar a novas situações de estresse (2).
A síndrome da fragilidade é embasada em um tripé fisiopatológico: desregulação endócrina, desregulação imunológica e sarcopenia (2). O resultado dessas alterações sistêmicas é a indução de lentidão, debilidade, perda de peso, baixo nível de atividade física e fadiga (2). Essas alterações levam a uma maior vulnerabilidade a estressores e a uma maior dificuldade em restabelecer a homeostase do organismo, aumentando, portanto, a mortalidade (1).
Sarcopenia
A sarcopenia é uma das variáveis cruciais na definição da síndrome de fragilidade no idoso, conferindo um risco elevado para quedas, fraturas, incapacidade, dependência, hospitalização e morte (2). O consenso europeu de sarcopenia (2010) a define como uma síndrome caracterizada pela perda gradual e generalizada de massa e força muscular, associada a um risco aumentado de incapacidade física, piora da qualidade de vida e aumento da mortalidade (1).
Nesse processo, as fibras musculares são gradualmente substituídas por tecido adiposo fibrótico, o que acarreta redução da síntese proteica e, consequentemente, diminuição da força e eficiência muscular (1). A etiologia da sarcopenia não é totalmente elucidada, mas sabe-se que a subnutrição e a desnutrição promovem a diminuição da síntese proteica, desregulação de citocinas catabólicas e do TNF-α, favorecendo a perda de massa e força muscular, a diminuição da atividade física, o aumento do estresse oxidativo e a redução dos níveis de hormônios sexuais, com consequente diminuição do trofismo muscular (1). Adicionalmente, ocorre redução do hormônio do crescimento (GH) e aumento dos níveis séricos de IL-6 (1).
Disfunção Imunológica
O envelhecimento induz um processo inflamatório crônico, manifestado pelo aumento dos níveis séricos de citocinas pró-inflamatórias, antagonistas de citocinas e proteínas de fase aguda (1). Em idosos, essa elevação pode ser acelerada por fatores genéticos, declínio funcional, tabagismo, infecções, obesidade e diminuição dos hormônios sexuais (1).
Essa ativação imune generalizada ocorre devido a falhas nos mecanismos regulatórios, permitindo que as células imunes ativadas continuem a produzir agentes catabólicos pró-inflamatórios, mesmo após o término do estímulo inicial (1). A ação dessas citocinas a longo prazo contribui para a instalação da fragilidade (1). Estudos demonstram que níveis de TNF-α são melhores marcadores em idosos fragilizados, enquanto níveis de IL-6 representam melhor o estado de idosos sadios; contudo, ambos estão associados ao aumento da mortalidade em idosos (1). Foi observado também que o aumento excessivo de IL-6 e TNF-α está associado à aceleração da atividade osteoclástica, favorecendo a osteoporose, além de maior produção de imunoglobulinas, diminuição de massa e força muscular, predispondo à anorexia e ao declínio da funcionalidade (1).
Desregulação Hormonal
No envelhecimento, o estímulo crônico do sistema nervoso simpático leva à elevação excessiva dos níveis de adrenalina e noradrenalina (1). Além disso, observa-se um aumento nos níveis de cortisol, resultando em desregulação da resposta ao estresse (1). Também é evidente a diminuição da secreção de GH pela hipófise, um fator que contribui para a redução da massa e força muscular (1). A diminuição dos níveis de hormônios sexuais, tanto em homens quanto em mulheres, também contribui significativamente para a instalação da síndrome da fragilidade (1).
Sinais e Sintomas
Sinais Clínicos
- Sarcopenia (1)
- Osteopenia/osteoporose (1)
- Anormalidade da marcha e equilíbrio (1)
- Descondicionamento físico (1)
- Desnutrição (1)
- Marcha lentificada (1)
Sintomas Relatados
- Perda de peso (1)
- Fraqueza (1)
- Anorexia (1)
- Inatividade (1)
Epidemiologia
Estudos indicam que tanto indivíduos obesos quanto aqueles com baixo peso apresentam maior risco de desenvolver fragilidade (1). Tabagistas demonstram um risco 3 vezes maior de fragilidade em comparação com não tabagistas (1). A síndrome da fragilidade está associada a um maior risco de eventos adversos à saúde, incluindo fraturas de quadril, hospitalização, institucionalização, incapacidade de realizar atividades diárias e morte (1).
Diagnóstico
Segundo alguns autores, para estabelecer o diagnóstico de síndrome da fragilidade, o paciente deve apresentar pelo menos três das cinco características a seguir (1):
- Perda de peso/massa magra > 5% em um ano (1)
- Exaustão (autorrelato de fadiga) (1)
- Fraqueza muscular (redução da força de preensão palmar) (1)
- Baixos níveis de atividade física (1)
- Lentidão (diminuição da velocidade de marcha) (1)
Laboratorialmente, não existem exames específicos para um diagnóstico direto da fragilidade. No entanto, podem ser observadas alterações como aumento da insulina, IL-6, Proteína C Reativa (PCR) e fibrinogênio, e diminuição da albumina, pré-albumina, transferrina, capacidade total de ligação do ferro e GH (1).
Conduta Clínica e Tratamento
Não existe um tratamento específico para a síndrome da fragilidade (1). Contudo, algumas abordagens têm sido estudadas e orientadas para o manejo da condição:
Exercícios de Resistência
Considerado o método mais eficaz, os exercícios de resistência, especialmente os que envolvem membros inferiores, são cruciais para o manejo da fragilidade (1). Eles ajudam a combater a sarcopenia e a melhorar a força e a funcionalidade.
Suplementação Nutricional
A suplementação de Vitamina D (1000 UI/dia) e Cálcio (1000-1200 mg/dia de carbonato de cálcio) é recomendada (1). A vitamina D atua diretamente na manutenção do tônus e da força muscular (1).
Reposição Hormonal
A reposição hormonal é um tópico controverso (1). Embora o uso de testosterona seja eficaz no aumento da massa e força muscular, é fundamental considerar que esse hormônio aumenta consideravelmente o risco para neoplasias como câncer de próstata e mama (1).
Referências Bibliográficas
- SILVA, M. de L. do N.; MARUCCI, M. de F. N.; ROEDIGER, M. de A. Tratado de Nutrição em Gerontologia. 1. ed. Barueri: Manole, 2016. 507 p.
- RIBAS FILHO, D.; SUEN, V. M. M. Tratado de Nutrologia. 2. ed. Santana de Parnaíba: Manole, 2019. 646 p.