O Sistema Nervoso Periférico: Estrutura, Funções e Implicações Clínicas


O Sistema Nervoso Periférico: Estrutura, Funções e Implicações Clínicas


Introdução

O sistema nervoso periférico (SNP) é uma complexa rede de nervos e gânglios que conecta o sistema nervoso central (SNC) ao restante do corpo. Compreender sua organização anatômica e funcional é fundamental para a atuação em diversas áreas da saúde, desde o diagnóstico de lesões neurológicas até a compreensão da fisiologia da dor e do movimento.


Organização Estrutural do Sistema Nervoso Periférico

O SNP é composto por nervos cranianos, nervos espinhais (prolongamentos da medula espinhal) e gânglios, que são aglomerados de corpos de neurônios localizados fora do SNC.

Os nervos são cordões compostos por múltiplos feixes de fibras nervosas, envoltos por tecido conjuntivo. Sua função primordial é a condução de impulsos nervosos aferentes (sensoriais, em direção ao SNC) e eferentes (motores, do SNC para os órgãos-alvo).

Anatomicamente, os nervos periféricos são envolvidos por três bainhas conjuntivas distintas:

  • Epineuro: A camada mais externa, que envolve todo o nervo.
  • Perineuro: A camada intermediária, que circunda cada feixe de fibras nervosas (fascículo).
  • Endoneuro: A camada mais interna, que envolve individualmente cada fibra nervosa.

Classificação Funcional do SNP

O SNP pode ser classificado em duas divisões principais:

  • Sistema Nervoso Autônomo (SNA): Responsável pelo controle das funções involuntárias, como a atividade da musculatura lisa, cardíaca e glandular.
  • Sistema Nervoso Somático (SNS): Envolvido no controle voluntário da musculatura esquelética e na recepção de estímulos sensoriais do ambiente externo.

Nervos Espinhais

Os nervos espinhais se originam da medula espinhal e são responsáveis pela inervação da musculatura do tronco e dos membros. Em contraste, os nervos cranianos (ou encefálicos) inervam primariamente as estruturas da cabeça e pescoço.

Na medula espinhal, a substância cinzenta está localizada centralmente e contém os corpos dos neurônios, de onde partem os prolongamentos neuronais que formam as raízes nervosas. As raízes nervosas são as ramificações que emergem da medula, contendo componentes motores e sensoriais.

Existem 31 pares de nervos espinhais, distribuídos segmentarmente ao longo da medula (1):

  • 8 pares de nervos cervicais.
  • 12 pares de nervos torácicos.
  • 5 pares de nervos lombares.
  • 5 pares de nervos sacrais.
  • 1 par de nervo coccígeo.

Cada nervo espinhal é formado pela união de duas raízes:

  • Raiz dorsal (posterior): Responsável pela inervação sensorial. É uma via aferente (ascendente), conduzindo informações sensitivas para o SNC. As fibras aferentes podem ser classificadas como:
    • Somáticas: Captam informações de exteroceptores (temperatura, dor, pressão, tato) e proprioceptores (tônus muscular, movimento e posição articular).
    • Viscerais: Conduzem informações sensoriais de interoceptores localizados nos órgãos internos.
  • Raiz ventral (anterior): Responsável pela inervação motora. É uma via eferente (descendente), conduzindo impulsos do SNC para os efetores. As fibras eferentes podem ser:
    • Somáticas: Quando o impulso se direciona aos músculos estriados esqueléticos.
    • Viscerais: Quando a informação se destina à musculatura lisa, cardíaca e glândulas.

A compressão nervosa, como em casos de soterramento, pode resultar em lesões neurológicas significativas devido ao comprometimento dessas raízes.


Plexos Nervosos Espinhais

Um plexo nervoso é uma rede complexa formada pela interconexão de nervos. Os quatro principais plexos nervosos espinhais são formados pelos ramos anteriores dos nervos espinhais e possuem distribuições motoras e sensoriais específicas: cervical, braquial, lombar e lombossacral.

Plexo Braquial

Formado pelas quatro últimas raízes cervicais (C5-C8) e pela primeira raiz torácica (T1), o plexo braquial é crucial para a inervação da pele e dos músculos da cintura escapular e dos membros superiores. As principais causas de lesões nesse plexo incluem acidentes de motocicleta e lesões obstétricas, que podem levar à paralisia braquial obstétrica.

Plexo Lombossacro

Este plexo engloba os plexos lombar e sacral.

  • O plexo lombar é formado pelas raízes T12, L1, L2, L3 e L4.
  • O plexo sacral é formado pelas raízes L4, L5, S1, S2, S3 e S4.As raízes lombossacrais inervam a pele, os músculos do abdômen, órgãos genitais, cintura pélvica e membros inferiores.

Referências Bibliográficas

  1. BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências – Desvendando o Sistema Nervoso. 4. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2017. 974 p.