Sódio: Recomendações, Metabolismo e Implicações Clínicas
Introdução
O sódio, um eletrólito essencial, desempenha papéis vitais na regulação osmótica, no equilíbrio hídrico e na função neuromuscular. No entanto, sua ingestão excessiva é uma preocupação de saúde pública, associada a diversos desfechos adversos. Esta seção aborda as recomendações nutricionais, o metabolismo, as funções fisiológicas e as implicações clínicas relacionadas ao sódio.
Recomendações Nutricionais
As recomendações de ingestão de sódio foram revisadas para incluir a categoria de Ingestão de Redução de Risco de Doença Crônica (CDRR), substituindo o Nível Superior de Ingestão Tolerável (UL) para esse mineral. Para adultos maiores de 18 anos, o valor de CDRR para sódio é de 2,3 g/dia (ou 5,8 g de cloreto de sódio), indicando que a ingestão acima desse patamar aumenta o risco de doenças crônicas, especialmente cardiovasculares (2).
A nova proposta sugere que não há evidências suficientes de risco de toxicidade de sódio em uma população aparentemente saudável para estabelecer um valor de UL (2).
As recomendações gerais para diversas populações são:
- Homens: 2300 mg/dia
- Mulheres: 2300 mg/dia
- Gestantes: 2300 mg/dia
- Lactantes: 2300 mg/dia
Nota: 1 grama (g) de sal (cloreto de sódio) equivale a 400 mg de sódio. Assim, 2300 mg de sódio correspondem a 5,8 g de cloreto de sódio.
Fontes de Sódio na Dieta
Geralmente, o cátion sódio e o ânion cloreto são encontrados nos alimentos na forma de cloreto de sódio (sal de cozinha) (2). Contudo, o sódio também pode ser consumido por meio de outros compostos, como bicarbonato de sódio, glutamato monossódico, fosfato de sódio, carbonato de sódio e benzoato de sódio (2).
Benefícios da Redução da Ingestão de Sódio
Embora não haja evidências de que a ingestão insuficiente de sódio seja uma preocupação de saúde pública, a redução do seu consumo é benéfica (1). Uma ingestão reduzida de sódio pode oferecer benefícios à saúde que vão além da prevenção da hipertensão, incluindo:
- Redução do risco de doença cardiovascular subclínica (1).
- Prevenção de lesão renal (1).
- Diminuição do risco de câncer gástrico (1).
- Melhora do metabolismo mineral alterado (1).
Estudos transversais têm demonstrado uma relação direta entre a massa ventricular esquerda e a ingestão de sódio (1). Um ensaio clínico, realizado no início dos anos 1990, comprovou que a redução do sódio pode diminuir a massa do ventrículo esquerdo (1).
Em suma, os dados disponíveis corroboram fortemente as recomendações atuais para que a população em geral diminua a ingestão de sódio, seja optando por alimentos com baixo teor do mineral, seja limitando a quantidade de sal adicionada à comida (1).
Absorção e Metabolismo do Sódio
Absorção
A absorção do sódio e do cloro ocorre predominantemente no intestino delgado, com aproximadamente 98% da quantidade consumida sendo absorvida (2).
Excreção
Em indivíduos saudáveis, o cloreto de sódio é excretado principalmente pelos rins (2). Quantidades variáveis são perdidas pela pele (suor) e pelas fezes (2). Perdas significativas também podem ocorrer por meio de vômitos e diarreia (2).
A maior parte do cloreto de sódio ingerido é excretada na urina, desde que a perda por suor não seja excessiva (2). Em indivíduos em equilíbrio de sódio e fluidos, a quantidade de sódio excretada na urina é praticamente igual à ingerida (2). Isso se deve à notável capacidade dos rins humanos de filtrar cerca de 25.000 mmol de sódio por dia e reabsorver 99% do filtrado (2).
Regulação do Balanço de Sódio e Cloro
Diversos sistemas e hormônios influenciam o balanço de sódio e cloro, incluindo:
- Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (SRAA): A angiotensina II, um potente vasoconstritor, regula o túbulo proximal do néfron para promover a retenção de sódio e cloro, além de estimular a liberação de aldosterona do córtex adrenal. A aldosterona, por sua vez, promove a reabsorção renal de sódio no túbulo distal do néfron (2). Uma redução da ingestão de sódio, do volume sanguíneo ou da pressão sanguínea estimula o SRAA. Essa resposta compensatória é mais acentuada quando a ingestão de sal é reduzida de forma abrupta (2). No entanto, uma redução modesta da ingestão de sal a longo prazo resulta apenas em um pequeno aumento da atividade plasmática da renina e nenhuma alteração detectável na atividade do sistema nervoso simpático (2).
- Sistema Nervoso Simpático: Desempenha um papel crucial na regulação da excreção de sódio e cloro por meio de três mecanismos: alteração no fluxo sanguíneo medular renal, liberação de renina e efeitos diretos nos túbulos renais (2). Esse sistema é ativado durante a depleção de sódio e suprimido durante o excesso de sódio (2).
- Peptídeo Natriurético Atrial (ANP): Liberado em resposta ao volume sanguíneo elevado, o ANP atua como regulador do SRAA (2). Ele diminui a liberação de renina e, consequentemente, a liberação de angiotensina II e aldosterona, além de aumentar a taxa de filtração glomerular (2). Essas ações contribuem para reduzir a pressão e o volume sanguíneo (2).
- Outros mecanismos: Incluem o sistema calicreína-quinina, vários mecanismos intrarrenais e outros fatores que regulam o fluxo sanguíneo renal e medular (2).
Interação com o Potássio
A administração de sais de potássio parece aumentar a excreção urinária de sódio (2). Em humanos saudáveis, tanto o bicarbonato quanto o cloreto de potássio demonstraram um efeito substancial no aumento da excreção urinária de sódio (2). Estudos em animais sugerem que o potássio pode inibir a reabsorção de sódio no túbulo distal do rim, reduzindo o volume extracelular e plasmático (2). Esse mecanismo é considerado um importante efeito anti-hipertensivo do potássio (2).
Funções do Sódio no Organismo
O sódio é o cátion mais abundante no líquido extracelular do corpo (2). Ele atua em conjunto com outros eletrólitos, especialmente o potássio no líquido intracelular, para:
- Regular a pressão osmótica (2).
- Manter o equilíbrio hídrico no organismo (2).
- Transmitir impulsos nervosos (2).
- Estimular a ação muscular (2).
- Participar do transporte ativo de substâncias através das membranas celulares, como na absorção da glicose no intestino delgado (2).
Cloro e Equilíbrio Ácido-Básico
O cloro é o ânion que se combina com o sódio no líquido extracelular e com o potássio no meio intracelular para manter a pressão osmótica e o equilíbrio ácido-básico do organismo (2).
O excesso de ácido e de sódio derivados da dieta leva ao aumento da excreção urinária de cálcio e reduz a excreção de citrato na urina (2). As consequências podem incluir um possível aumento da desmineralização óssea, elevação do risco de cálculos renais de cálcio e distúrbios metabólicos que podem estar relacionados à osteoporose e à proteinúria (2). Por essa razão, vários estudos observaram que o consumo adequado de potássio diminui a excreção de cálcio na urina e pode melhorar o seu balanço (2).
Sódio e Exercício Físico:
A prevenção de deficiências pode ajudar a manter o desempenho, mas as evidências não apoiam melhorias de desempenho com a suplementação de sódio quando o status mineral é adequado. (3)
Porém, em certas condições, como o início de um programa de treinamento no calor e exercícios de ultra-resistência prolongados, podem justificar o aumento da ingestão de sódio para combater a hiponatremia e manter o equilíbrio hídrico. (3)
É recomendado que bebidas direcionadas a hidratação esportiva contenham ~20-30meq/L (460-690mg/L) de sódio. (3)
Implicações Clínicas do Excesso de Sódio
A ingestão excessiva de sódio tem sido associada a diversos problemas de saúde:
- Aumento da excreção urinária de cálcio e proteína (2).
- Maior incidência de infarto do miocárdio (2).
- Formação de cálculos renais (2).
- Maior predisposição a óbitos por câncer de estômago (2).
Hipertensão Arterial
O maior efeito adverso da ingestão elevada de cloreto de sódio é a elevação da pressão sanguínea, um fator de risco reconhecido para doenças cardiovasculares e renais (2). Estudos epidemiológicos indicam que a frequência da hipertensão em uma população aumenta em relação à quantidade habitual de sódio consumida (2).
No entanto, alguns autores sugerem que a relação sódio/potássio pode ser mais relevante do que a quantidade isolada de sódio consumida (2). De fato, a deficiência moderada de potássio, mesmo sem hipocalemia, é caracterizada por aumento da pressão sanguínea e maior sensibilidade ao sal, entre outros sintomas (2).
Asma
Estudos recentes têm investigado os efeitos do alto consumo de sódio sobre problemas respiratórios, como a asma (2).
Referências Bibliográficas
- ROSS, A. C. et al. Nutrição Moderna de Shills na Saúde e na Doença. 11. ed. São Paulo: Manole, 2016. 1642 p.
- COZZOLINO, S. Biodisponibilidade de Nutrientes. 6. ed. São Paulo: Manole, 2020. 934 p.
- JAGIM, Andrew R. et al. International society of sports nutrition position stand: energy drinks and energy shots. Journal of the International Society of Sports Nutrition, [s. l.], v. 20, n. 1, p. 2171314, 2023.