Tríade da Mulher Atleta: Compreendendo a Síndrome e Suas Implicações Clínicas
Introdução
A Tríade da Mulher Atleta, definida pelo American College of Sports Medicine (ACSM), é uma síndrome complexa que abrange a baixa disponibilidade energética, alterações da função menstrual e alterações da densidade mineral óssea (DMO) (4). Essa tríade pode gerar manifestações clínicas que incluem transtornos alimentares, amenorreia hipotalâmica funcional e osteoporose (3, 4). É crucial ressaltar que essa síndrome tem acometido cada vez mais adolescentes e mulheres que praticam atividades físicas de forma recreacional, e não apenas atletas profissionais (4).
Fisiopatologia da Tríade da Mulher Atleta
A base fisiopatológica da tríade reside na inadequada disponibilidade de energia, com repercussões significativas nos sistemas reprodutivo e ósseo.
Baixa Disponibilidade Energética
A maioria dos efeitos adversos da tríade ocorre quando a disponibilidade de energia fica abaixo de 30 kcal/kg de massa livre de gordura (MLG) (4). Essa baixa disponibilidade energética, frequentemente resultante de uma ingestão calórica insuficiente para cobrir as demandas do treinamento, é o fator central desencadeador da síndrome.
Disfunção Menstrual (Amenorreia)
Mulheres fisicamente ativas, particularmente aquelas que participam de esportes que dependem de baixo peso ou da aparência, têm maior probabilidade de sofrer de alguma das três enfermidades relacionadas ao ciclo menstrual:
- Início tardio da menstruação.
- Ciclo menstrual irregular (oligomenorreia).
- Parada completa da menstruação (amenorreia).
A amenorreia possui duas classificações:
- Amenorreia primária: Ausência de menstruação após os 14 anos de idade, afetando cerca de 2-5% da população em geral, mas podendo atingir até 66% entre atletas (4).
- Amenorreia secundária: Ausência do ciclo menstrual por mais de 90 dias após a menarca (4). Em atletas, esse processo é reconhecido como amenorreia de causa hipotalâmica, onde a secreção pulsátil do GnRH é alterada, resultando na diminuição da produção de LH e FSH, que consequentemente diminui os níveis de hormônios esteroides ovarianos (1, 4).
Antes da menopausa, a irregularidade ou a ausência de função menstrual aceleram a perda óssea e elevam o risco de lesões musculoesqueléticas durante o exercício, acarretando interrupções mais longas do treinamento (1). É importante combater a crença de que, em alguns grupos de atletas, a amenorreia seja considerada um processo fisiológico normal e saudável (4).
Alterações da Densidade Mineral Óssea (DMO)
A amenorreia hipotalâmica associada à tríade da mulher atleta resulta em um hipoestrogenismo, que leva à osteoporose prematura, acarretando consequências tanto de curto quanto de longo prazo (4). No curto prazo, observam-se altas taxas de lesões, especialmente fraturas por estresse. Já no longo prazo, há um aumento do risco de fraturas com consequente aumento da morbidade (4). Contrariando a intuição, alguns autores observaram que a DMO era significativamente maior em atletas amenorreicas quando comparadas com atletas eumenorreicas (4).
Esportes Considerados Fatores de Risco
Certas modalidades esportivas apresentam um maior risco para o desenvolvimento da Tríade da Mulher Atleta:
- Esportes de qualificação subjetiva e ênfase no biótipo: Dança, patinação artística, mergulho e ginástica, onde o desempenho é qualificado subjetivamente e um determinado biótipo é enfatizado para o sucesso (4).
- Esportes que recomendam baixo peso: Corrida de longa distância, ciclismo e esqui cross-country (4).
- Esportes que exigem roupas reveladoras do corpo: Vôlei, natação, mergulho, corrida cross-country e provas de pista (4).
- Esportes com categorias de peso: Hipismo, artes marciais, lutas e remo (4).
Tratamento e Conduta Clínica
O principal objetivo do tratamento é aumentar a disponibilidade de energia, seja pelo aumento da ingestão calórica ou pela diminuição do gasto calórico (4). Além disso, é necessário observar a presença de transtornos alimentares. Algumas atletas com transtornos alimentares podem ser muito resistentes à mudança e ao aumento de peso, podendo ser recomendada, inclusive, a reposição hormonal, visando diminuir a perda precoce de massa óssea (4).
Recomendações Nutricionais
- Energia (Kcal): O consumo de refeições bem balanceadas e nutritivas de maneira regular ajuda a prevenir ou reverter a amenorreia atlética sem exigir que a atleta reduza o volume ou a intensidade do treinamento físico (1).
- Cálcio e Vitamina D: A suplementação de cálcio deve ser recomendada em todos os casos, com doses entre 1000-1300 mg/dia, associadas à suplementação de vitamina D, que pode variar entre 400-800 UI/dia (4).
Referências Bibliográficas
- MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício – Nutrição, Energia e Desempenho Humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 1059 p.
- RITTER JAMES, M. et al. Rang & Dale Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. 789 p.
- RIBAS FILHO, D.; SUEN, V. M. M. Tratado de Nutrologia. 2. ed. Santana de Parnaíba: Manole, 2019. 646 p.
- HIRSCHBRUCH, M. D. Nutrição Esportiva – Uma Visão Prática. 3. ed. Barueri: Manole, 2014. 496 p.