Considerações Nutricionais para Atletas de Ultramaratona
Introdução
As ultramaratonas e eventos de múltiplas etapas têm experimentado um crescimento notável, exigindo estratégias nutricionais especializadas para otimizar o desempenho e a recuperação dos atletas. Este documento explora as demandas metabólicas e as diretrizes nutricionais para esta população de atletas de elite.
Efeitos Fisiológicos do Exercício de Longa Duração
O exercício prolongado está associado a um estado inflamatório sistêmico e imunossupressão. Uma dieta balanceada, que forneça macro e micronutrientes em quantidades adequadas, pode atenuar esses efeitos adversos (1).
A prática crônica de exercícios com níveis reduzidos de glicogênio hepático e muscular eleva as concentrações circulantes de hormônios do estresse, como o cortisol. Este aumento pode desencadear alterações imunes, como modificações na circulação de leucócitos, e elevar o risco de desenvolver a síndrome do overtraining (1).
Para uma recuperação muscular otimizada, é crucial que o atleta atinja suas necessidades diárias de proteína, assegurando a manutenção e o ganho de massa muscular (1). Adicionalmente, a hidratação adequada, tanto intra quanto pós-exercício, é fundamental. A hidratação inadequada pode comprometer o desempenho esportivo e, cronicamente, induzir alterações na vasopressina e em marcadores de disfunção metabólica (1).
Gasto Energético em Ultramaratonistas
Estudos demonstram que a ingestão calórica de atletas de ultra-endurance representa entre 36% e 53% do gasto energético total durante o exercício (1). As ultramaratonas dependem significativamente do metabolismo oxidativo para a utilização eficiente dos estoques de glicogênio e gordura. Com o aumento da duração e da distância percorrida, observa-se um aumento substancial na utilização de ácidos graxos livres como substrato energético (1).
Nesse contexto, um aspecto primordial em qualquer programa de treinamento é a maximização da capacidade de metabolizar gordura, o que permite a preservação do glicogênio muscular para as fases finais da competição (1).
A necessidade calórica diária é multifatorial, influenciada pela taxa metabólica basal (TMB), o nível de atividade física diária, a energia despendida em sessões de treino específicas, a composição corporal e a termogênese induzida pela dieta, entre outros (1).
Necessidades Calóricas Diárias Estimadas
As tabelas a seguir apresentam estimativas do gasto calórico médio diário para mulheres e homens, respectivamente, com base no treinamento (1).
Tabela 1: Necessidades calóricas diárias para MULHERES, baseado no treinamento.
Peso (kg) / BF (%) | Velocidade (km/h) | 1 hora (kcal) | 3 horas (kcal) |
50 (15%) | 8,4 | 2004 | 2726 |
50 (15%) | 10,7 | 2103 | 3023 |
50 (15%) | 13,8 | 2236 | 3423 |
70 (24%) | 8,4 | 2959 | 4187 |
70 (24%) | 10,7 | 3127 | 4692 |
70 (24%) | 13,8 | 3354 | 5372 |
Tabela 2: Necessidades calóricas diárias para HOMENS, baseado no treinamento.
Peso (kg) / BF (%) | Velocidade (km/h) | 1 hora (kcal) | 3 horas (kcal) |
65 (10%) | 8,4 | 2553 | 3492 |
65 (10%) | 10,7 | 2681 | 3878 |
65 (10%) | 13,8 | 2855 | 4398 |
85 (20%) | 8,4 | 2959 | 4187 |
85 (20%) | 10,7 | 3127 | 4692 |
85 (20%) | 13,8 | 3354 | 5372 |
Estima-se que o custo energético da corrida varie entre 47 e 71 kcal/km (1).
Distribuição de Macronutrientes
Respeitando as necessidades energéticas diárias, a distribuição de macronutrientes tipicamente recomendada para ultramaratonistas é (1):
- Carboidratos: 60%
- Proteínas: 15%
- Gorduras: 25%
Atletas que treinam por 2 a 3 horas/dia, 5 a 6 vezes por semana, geralmente necessitam de 5 a 8 g/kg de carboidratos. Para atletas de nível mais avançado, a recomendação pode aumentar para 7 a 10 g/kg de carboidratos (1).
A ingestão proteica recomendada como base é de 1,6 g/kg; contudo, para atletas com demandas metabólicas muito elevadas, essa recomendação pode atingir 2,5 g/kg (1).
Carboidratos
Refeições realizadas até 90 minutos antes do exercício devem evitar alimentos de alto índice glicêmico. Essa precaução é devido à secreção de insulina mediada pela ingestão de carboidratos, que pode suprimir a lipólise (1).
Estratégias Nutricionais Avançadas: “Training Low, Compete High”
A estratégia “Training Low, Compete High” baseia-se em descobertas da biologia celular que sugerem que a manipulação dos níveis de glicogênio, por meio da restrição de carboidratos, pode atuar como um regulador da sinalização metabólica. Esta abordagem visa otimizar a eficiência energética e as adaptações ao exercício, sendo particularmente relevante no início do regime de treinamento (1).
Referências Bibliográficas
- TILLER, N. B. et al. International Society of Sports Nutrition Position Stand: Nutritional considerations for single-stage ultra-marathon training and racing. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 16, n. 1, 2019.