Urtiga (Urtica dioica): Aplicações Terapêuticas em Condições Clínicas


Urtiga (Urtica dioica): Aplicações Terapêuticas em Condições Clínicas


Introdução

A Urtica dioica, popularmente conhecida como urtiga, é uma planta com diversas aplicações na fitoterapia, especialmente reconhecida por seus potenciais benefícios na hiperplasia prostática benigna, reumatismo e diabetes. Sua utilização, no entanto, requer o conhecimento de suas partes ativas e posologias específicas para garantir a eficácia e segurança.


Principais Indicações Terapêuticas

Hiperplasia Prostática Benigna (HPB)

As raízes da urtiga são consideradas a parte mais interessante para o tratamento da HPB (3). Estudos in vitro e em modelos animais (cães e ratos) com extrato hidroalcoólico da raiz da U. dioica (30 mg/kg) demonstraram uma redução de 30% no volume da próstata após 100 dias de tratamento (3).

Em um estudo em humanos, a administração de extrato fluido das raízes (1,2 mL, contendo 120 mg de urtiga), três vezes ao dia, durante 6 meses, resultou em:

  • Diminuição dos sinais e sintomas da HPB (1).
  • Aumento do fluxo urinário máximo (1).
  • Diminuição do resíduo urinário pós-miccional (1).

Contudo, este estudo não observou alterações significativas no tamanho da próstata, nos níveis séricos de PSA (Antígeno Prostático Específico) ou nos níveis de testosterona (1). O estudo também não relatou efeitos adversos e concluiu que a urtiga pode ser utilizada em conjunto com outras terapias medicamentosas (1).

Outros estudos clínicos indicaram que a associação da urtiga com Saw palmetto pode gerar maiores benefícios, com resultados semelhantes à finasterida, porém com menos efeitos colaterais (3).

Mecanismos de Ação Propostos na HPB:

  • Lignanas: As lignanas presentes na urtiga atuam na HPB por dois mecanismos principais:
    1. Competem com a testosterona pela ligação à Globulina Ligadora de Hormônios Sexuais (SHBG), regulando sua concentração livre no plasma (3).
    2. Reduzem o estímulo do crescimento prostático induzido pela testosterona, bloqueando a ligação ao SHBG nas membranas das células prostáticas (3).
  • Inibição de Enzimas: Alguns autores sugerem que a urtiga pode inibir a 5-α-redutase (enzima que converte testosterona em di-hidrotestosterona) e a aromatase (enzima que converte testosterona em estradiol), reduzindo a produção desses hormônios (2, 3). No entanto, este não é um consenso na literatura.
  • Ação Anti-inflamatória: Outros autores ainda sugerem uma ação anti-inflamatória da urtiga, pela modulação do fator nuclear kappa B (NF-κB).

Reumatismo

Um estudo que avaliou a utilização do extrato da planta em 152 pacientes com reumatismo encontrou que aproximadamente 70% dos participantes apresentaram melhoras após a administração de 1,5 g/dia (3).

Diabetes

Pesquisas com pacientes diabéticos tipo 2 que necessitavam de terapia insulínica revelaram que a adição do extrato das folhas da U. dioica, na dose de 500 mg a cada 8 horas, pode melhorar com segurança o controle glicêmico (3).


Posologia e Formas de Administração

As dosagens e formas de apresentação da Urtica dioica variam:

  • Extrato seco (5:1): 600-1200 mg/dia (3).
  • Extrato seco padronizado a 0,8% de beta-sitosterol: 100-250 mg, duas vezes ao dia.
  • Tintura (1:5, em etanol, 25%): 7-14 mL/dia (3).
  • Decocção: 1,5 g por xícara, tomar 3-4 vezes ao dia (3).
  • : 8-12 g/dia (3).

Contraindicações e Segurança

Apesar dos potenciais benefícios, a Urtica dioica apresenta algumas contraindicações e cuidados de segurança:

  • Gestantes e Lactantes: O uso não é recomendado devido à falta de estudos que comprovem sua segurança para essas populações (3).

Referências Bibliográficas

  1. SAFARINEJAD, M. R. Urtica dioica for treatment of benign prostatic hyperplasia: a prospective, randomized, double-blind, placebo-controlled, crossover study. Journal of Herbal Pharmacotherapy, v. 5, n. 4, p. 1–11, 2005. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16635963. Acesso em: [30 jun. 2025].
  2. DHOUBI, R. et al. Screening of pharmacological uses of Urtica dioica and others benefits. Progress in Biophysics and Molecular Biology, v. 150, p. 67–77, 2020. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0079610719300987. Acesso em: [30 jun. 2025].
  3. SAAD, G. de A.; LÉDA, P. H. de O.; SÁ, I. M.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.

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