Valeriana officinalis: Abordagens Terapêuticas na Ansiedade, Insônia e Hipertensão


Valeriana officinalis: Abordagens Terapêuticas na Ansiedade, Insônia e Hipertensão


Introdução

A Valeriana officinalis, conhecida popularmente como valeriana ou erva-dos-gatos, é uma planta medicinal com longa história de uso no manejo de distúrbios neurológicos e cardiovasculares. Classificada como sedativo hipnótico leve, a valeriana tem sido investigada por seus efeitos na ansiedade, insônia e hipertensão, embora a complexidade de sua composição e a variabilidade dos extratos comerciais demandem uma análise cuidadosa das evidências científicas.


Aspectos Botânicos e Farmacognósticos

Nome Farmacêutico

Radix Valerianae (1)

Nome Popular

Erva-dos-gatos (1)

Parte Utilizada

Raiz (1), rizoma (3)


Compostos Bioativos

A complexidade dos efeitos da valeriana é atribuída à ação sinérgica de diversos compostos, incluindo:

  • Iridoides (0,5 a 2%): Valtrato, isovaltrato, homovaltrato, acevaltrato, valeclorina, di-hidrovaltratos (1).
  • Óleo essencial (0,5 a 1%): Canfeno, α-pineno, borneol, geraniol, α-terpinol (1).
  • Sesquiterpenoides: Valerano, valerianol, β-bisaboleno, β-cariofileno (1).
  • Ésteres terpênicos: Acetato, butirato, formiato, isovalerianato de bornila (1).
  • Ácidos sesquiterpênicos (1).
  • Ácidos fenólicos: Ácido cafeico e clorogênico (1).
  • Flavonoides (1).
  • Alcaloides: Valerianina, valerina, chatinina, isovaleramida (1).

Posologia e Prescrição

A Valeriana officinalis é uma planta de prescrição médica exclusiva, em conformidade com a legislação vigente.

Formas Farmacêuticas e Dosagens

  • Planta seca: 2-3 g, até 4 vezes ao dia (1).
  • Infusão: 1-3 g, até 4 vezes ao dia (1).
  • Extrato seco (5:1): 300-1200 mg, 2 a 3 vezes ao dia (1).
  • Tintura (1:5, etanol 70%): 50-100 gotas, 1 a 3 vezes ao dia (1).
  • Extrato Fluido (1:1): 50-100 gotas, 1 a 3 vezes ao dia (1).

Produto Disponível no Mercado Brasileiro

  • Valerimed: Comprimido de 50 mg de Extrato seco de Valeriana officinalis L. (padronizado em no mínimo 0,8% (0,4 mg) de ácidos sesquiterpênicos expressos em ácido valerênico) (Bula).
    • Posologia: 1 comprimido, 3 vezes ao dia, a cada 8 horas (Bula). Recomenda-se tomar 30 minutos a 2 horas antes de dormir (Bula).
    • É necessário realizar um washout para evitar a síndrome de abstinência (Bula).

Indicações Clínicas

Insônia e Ansiedade

A valeriana é classificada como um sedativo hipnótico leve (5). Seu efeito sedativo é atribuído à ação sinérgica dos diferentes compostos presentes no extrato (1). Em humanos, observou-se uma ação hipnótica suave com melhora dos parâmetros relacionados ao sono, como tempo de latência, horário de despertar, atividade motora noturna e qualidade do sono, sem causar “ressaca” matinal (1).

Alguns estudos sugerem que as atividades sedativas e indutoras do sono são principalmente mediadas pelos valepotriatos, uma vez que uma fração desses constituintes demonstrou efeitos sedativos, miorrelaxantes centrais, anticonvulsivantes, vasodilatadores coronarianos e antiarrítmicos em modelos animais (1).

Outro mecanismo proposto envolve a modificação no transporte, liberação e degradação do GABA (2, 5). A inibição da degradação do GABA pelo ácido valerênico leva ao seu aumento, resultando em um efeito inibitório similar aos benzodiazepínicos (1, 5). Além disso, o extrato e o ácido valerênico são agonistas parciais do receptor 5-HT5a da serotonina, sugerindo um papel dessa via em seu efeito sedativo (1).

Apesar de vários estudos serem favoráveis à valeriana, é importante ressaltar que, quanto maior o rigor metodológico das pesquisas, menor tem sido a evidência de melhora na qualidade e latência do sono (2). Na fitoterapia, é desafiador definir a bioequivalência entre diferentes extratos de uma mesma espécie, pois a composição de cada extrato pode variar em função de diversos fatores, desde o cultivo até os métodos de preparo do fitoterápico (1).

No tratamento da ansiedade, a associação de V. officinalis com Hypericum perforatum (hipérico) demonstrou ser superior ao Diazepam (4, 5). Outra associação recomendada é a de Humulus lupulus com V. officinalis, em virtude dos efeitos sinérgicos das duas espécies, que atuam pela modulação dos receptores adenosinérgicos (A1), melatoninérgicos (MT1 e MT2), e 5-HT (serotoninérgicos), além de aumentar a atividade gabaérgica (4, 5).

Hipertensão

A valeriana é indicada para quadros de hipertensão acompanhados de ansiedade (1). No entanto, é fundamental ter cautela em pacientes que utilizam anti-hipertensivos, pois a valeriana pode potencializar o efeito desses medicamentos, levando a quadros de hipotensão (1).


Contraindicações, Toxicidade e Efeitos Colaterais

A maioria dos estudos concorda que a valeriana é segura, e os efeitos colaterais são raros e de leve intensidade (5). Estes podem incluir dores de cabeça e distúrbios gastrointestinais, como náuseas e cólicas abdominais (5). A diarreia também pode ser um efeito colateral (2).

A valeriana não é indicada durante a gravidez e a lactação (1). Não há estudos suficientes para crianças entre 3 e 12 anos (5). Não há indícios de toxicidade associada ao seu uso (1).

É crucial estar ciente de que a valeriana pode potencializar o efeito de anestésicos (1) e de anti-hipertensivos, podendo causar hipotensão (1).


Referências Bibliográficas

  1. SAAD, G. de A.; LÉDA, P. H. de O.; SÁ, I. M.; SEIXLACK, A. C. Fitoterapia Contemporânea – Tradição e Ciência na Prática Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 441 p.
  2. FERNÁNDEZ-SAN-MARTÍN, M. I. et al. Effectiveness of Valerian on insomnia: A meta-analysis of randomized placebo-controlled trials. Sleep Med, v. 11, n. 6, p. 505–511, 2010. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.sleep.2009.12.009.
  3. PANIZZA, S. T. et al. Uso Tradicional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. 1. ed. São Paulo: CONBRAFITO, 2012. 267 p.
  4. MASANA, M. F. et al. Dietary patterns and their association with anxiety symptoms among older adults: The ATTICA study. Nutrients, v. 11, n. 6, p. 1–12, 2019.
  5. BACELAR, L. R. P. Jr. et al. III Consenso Brasileiro de Insônia • 2013: Do Diagnóstico ao Tratamento. [S. l.: s. n.], 2013.

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