Varfarina: Farmacologia, Monitoramento e Interações Clínicas


Varfarina: Farmacologia, Monitoramento e Interações Clínicas


Introdução

A varfarina é um anticoagulante oral de grande relevância clínica, sendo o mais amplamente utilizado em diversas condições trombóticas. No entanto, sua natureza de baixa margem de segurança e a necessidade de monitoramento rigoroso a tornam um fármaco complexo de gerenciar.


Mecanismo de Ação

A varfarina e outros antagonistas da vitamina K exercem seu efeito anticoagulante apenas in vivo. Isso significa que eles não promovem a coagulação quando adicionados ao sangue in vitro (2). Seu mecanismo de ação principal reside na inibição da síntese hepática de fatores de coagulação dependentes da vitamina K, especificamente os fatores II (protrombina), VII, IX e X, bem como as proteínas C e S (2).


Administração e Farmacocinética

A varfarina é rapidamente e completamente absorvida após a ingestão oral (2). Embora o pico de concentração plasmática ocorra aproximadamente 1 hora após a administração, o pico de efeito anticoagulante se manifesta cerca de 48 horas depois (2). Este atraso é devido ao tempo necessário para a degradação dos fatores de coagulação já existentes no sangue. O efeito no tempo de protrombina (TP) inicia-se entre 12 a 16 horas e perdura por cerca de 4 a 5 dias (2).

O manejo do tratamento com varfarina é desafiador, não apenas pelo atraso no pico de efeito, mas também por sua susceptibilidade à influência de diversos fatores externos (2).

Monitoramento Terapêutico

O efeito da varfarina é monitorado através do RNI (Razão Normalizada Internacional) ou TP (Tempo de Protrombina), que mede o tempo necessário para a coagulação sanguínea citratada após a adição de Ca2+ e tromboplastina padronizada (2). A dose da varfarina é ajustada para atingir um RNI entre 2 e 4, sendo que o alvo preciso depende da situação clínica específica do paciente (2).


Fatores que Influenciam a Ação da Varfarina

A eficácia da varfarina pode ser alterada por diversos fatores, exigindo ajustes na dosagem para manter a faixa terapêutica e minimizar riscos.

Fatores que Potencializam a Varfarina:

  • Doenças:
    • Doença hepática: Comprometimento da função hepática interfere diretamente na síntese dos fatores de coagulação, potencializando o efeito da varfarina (2).
    • Doenças que aumentam o metabolismo por acelerarem a degradação dos fatores de coagulação (2).
  • Fármacos: Diversos fármacos podem potencializar o efeito da varfarina por diferentes mecanismos, como inibição do metabolismo hepático da varfarina ou deslocamento de sua ligação a proteínas plasmáticas (2).

Fatores que Diminuem o Efeito da Varfarina:

  • Estado Fisiológico / Doença:
    • Gestação: A ação da varfarina é reduzida com o aumento da síntese de fatores de coagulação (2).
    • Hipotireoidismo: Há diminuição da degradação dos fatores de coagulação, o que pode reduzir o efeito da varfarina (2).
  • Fármacos: Diversos fármacos podem influenciar o medicamento, incluindo a vitamina K, que é um antagonista direto do mecanismo da varfarina (2).

Interação Medicamentosa

Interações farmacodinâmicas são comuns com a varfarina:

  • Interação Aditiva: A administração concomitante de varfarina com vitamina E pode aumentar o risco de hemorragias devido a um efeito farmacodinâmico aditivo (1).
  • Interação Antagonista: A associação de varfarina com vitamina K resulta em uma interação farmacodinâmica antagonista, pois a vitamina K é essencial para a síntese dos fatores de coagulação que a varfarina inibe (1).

Contraindicações e Cuidados Especiais

A varfarina é teratogênica e é capaz de atravessar a placenta (2). Por essa razão, seu uso é contraindicado nos primeiros meses gestacionais e também nos últimos, devido ao risco de causar hemorragia intracraniana no feto durante o parto (2).

Embora a varfarina apareça no leite materno, seu tratamento em mães lactantes geralmente não impõe riscos ao bebê. Isso ocorre porque recém-nascidos são rotineiramente suplementados com vitamina K para prevenir a doença hemorrágica do recém-nascido, o que mitiga qualquer potencial efeito anticoagulante do fármaco no lactente (2).


Referências Bibliográficas

  1. COZZOLINO, S. Biodisponibilidade de Nutrientes. 6. ed. São Paulo: Manole, 2020. 934 p.
  2. RITTER, J. M. et al. Rang & Dale Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. 789 p.

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