Vida Adulta Intermediária: Desenvolvimento Físico e Cognitivo


Vida Adulta Intermediária: Desenvolvimento Físico e Cognitivo


Introdução

A vida adulta intermediária é cronologicamente definida como o período entre 40 e 65 anos, embora essa delimitação seja arbitrária e não haja um consenso universal. Dados do estudo de Meia-Idade nos Estados Unidos (MIDUS) indicam que a maioria das pessoas nessa faixa etária apresenta boas condições físicas, cognitivas e emocionais, além de uma satisfatória qualidade de vida (1). Contudo, a experiência da meia-idade é multifacetada, influenciada por saúde, gênero, raça/etnia, nível socioeconômico, coorte cultural, personalidade, situação conjugal e parental, e emprego (1). Altos níveis de bem-estar psicológico, por exemplo, predizem indicadores positivos de saúde, como perfil lipídico, pressão arterial, resistência à insulina, saúde cardiovascular, obesidade e problemas crônicos (1). Fatores psicológicos, como bem-estar e senso de controle pessoal, exercem maior influência em indivíduos com baixa escolaridade ou baixo status social (1). A meia-idade é marcada por crescentes diferenças individuais e múltiplas trajetórias de vida, podendo ser um período de declínio e perda ou de domínio, competência e crescimento (1).


Desenvolvimento Físico na Meia-Idade

Funções Sensoriais e Psicomotoras

Do período da jovem idade adulta até os anos intermediários, as mudanças sensoriais e motoras são quase imperceptíveis, até que se tornam notáveis em atividades diárias (1). Problemas visuais relacionados à idade ocorrem principalmente em cinco áreas: visão de perto, visão dinâmica (leitura de sinais em movimento), sensibilidade à luz, busca visual e velocidade de processamento de informação visual (1).

A presbiopia, dificuldade em focar objetos próximos, é comum com o envelhecimento (1). A incidência de miopia (vista curta) também aumenta durante toda a meia-idade. Cerca de 12% dos adultos de 45 a 64 anos experimentam declínios em sua visão, e aos 65 anos, 36,6% terão alguma forma de deficiência visual (1). Devido a alterações no olho, necessitam de aproximadamente um terço a mais de luminosidade para compensar a perda de luz que chega à retina (1).

A perda gradual de audição relacionada à idade é chamada de presbiacusia, raramente percebida no início da vida, mas geralmente acelera e torna-se perceptível na faixa dos 50 anos. A presbiacusia normalmente começa com sons mais agudos, menos cruciais para a compreensão da fala, e gradualmente se estende aos mais graves (1). Dos 40 aos 49 anos, aproximadamente 7% dos adultos apresentam perda auditiva moderada, número que sobe para 13% entre 50 e 59 anos (1). Contudo, entre 70 e 79 anos, quando mais de 50% dos adultos têm perda auditiva leve a moderada, alguns começam a apresentar perda profunda ou total, e o problema se torna significativo (1). A dificuldade em escutar bem a fala pode isolar os adultos, levando à solidão e à depressão (1). O gênero é um fator: a perda auditiva avança mais rapidamente em homens do que em mulheres. No entanto, o fator mais importante é o ruído ambiental. Estima-se que 16% da perda auditiva em adultos globalmente possa ser atribuída a ruídos no ambiente de trabalho (1). Embora protetores auriculares tenham diminuído o impacto do ruído ocupacional, o “ruído social” (shows, fones de ouvido) aumentou (1).

A sensibilidade gustativa e olfativa geralmente diminui na meia-idade (1). Cerca de 13,5% dos adultos com mais de 40 anos têm problemas de olfato, 17,3% com paladar e 2,2% com ambos (1). Aos 80 anos, mais de 75% dos adultos apresentam declínios. Estes são mais comuns em homens, afro-americanos, pessoas que consomem grandes quantidades de álcool e adultos com doenças cardiovasculares (1). À medida que as papilas gustativas se tornam menos sensíveis e o número de células olfativas diminui, os alimentos podem parecer mais insípidos (1). Esses declínios afetam a qualidade de vida e estão associados às doenças de Alzheimer e Parkinson, além do risco de mortalidade (1).

Manter-se fisicamente ativo tem amplos efeitos positivos em quase todos os sistemas corporais, incluindo marcadores de saúde física (menor risco cardiovascular), psicológicos (menor risco de depressão) e cognitivos (menor risco de demência) (1).

Certa perda de força muscular é geralmente notada aos 45 anos; 10 a 15% da força máxima pode ter sido perdida aos 60 anos. Além disso, mudanças na fibra muscular esquelética causam decréscimos na capacidade de contração rápida e forte, e as fibras perdem parte da sua capacidade de produção de ATP com a idade, produzindo menos energia molecular (1). A destreza manual, especialmente em homens e na mão não dominante, geralmente torna-se menos eficiente com a idade (1). O tempo de reação simples (ex: pressionar um botão quando uma luz se acende) diminui muito pouco por volta dos 50 anos, mas o tempo de reação de escolha (ex: pressionar um de quatro botões numerados quando o mesmo número aparece em uma tela) torna-se gradualmente mais lento ao longo da vida adulta (1).

Cérebro na Meia-Idade

O cérebro em processo de envelhecimento pode ser caracterizado por trabalho mais lento e dificuldade em multitarefa (1). Esse processo afeta múltiplas tarefas em diversas áreas, desde a compreensão de linguagem complexa até a condução veicular e a aprendizagem de novas habilidades. O que essas tarefas têm em comum é a necessidade de processar rapidamente informações complexas e prestar atenção a estímulos relevantes enquanto se ignora os irrelevantes. A capacidade de ignorar distrações, em particular, declina gradualmente com a idade, tornando a multitarefa cada vez mais desafiadora (1).

Com a idade, o volume de substância cinzenta diminui (1). A mielina, a bainha de gordura que envolve os axônios nervosos e acelera os impulsos cerebrais, começa a degenerar com a idade (1). A dimensão e o local específico dessas mudanças na substância cinzenta e branca estão associados à gravidade da desaceleração do processamento e à área da cognição afetada (1).

Apesar de prováveis, os declínios não são inevitáveis nem necessariamente permanentes (1). Dois fatores importantes são manter a mente e o corpo ocupados (1). Embora os efeitos sejam pequenos, meta-análises revelam que a atividade física e a boa forma estão associadas a maior volume de substância branca e cinzenta (1). Além disso, a atividade física na meia-idade está positivamente associada à função cognitiva nesse período e à proteção contra declínios (1). Análises de intervenções de exercícios aeróbicos e treino de resistência demonstram eficácia modesta na melhoria da atenção, velocidade de processamento, funcionamento executivo e memória (1).

Manter a mente ocupada também é importante (1). Adultos que leem e escrevem regularmente ou trabalham em um ambiente cognitivamente estimulante têm maior probabilidade de preservar suas funções cognitivas (1). Intervenções cognitivas e estimulação mental também são eficazes na melhoria do funcionamento (1). Mesmo com declínios, o conhecimento baseado na experiência pode compensar as alterações físicas. Por exemplo, adultos de meia-idade são melhores motoristas do que os mais jovens, pois os mais experientes antecipam riscos, analisando o ambiente, enquanto os novatos tendem a olhar para frente e reagir apenas a riscos iminentes (1).

Transformações Estruturais e Sistêmicas

Por volta da quinta ou sexta década de vida, a pele pode tornar-se flácida e menos firme devido ao afinamento da camada de gordura subcutânea, ao enrijecimento das moléculas de colágeno e à fragilidade das fibras de elastina (1). Os cabelos podem ficar mais finos pela diminuição da taxa de substituição e mais grisalhos devido à redução da produção de melanina (1). Pessoas de meia-idade tendem a ganhar peso devido ao acúmulo de gordura corporal e a perder altura em razão da contração dos discos intervertebrais (1).

A densidade óssea atinge seu auge por volta dos 20 ou 30 anos. A partir daí, há alguma perda óssea, pois mais cálcio é absorvido do que reposto, tornando os ossos mais finos e frágeis (1). O tabagismo, o consumo de álcool e a má alimentação no início da vida adulta contribuem para acelerar a perda óssea, que pode ser atenuada por exercícios aeróbicos, musculação e maior ingestão de cálcio e vitamina C (1).

A maioria das pessoas de meia-idade apresenta pouco ou nenhum declínio no funcionamento dos órgãos. Em alguns, no entanto, doenças cardíacas começam a surgir no final dos 40 ou início dos 50 anos, com espessamento e enrijecimento das paredes arteriais (1). A temperatura corporal de pessoas mais velhas é menor, e elas são menos capazes de manter uma temperatura adequada em ambientes extremos (1). O sono também é afetado: adultos de meia-idade têm menos tendência a cochilar durante o dia, precisam de menos sono para se manterem alertas e apresentam reduções no sono de ondas lentas à noite em comparação com adolescentes e adultos jovens (1).


Sexualidade e Funcionamento Reprodutivo

Embora ambos os sexos enfrentem perdas na capacidade reprodutiva durante a vida adulta intermediária — as mulheres tornam-se incapazes de gerar filhos e a fertilidade masculina começa a declinar —, o prazer sexual pode continuar por toda a vida (1).

A Menopausa e Seus Significados

A menopausa ocorre quando a mulher para permanentemente de ovular e menstruar, tornando-se incapaz de conceber. Geralmente, considera-se que isso acontece um ano após o último ciclo menstrual, em média entre 50 e 52 anos, mas na maioria das mulheres ocorre entre 45 e 55 anos (1). A menopausa não é um evento único, mas um processo, denominado transição menopáusica, que começa com a perimenopausa (também chamada climatério). Durante esse período, a produção de óvulos diminui e os ovários produzem menos estrogênio. A menstruação torna-se menos regular, com menor fluxo e períodos mais longos entre os ciclos, até cessar completamente. A transição menopáusica geralmente inicia entre 35 e 45 anos e pode durar de 3 a 5 anos (1).

Sintomas da Menopausa

Os sintomas mais comuns são as ondas de calor e os suores noturnos, sensações súbitas de calor que perpassam o corpo devido a alterações erráticas da secreção hormonal que afetam os centros cerebrais de controle da temperatura (1). As ondas de calor estão associadas à ansiedade, depressão e maior risco de doenças cardíacas (1). Cerca de 80% das mulheres na menopausa sentem ondas de calor, sendo o motivo mais comum para buscarem cuidados médicos relacionados à menopausa. A duração média dos sintomas é de mais de 5 anos (1). Algumas mulheres consideram a relação sexual dolorosa devido ao afinamento dos tecidos vaginais e à lubrificação insuficiente (1). Problemas sexuais também podem ser aliviados com terapia de casais para mulheres na pós-menopausa e seus parceiros (1). Além disso, algumas mulheres na idade da menopausa podem sofrer transtornos do humor, como irritabilidade, nervosismo e depressão (1). De modo geral, pesquisas sugerem que alguns sintomas da menopausa podem estar relacionados a outras alterações naturais do envelhecimento (1).

Tratamento dos Sintomas da Menopausa

A terapia hormonal na menopausa parece ser a intervenção mais eficaz para suores noturnos, ondas de calor e deterioração do trato urinário e vaginal. Também auxilia em outros sintomas, como dores musculares e articulares, variações de humor, problemas para dormir e disfunção sexual (1). No entanto, é crucial ressaltar que a terapia hormonal aumenta o risco de doenças cardíacas, problemas de coagulação perigosos, acidente vascular cerebral (AVC) e perda óssea, especialmente para mulheres com mais de 60 anos ou que usam hormônios por períodos prolongados (1). Devido a esses riscos, muitas mulheres preferem não recorrer à terapia hormonal. Nesses casos, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, geralmente prescritos para depressão, podem ser utilizados (1).

Funcionamento Sexual Masculino

A partir dos 30 anos, os níveis de testosterona começam a diminuir em cerca de 1% ao ano, embora com amplas variações individuais (1). Embora os homens ainda possam gerar filhos, a contagem de esperma diminui. Além disso, a qualidade genética do esperma também diminui, e pesquisas indicam que a idade paterna avançada pode ser uma fonte de defeitos congênitos (1). O declínio da testosterona tem sido associado a reduções na densidade óssea e na massa muscular, bem como à diminuição da energia, baixo impulso sexual, sobrepeso, irritabilidade emocional e humor deprimido (1). Baixos níveis de testosterona também foram associados ao diabetes e a doenças cardiovasculares, e teoriza-se que aumentem a mortalidade (1).

Muitos homens não sofrem prejuízos significativos devido a essa diminuição da testosterona. No entanto, alguns desenvolvem disfunção erétil (DE), conhecida como impotência, definida como a incapacidade persistente de obter e manter o pênis suficientemente ereto para um desempenho sexual satisfatório (1). Uma análise recente de estudos internacionais sobre disfunção erétil observou estimativas altamente divergentes, mas em todos os casos, a DE aumenta com a idade (1).

Em geral, em homens com menos de 40 anos, as taxas de prevalência variam de 1-10%. Dos 40-49 anos, a prevalência internacional varia de 2-15%, subindo para 20-40% na década dos 60-69. Com mais de 70 e 80 anos, praticamente todos os países apresentavam taxas de prevalência de 50-100% (1). Nos Estados Unidos, cerca de 61% dos homens de 40-69 anos e mais de 77% dos homens com mais de 70 anos têm DE (1). As diretrizes de tratamento afirmam que os médicos devem primeiro aconselhar os homens a instituírem modificações em seus estilos de vida para melhorar a saúde geral, o que também beneficiaria a DE (1). Se não houver um problema físico aparente, psicoterapia ou terapia sexual (com apoio e envolvimento da parceira) pode ajudar (1).

Atividade Sexual

O fator mais importante para determinar a atividade sexual é a presença de um parceiro (1). Mulheres casadas e coabitantes têm probabilidade cerca de 8 vezes maior de serem sexualmente ativas (1). Dos 40 aos 49 anos, quase 75% das mulheres que moravam sozinhas haviam feito sexo nos 6 meses anteriores, contra quase 90% das casadas ou coabitantes. Dos 50 aos 59 anos, 67,7% das mulheres que moravam sozinhas haviam feito sexo nos últimos 6 meses, contra quase 87% das casadas e coabitantes (1). Observou-se também que as ondas de calor estão associadas a declínios na atividade sexual (1).

Questões não fisiológicas também impactam a atividade sexual. Por exemplo, a imagem corporal pode influenciar o desejo de fazer sexo. Mulheres que têm confiança em seus corpos e alto nível de autoaceitação tendem a ter maiores níveis de satisfação sexual, enquanto as mais inseguras sobre sua aparência tendem a relatar declínios (1). A qualidade do relacionamento do casal também é importante. Quando um casal se comunica bem, beija-se e aconchega-se frequentemente e é fisicamente carinhoso, essas características estão associadas a maior satisfação sexual (1).


Saúde Física e Mental

Tendências na Saúde na Meia-Idade

A hipertensão é uma preocupação crescente como fator de risco para doenças cardiovasculares e renais (1). Em 2015-2016, 43,4% dos homens e 38% das mulheres norte-americanos entre 45 e 64 anos foram diagnosticados com hipertensão (1), que é a maior causa prevenível de morte precoce no mundo (1). O diabetes também é uma preocupação, com aproximadamente 13,2% dos adultos de 45 a 64 anos diagnosticados (1). Pessoas com diabetes de início na idade adulta frequentemente não percebem que a possuem até desenvolverem complicações graves, como doenças cardíacas, AVCs, cegueira, doenças renais ou perda de membros (1).

Influências Comportamentais sobre a Saúde

Embora o ideal seja a adesão a um estilo de vida saudável ao longo da vida, mudanças em décadas posteriores podem reverter parte dos danos (1). Do ponto de vista da qualidade de vida, pessoas que cuidam da saúde não apenas vivem mais tempo, mas também têm períodos mais breves de incapacidade no final da vida (1). A atividade física na meia-idade é um fator de proteção importante, especialmente dado que os declínios na saúde cardiovascular são abruptos após os 45 anos (1). Infelizmente, pesquisas sugerem que a pessoa média realiza cerca de meia hora a menos de atividade física por dia ao longo de 10 anos, do início da vida adulta à meia-idade, trocando momentos de atividade por sedentarismo (1). Adultos que praticam exercícios moderados ou vigorosos regularmente têm probabilidade cerca de 35% menor de morrer nos oito anos seguintes do que aqueles com estilos de vida sedentários (1).

Nível Socioeconômico e Saúde

Pessoas com um baixo nível socioeconômico (NSE) tendem a ter saúde mais fraca, expectativa de vida mais curta, mais limitações da atividade devido a doenças crônicas e nível de bem-estar mais baixo do que as pessoas com NSE mais alto (1). No entanto, existem amplas diferenças individuais em termos de saúde entre adultos de baixo NSE. As influências protetoras incluem a qualidade dos relacionamentos sociais e o nível de envolvimento religioso desde a infância (1). As influências negativas incluem a solidão, que tem um efeito negativo no bem-estar físico e mental e representa um risco para a saúde e para a mortalidade (1).

Pessoas com NSE mais alto tendem a ter maior sensação de controle sobre o que lhes acontece, o que atenua sua resposta ao estresse (1). Elas tendem a escolher estilos de vida mais saudáveis e a procurar cuidados médicos e apoio social quando necessário, além de demonstrar maior adesão às modificações de estilo de vida recomendadas para melhorar os índices de saúde (1).

Raça/Etnia e Saúde

Embora a genética possa oferecer algumas pistas sobre as diferenças de saúde em função da raça ou etnia, a pobreza é, muito provavelmente, o maior fator por trás dessa relação (1). Indivíduos que vivem na pobreza geralmente têm pior acesso a serviços de saúde, vidas mais estressantes e maior exposição a toxinas potenciais em seu ambiente cotidiano (1).

Gênero e Saúde

As mulheres têm uma expectativa de vida mais alta do que os homens e taxas de mortalidade mais baixas ao longo da vida (1). A maior longevidade feminina foi atribuída à proteção genética conferida pelo segundo cromossomo X e, antes da menopausa, aos efeitos benéficos do estrogênio, tanto sobre a saúde cardiovascular quanto sobre a cognitiva (1). Entretanto, fatores psicossociais e culturais, como a maior propensão dos homens a assumir riscos, também podem desempenhar um papel (1). Os homens tendem a considerar que admitir uma doença não é masculino e que buscar ajuda significa perda de controle, sendo menos propensos a procurar auxílio profissional para problemas de saúde ou a passar a noite no hospital (1). Ambos os gêneros, no entanto, apresentam aproximadamente o mesmo nível de limitações nas atividades diárias (12,8% para homens vs. 12,5% para mulheres) devido a doenças crônicas (1).

Estresse na Meia-Idade

O estresse é o dano que ocorre quando as demandas ambientais percebidas, ou estressores, excedem a capacidade de uma pessoa de enfrentá-los (1). O estresse na meia-idade pode originar-se de mudanças de papel, transições de carreira, filhos crescidos saindo de casa e a renegociação de relacionamentos familiares (1). A meia-idade pode ser um período crítico no ciclo da vida, e a forma como os desafios são enfrentados nesse ponto pode ter consequências para a trajetória do indivíduo nas fases posteriores, que pode tomar uma direção positiva ou negativa (1). Fontes comuns de estresse incluem saúde, trabalho e dinheiro, dívidas, instabilidade habitacional e fome (1). A discriminação também é um problema, com preocupações variando conforme a raça/etnia (1).

A resposta clássica ao estresse — luta ou fuga — pode ser mais característica dos homens, ativada em parte pela testosterona (1). O padrão de resposta das mulheres é mais caracteristicamente de cuidar e ajudar — atividades carinhosas que promovem segurança e confiança nas redes de apoio para troca de recursos e responsabilidades (1).

Estresse e Saúde

O sistema de resposta ao estresse e o sistema imunológico estão interligados e trabalham juntos para manter o corpo saudável (1). O estresse crônico pode levar a um estado inflamatório persistente e, com o tempo, à doença (1). Além disso, a propensão a responder de forma negativa ao estresse pode interagir com predisposições genéticas. Assim, mesmo diante de estressores semelhantes, algumas pessoas respondem mais negativamente do que outras (1). Pesquisas mostram que diversos eventos de vida podem ser altamente estressantes, incluindo divórcio, morte de um cônjuge ou outro membro da família, ou perda de um emprego (1).

Em geral, o estresse agudo, ou de curto prazo, fortalece o sistema imunológico. Estamos adaptados para lidar com eventos assim, e nossos corpos reagem rápida e eficientemente e então se recuperam deles (1). Estressores diários, como irritações, frustrações e sobrecargas, podem ter um impacto menos grave do que as mudanças de vida, mas seu acúmulo também pode afetar a saúde e o ajustamento emocional (1).

Emoções e Saúde

Emoções negativas, como ansiedade e desespero, estão frequentemente associadas à saúde física e mental precária, e emoções positivas, como esperança, a boa saúde e vida mais longa (1). As emoções negativas servem a funções adaptativas importantes e, sob as circunstâncias apropriadas, são uma resposta saudável aos eventos vivenciados (1). Quando induzidas em contextos negativos, as emoções negativas podem ter consequências benéficas, como quando o medo de uma doença motiva o indivíduo a marcar uma consulta e fazer um exame (1).

No entanto, quando o humor negativo é excessivo, duradouro ou frequente demais, os efeitos podem prejudicar o corpo, suprimir o sistema imunológico e aumentar a suscetibilidade a doenças (1). A hostilidade está associada a maior risco de doença cardíaca coronariana e mortalidade para mulheres após a menopausa e a maior risco de mortalidade por ataque cardíaco para homens (1).

O oposto ocorre para emoções positivas. O bem-estar e as emoções positivas estão associados a desfechos de saúde positivos de curto e longo prazo, além de menor mortalidade (1). A esperança e a curiosidade são preditivas de menor probabilidade de hipertensão, diabetes e infecções do trato respiratório (1). Traços de personalidade como otimismo e conscienciosidade estão associados a melhor saúde e vida mais longa (1). As emoções positivas também têm efeitos indiretos na saúde: uma perspectiva emocional positiva motiva as pessoas a terem atitudes mais saudáveis, como sono e exercícios regulares, e a prestarem mais atenção a informações relacionadas à saúde (1). Elas também conseguem suavizar o impacto de eventos de vida estressantes e auxiliar as pessoas a se sentirem mais conectadas às outras (1).

Saúde Mental

A depressão afeta negativamente a saúde, tornando a prevenção e o tratamento questões importantes (1). Adultos com angústia psicológica séria são mais propensos a serem diagnosticados com doenças cardíacas, diabetes, artrite ou AVC, e a relatar a necessidade de ajuda para atividades da vida diária, como tomar banho e vestir-se (1). Mesmo adultos não diagnosticados com transtornos mentais podem sofrer os efeitos negativos em nível subclínico (1).


Desenvolvimento Cognitivo na Meia-Idade

Duas importantes linhas de pesquisa buscaram medir a capacidade cognitiva na meia-idade: o Estudo Longitudinal de Seattle, de K. Warner Schaie, e as pesquisas de Horn e Cattell sobre a inteligência fluida e cristalizada (1).

Schaie: Estudo Longitudinal de Seattle

Em termos de cognição, sob muitos aspectos, as pessoas de meia-idade estão em seu ápice (1). O Estudo de Seattle investigou 500 homens e mulheres, com idades entre 22 e 67 anos, acompanhados longitudinalmente e reavaliados a cada 7 anos em testes cronometrados de seis capacidades mentais primárias: compreensão verbal, fluência verbal, aptidão numérica, orientação espacial, raciocínio indutivo e rapidez perceptiva (1). Nesse estudo, a maioria dos participantes demonstrou uma incrível estabilidade ao longo do tempo, sem reduções significativas na maioria das capacidades até após os 60 anos (1). Praticamente nenhum declinou em diversos aspectos, e a maioria melhorou em algumas áreas. No entanto, ocorreram amplas diferenças individuais (1).

Não foram encontrados padrões uniformes de mudança relacionados à idade entre capacidades cognitivas. Por exemplo, diversas capacidades atingiram seu pico durante a meia-idade, e a compreensão verbal apresentou melhorias até a velhice (1). Por outro lado, cerca de 13 a 17% dos adultos diminuíram em aptidão numérica, memória de evocação ou fluência verbal entre as idades de 39 e 53 anos (1). Indivíduos com maior pontuação tendiam a ter altos níveis educacionais, personalidades flexíveis, viver em famílias intactas, buscar ocupações e outras atividades cognitivamente complexas, ser casados com alguém cognitivamente mais avançado, estar satisfeitos com suas realizações e ter alta pontuação na dimensão da personalidade de abertura à experiência (1). Dado o forte desempenho cognitivo da maioria das pessoas, a evidência de declínio cognitivo substancial em pessoas com menos de 60 anos pode indicar um problema neurológico (1). Particularmente, o declínio na meia-idade em memória de evocação e fluência verbal, uma medida do funcionamento executivo, pode predizer prejuízo cognitivo na velhice (1).

Horn e Cattell: Inteligências Fluida e Cristalizada

Para descrever os diferentes tipos de inteligência, Raymond Cattell e John Horn as diferenciaram em dois aspectos (1):

  • Inteligência Fluida: Capacidade de resolver problemas novos de improviso, exigindo pouco ou nenhum conhecimento prévio, como perceber que um cabide pode ser usado para consertar uma privada com vazamento ou descobrir o padrão em uma sequência de imagens (1). Normalmente, a inteligência fluida atinge o ápice no período adulto jovem (1). Dos 20 aos 60 anos, o indivíduo médio perde mais de um desvio-padrão em termos de inteligência fluida (1). A capacidade da memória de trabalho também declina com a idade (1).
  • Inteligência Cristalizada: Capacidade de lembrar e utilizar a informação adquirida ao longo da vida, como encontrar um sinônimo para uma palavra ou resolver um problema de matemática (1). É “fixa, como a estrutura do gelo” (1). A inteligência cristalizada é medida por testes de vocabulário, conhecimentos gerais e respostas a situações e dilemas sociais, capacidades que dependem amplamente da experiência educacional e cultural (1).

Uma explicação para as melhorias na inteligência cristalizada é que ela aumenta ao longo da meia-idade e frequentemente até próximo do fim da vida (1). Adultos mais velhos podem usar o conhecimento que acumularam para compensar os declínios em tarefas onde a tomada de decisão pode se beneficiar da experiência prévia (1). O desempenho cognitivo dos indivíduos oferece informações sobre sua saúde em geral (1). A inteligência cristalizada não está associada ao risco de mortalidade quando se consideram fatores sociodemográficos, mas a inteligência fluida é altamente preditiva do risco de mortalidade (1). Além disso, uma grande discrepância entre as inteligências, especialmente em indivíduos com alta escolaridade, pode ser indicativa de declínio cognitivo (1).

Caráter Distinto da Cognição do Adulto

O Papel da Especialização

Por que adultos maduros demonstram crescente competência para resolver problemas em seus campos de trabalho? Uma resposta parece ser o conhecimento especializado, ou expertise — uma forma de inteligência cristalizada relacionada ao processo de encapsulamento (processo que permite que o conhecimento especializado agrupe conhecimentos relevantes para compensar declínios na capacidade de processamento de informações) (1). Os avanços no conhecimento especializado continuam pelo menos durante a vida adulta intermediária e, em geral, não estão relacionados com a inteligência geral (1). Além disso, geralmente não dependem do sistema de processamento de informações do cérebro, pois as habilidades de inteligência fluida de alguns adultos se tornam encapsuladas, ou seja, dedicadas ao trabalho com tipos específicos de conhecimento (1).

Pessoas de meia-idade podem demorar mais que os jovens para processar informações novas. No entanto, na resolução de problemas dentro de seu campo de especialização, o conhecimento encapsulado compensa o déficit e permite que resolvam o problema de forma rápida e eficaz (1). Especialistas percebem aspectos diferentes de uma situação que os novatos não percebem, e processam a informação e resolvem problemas de maneira distinta (1). Por exemplo, estudos de imagem mostram que, ao completar uma tarefa em seu domínio, os especialistas apresentam ativação cerebral em áreas associadas à memória de longo prazo, o que lhes permite integrar informações nesse tipo de memória de trabalho em fragmentos e, portanto, ter um desempenho superior aos novatos (1). O pensamento especializado muitas vezes parece automático e intuitivo. Especialistas geralmente não têm plena consciência dos processos mentais que sustentam suas decisões. Esse tipo de pensamento intuitivo, baseado na experiência, também é característico do que foi denominado pensamento pós-formal (1).

Pensamento Integrativo

Uma característica importante do pensamento pós-formal é sua natureza integrativa (1). Adultos maduros interpretam o que leem, veem ou ouvem em termos do significado que isso tem para eles (1). Em vez de aceitar algo por seu resultado visível, eles o filtram por meio de suas respectivas experiências de vida e aprendizado anterior (1). A sociedade se beneficia dessa característica integrativa do pensamento do adulto (1).

Criatividade

Inteligência e criatividade não são a mesma coisa (1). Embora um nível básico de inteligência seja necessário, a realização criativa não está fortemente relacionada à inteligência geral após esse limiar (1). A inteligência parece ser mais influenciada por processos genéticos do que a criatividade (1). A inteligência apresenta alta herdabilidade, que aumenta com a idade à medida que os indivíduos envelhecem e buscam mais experiências alinhadas com suas inclinações (1). Por outro lado, não foram identificadas fortes contribuições genéticas para o desempenho criativo (1).

Muitas crianças demonstram forte potencial criativo, mas, em adultos, o que conta é o desempenho criativo — o que e quanto uma mente criativa produz (1). A criatividade parece ser produto de contextos sociais específicos, bem como de inclinações individuais (1). Em relação ao ambiente, a criatividade parece desenvolver-se a partir de experiências diversas que enfraquecem as restrições convencionais e de experiências desafiadoras que fortalecem a capacidade de perseverar e superar obstáculos (1). Diferenças individuais também podem tornar a criatividade mais provável. Por exemplo, pessoas altamente criativas têm iniciativa própria e assumem mais riscos (1). Mas só isso não basta. A realização criativa extraordinária exige conhecimento profundo e altamente organizado de um assunto e uma forte ligação emocional com o trabalho, que incentiva o criador a perseverar diante dos obstáculos (1).

Criatividade e Idade

Em testes psicométricos de pensamento divergente, as diferenças de idade aparecem consistentemente, com o pico, em média, perto dos 40 anos (1). Depois disso, elas permanecem relativamente estáveis por algum tempo e então decaem após os 70 anos (1). Uma pessoa na última década de uma carreira criativa produz somente a metade do que produzia no final dos 30 ou início dos 40 anos, ainda que bem mais do que aos 20 anos (1). No entanto, há indícios de que pode haver falhas ou interpretações nesse dado. Por exemplo, não está claro que a produtividade é a métrica correta para medir a criatividade, especialmente porque algumas pesquisas sugerem que o trabalho de adultos mais velhos permanece inovador ao longo do tempo (1). Mas isso também depende fortemente de como definimos a criatividade (1).

Trabalho e Desenvolvimento Cognitivo

O trabalho pode influenciar o funcionamento cognitivo (1). Adultos podem influenciar seu desenvolvimento cognitivo pelas escolhas ocupacionais que fazem (1). Por exemplo, pensadores flexíveis tendem a buscar e obter trabalhos substancialmente complexos, que exigem pensamento e julgamento independente (1). Independentemente dos detalhes, pessoas que estão profundamente envolvidas em um trabalho complexo ou estilos de vida cognitivamente estimulantes tendem a apresentar um desempenho cognitivo mais forte do que seus pares à medida que envelhecem (1). Pessoas altamente abertas ao novo têm maior propensão a preservar suas faculdades e apresentar alto desempenho no trabalho (1). Da mesma forma, aqueles que constantemente procuram oportunidades mais estimulantes tendem a se manter mentalmente ativos (1). É interessante que essa associação é bidirecional. Isso sugere que, se o trabalho, tanto na empresa quanto em casa, pudesse tornar-se algo significativo e desafiador, mais adultos poderiam manter ou aprimorar suas capacidades cognitivas, o que parece já estar acontecendo até certo ponto.


Referências Bibliográficas

  1. PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento Humano. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022. v. 1.