Vida adulta intermediaria: Uma Análise do Desenvolvimento Psicossocial e Seus Desafios
Introdução
A meia-idade é um período dinâmico do desenvolvimento humano, caracterizado por uma complexa interação de fatores individuais, sociais e culturais. A trajetória de vida de cada indivíduo se entrelaça com as redes de relacionamentos familiares, sociais e profissionais, sendo moldada por tendências geracionais, de gênero, étnicas, culturais e socioeconômicas. A compreensão dessas interdependências é fundamental para o estudo do desenvolvimento psicossocial nesta fase da vida (1).
Abordagens Teóricas das Mudanças na Meia-Idade
A compreensão das transformações na meia-idade é abordada por diferentes modelos teóricos que buscam explicar as complexidades desse período.
Modelo de Traços
O modelo de traços de personalidade mais reconhecido descreve as diferenças individuais com base em cinco fatores, conhecidos como “Big Five”: Abertura à Experiência, Conscienciosidade, Extroversão, Amabilidade e Neuroticismo (1). Inicialmente, acreditava-se que esses traços eram relativamente contínuos e não sofreriam mudanças significativas após os 30 anos. Contudo, dados mais recentes sugerem que alterações são possíveis durante a meia-idade (1).
A Conscienciosidade (ser intencional, organizado e disciplinado) tende a ser mais elevada na meia-idade, possivelmente devido às demandas profissionais (1). No entanto, as trajetórias de vida individuais podem influenciar esse processo. Por exemplo, comparados a indivíduos que continuam a trabalhar, os aposentados tendem a apresentar aumento na Amabilidade (ser direto, altruísta e modesto) e diminuição na atividade (1). Em contraste, pessoas que se encontram desempregadas involuntariamente podem experimentar reduções na amabilidade e na conscienciosidade, uma relação que se fortalece, especialmente em homens, à medida que o desemprego persiste (1).
Os relacionamentos sociais também desempenham um papel crucial. Homens de meia-idade que se casam novamente tendem a tornar-se menos neuróticos; aqueles que se divorciam podem apresentar diminuição em sua extroversão. Além disso, aumentos na extroversão e amabilidade, bem como reduções no neuroticismo, estão associados a uma maior percepção de apoio social (1). Embora esses cinco traços de personalidade sejam considerados universais, os processos subjacentes a eles provavelmente não o são (1).
Uma pesquisa envolvendo 55 nações revelou que as diferenças de sexo nos traços de personalidade são mais acentuadas em países mais prósperos, onde as mulheres desfrutam de maior igualdade. Nessas nações, as mulheres tendem a relatar níveis mais elevados de neuroticismo, extroversão, amabilidade e conscienciosidade do que os homens (1).
Modelos do Estágio Normativo
Erik Erikson foi o teórico mais influente dos modelos de estágio normativo, propondo que a meia-idade apresenta um desafio específico, com potenciais riscos e desfechos positivos (1). Erikson via os anos em torno dos 40 como o período em que as pessoas ingressam em seu sétimo estágio normativo: generatividade versus estagnação. A generatividade, segundo sua definição, envolve encontrar significado por meio de contribuições à sociedade e a criação de um legado para as gerações futuras (1).
Indivíduos que não encontram uma via para a generatividade correm o risco de se tornar autocentrados, autoindulgentes e estagnados. Adultos que se estagnam podem se sentir desconectados de suas comunidades por não terem encontrado uma maneira de contribuir (1). Erikson acreditava que a generatividade é particularmente proeminente durante a meia-idade devido às demandas de trabalho e família (1). Pesquisas corroboram a ideia de que pessoas de meia-idade apresentam pontuações mais elevadas em generatividade do que as mais jovens ou mais velhas (1).
De modo geral, as mulheres relatam níveis mais altos de generatividade do que os homens, especialmente no início da vida adulta. Para as mulheres, tornar-se mãe não parece ser um momento crucial no desenvolvimento da generatividade. Para os homens, no entanto, ter um filho no início da vida adulta está associado a uma maior generatividade (1).
Para muitos adultos, a generatividade é expressa através da parentalidade, bem como por meio do papel de avós, que geralmente é uma atividade mais tranquila do que ser pai ou mãe (1). Contudo, este não é o único caminho; a generatividade pode ser derivada do envolvimento em múltiplos papéis e expressa por meio de ensino ou aconselhamento, produtividade, criatividade, autogeração ou autodesenvolvimento (1). Independentemente da forma que assume, a generatividade tende a estar associada ao comportamento pró-social. Altos níveis de generatividade estão ligados a desfechos positivos, como maior bem-estar e satisfação na meia-idade e posteriormente na vida adulta, possivelmente pela sensação de ter contribuído significativamente para a sociedade. Além disso, a generatividade está associada a boa saúde e menor risco de incapacidade, declínio cognitivo e mortalidade (1).
Momento dos Eventos: O Relógio Social
Modelos de momentos dos eventos sugerem que, em vez de se basear apenas na idade cronológica, o desenvolvimento é mais influenciado por quando os eventos ocorrem na vida (1). Em outras palavras, o que importa não é ter completado 65 anos, mas sim aposentar-se (1). À medida que as trajetórias individuais se tornam mais variadas, os limites da meia-idade também se tornam mais flexíveis (1).
Pesquisas indicam que diversos fatores afetam a percepção subjetiva do envelhecimento e a entrada na meia-idade (1). Geralmente, as mulheres relatam que a meia-idade começa e termina mais tarde do que os homens, talvez como uma tentativa de evitar a desvalorização social associada à velhice. Com o avanço da idade, as pessoas tendem a relatar que se sentem mais jovens do que sua idade real, e o que consideram “meia-idade”, em contraste com “velho”, se desloca para mais adiante (1).
Muitos adultos de meia-idade parecem bastante capazes de lidar com essa fase da vida, mas pesquisas sugerem que adultos que “saem dos trilhos” podem enfrentar mais dificuldades do que aqueles que seguem a trajetória esperada para sua cultura (1). Existem muitas normas relativas ao momento “certo” para os eventos de vida, mas uma influência particularmente forte, especialmente entre as mulheres, envolve as normas em torno da parentalidade (1).
Dados de uma pesquisa em 25 países europeus, com mais de 43.000 participantes, revelaram que 57,2% dos respondentes consideravam que mulheres com mais de 40 anos geralmente são velhas demais para considerar ter um filho, apesar de estimativas indicarem que apenas cerca de 17% das mulheres de 40 anos são certamente estéreis (1). Mulheres com filhos relatam declínios na ansiedade reprodutiva ao longo do tempo, mas aquelas sem filhos são mais propensas a expressar ansiedade em relação ao envelhecimento reprodutivo (1).
Curiosidade: Pesquisas sugerem que pessoas que são obrigadas a usar uniforme no trabalho apresentam menor morbidade geral do que aquelas que podem escolher o que vestir. Os pesquisadores propõem que as roupas frequentemente atuam como um indicador ambiental para o envelhecimento, e o uso de uniformes anula esse indicador, predispondo o indivíduo a uma melhoria na saúde (1).
Problemas e Temas do Self na Meia-Idade
A meia-idade é um período de importantes reflexões e transições em relação à identidade e ao bem-estar.
Crise da Meia-Idade
Mudanças na personalidade e no estilo de vida que ocorrem entre os 40 e 45 anos são frequentemente atribuídas à chamada crise da meia-idade (1). Em torno dessa idade, muitos indivíduos percebem que não conseguirão realizar seus sonhos de juventude ou que a realização deles não trouxe a satisfação esperada, além de se conscientizarem mais da própria mortalidade (1).
Existem evidências longitudinais e transversais, de múltiplos países, de que, em média, o bem-estar de homens e mulheres diminui gradualmente até atingirem a meia-idade (1). Apesar dessa queda no bem-estar, o termo “crises da meia-idade” é atualmente considerado uma representação imprecisa do que a maioria das pessoas vivencia (1). Indivíduos que experimentam crises na meia-idade geralmente também as têm em outros momentos da vida, sugerindo que a crise da meia-idade pode ser uma manifestação de uma personalidade neurótica, e não um estágio específico do desenvolvimento (1).
Homens e mulheres também diferem quanto aos tipos de questões que precipitam uma crise. Homens relatam mais crises centradas no trabalho, enquanto mulheres relatam mais preocupações relacionadas a relacionamentos e problemas familiares (1). Pode ser mais apropriado considerar a meia-idade um momento decisivo da vida, uma transição psicológica que envolve mudanças ou transformações significativas na percepção do significado, propósito ou direção da própria vida (1).
Os momentos decisivos frequentemente envolvem uma revisão e reavaliação introspectiva de valores e prioridades. A revisão da meia-idade implica reconhecer a finitude da vida e pode ser um período de balanço geral, gerando novas descobertas sobre si mesmo e estimulando correções no projeto e na trajetória da própria vida. Contudo, também pode envolver arrependimento por sonhos não realizados ou a clara consciência de prazos evolutivos — limites de tempo para, por exemplo, a capacidade de ter um filho ou de fazer as pazes com um amigo ou familiar distante (1). O que determina se um momento decisivo se tornará uma crise pode depender menos da idade e mais das circunstâncias e recursos pessoais do indivíduo (1).
Desenvolvimento da Identidade
Embora Erikson tenha definido a formação da identidade como a principal preocupação da adolescência, ele observou que a identidade continua a se desenvolver ao longo de toda a vida adulta.
Processos de Identidade de Susan Krauss Whitbourne
De acordo com a Teoria do Processo de Identidade (TPI) de Susan Krauss Whitbourne, as características físicas, habilidades cognitivas e traços de personalidade são incorporados a esquemas de identidade. Essas percepções de si mesmo são continuamente confirmadas ou revisadas em resposta a novas informações (1).
Piaget descreveu dois processos que foram aplicados no trabalho de compreensão do desenvolvimento da identidade:
- Assimilação: A interpretação de novas informações através de estruturas cognitivas existentes (1). A assimilação da identidade envolve manter um senso consistente de Self diante de novas experiências que não se encaixam no entendimento atual. Informações contraditórias ou confusas são absorvidas sem alterar o próprio esquema de identidade (1).
- Acomodação: Envolve a alteração de estruturas cognitivas para se alinhar mais estreitamente ao que é encontrado (1). A acomodação da identidade, por outro lado, implica ajustar o esquema da identidade para se adequar a novas experiências. O resultado é a descontinuidade do Self, pois a acomodação da identidade envolve a alteração do entendimento sobre si mesmo (1).
Em um cenário ideal, as pessoas alcançam o equilíbrio da identidade, mantendo um senso de Self estável enquanto ajustam seus esquemas para incorporar novas informações, como os efeitos do envelhecimento. Indivíduos que alcançam o equilíbrio da identidade reconhecem as mudanças que ocorrem e respondem com flexibilidade; buscam controlar o que pode ser controlado e aceitar aquilo que não pode (1).
Pessoas que assimilam constantemente podem tentar manter uma autoimagem jovem e ignorar o que está acontecendo com seus corpos. Esse processo de negação pode dificultar a confrontação da realidade do envelhecimento quando ela não puder mais ser ignorada (1). Por outro lado, pessoas que se acomodam constantemente são frágeis e altamente vulneráveis à crítica; suas identidades são facilmente minadas (1). Elas podem reagir de forma exagerada aos primeiros sinais de envelhecimento, como o primeiro cabelo branco, e seu pessimismo pode acelerar seus declínios físico e cognitivo (1).
Generatividade e Identidade
Erikson considerava a generatividade um aspecto da formação da identidade. Pesquisas corroboram que a realização bem-sucedida da identidade está associada à generatividade (1). Uma forma particularmente produtiva de analisar esse fenômeno envolve estudar o equilíbrio entre as demandas do lar e da família, algo geralmente mais difícil para as mulheres do que para os homens (1).
Pesquisas mostram que, para as mulheres, a vivência de múltiplos papéis no início da vida (casada ou solteira, com ou sem filhos, trabalhando fora ou não) impacta o desenvolvimento da identidade (1). Mulheres que desempenhavam mais papéis sociais tendiam a desenvolver um forte senso de identidade e, após seu desenvolvimento, o equilíbrio da identidade estava associado à generatividade e, consequentemente, ao bem-estar, saúde psicológica e resolução bem-sucedida do conflito entre trabalho e família (1).
A generatividade está associada a sentimentos positivos em relação ao casamento, à maternidade e ao cuidado de pais idosos, bem como a uma maior certeza sobre a identidade e um senso de confiança no final da vida (1). Um estudo revelou que indivíduos altamente generativos entre 60 e 75 anos tinham contato social mais frequente e ofereciam mais apoio aos outros, realizavam mais trabalho voluntário e apresentavam menores níveis de afetividade negativa, maior probabilidade de casamento, escolaridade mais elevada e menor probabilidade de fumar, todas variáveis que impactam a saúde (1).
Psicologia Narrativa: A Identidade como uma História de Vida
O campo da psicologia narrativa concebe o desenvolvimento do Self como um processo contínuo de construção da própria história – uma narrativa dramática que ajuda a dar sentido à vida e a conectar o passado e o presente com o futuro (1). O desenvolvimento dessa história confere à pessoa uma “identidade narrativa” (1). As pessoas seguem o roteiro que elas mesmas criaram à medida que expressam suas identidades por meio de ações. A meia-idade é frequentemente um período para revisar a própria história de vida (1). Pesquisas utilizando essa técnica constataram que os roteiros das pessoas tendem a refletir suas personalidades (1).
Adultos altamente generativos tendem a construir roteiros de generatividade. Esses roteiros frequentemente exibem um tema de redenção, ou libertação do sofrimento, e estão associados ao bem-estar psicológico (1). A tendência a desenvolver narrativas nas quais os eventos são geralmente interpretados como positivos, enquanto os negativos são analisados de perto e processados em busca de significado, está associada ao bem-estar e à adaptação (1).
Bem-Estar Psicológico e Saúde Mental Positiva
A saúde mental positiva envolve um senso de bem-estar psicológico que acompanha uma percepção saudável de si mesmo (1).
Emotividade, Personalidade e Idade
Muitos estudos, incluindo o MIDUS, identificaram um declínio gradual nas emoções negativas e um aumento nas positivas desde o início da vida adulta até a velhice (1). De acordo com esse estudo, as mulheres relatam ligeiramente mais emotividade negativa (como raiva, medo, ansiedade) do que os homens em todas as idades. A emotividade positiva (como alegria) aumenta, em média, entre os homens, mas diminui entre as mulheres na meia-idade e, em seguida, aumenta acentuadamente para ambos os sexos, mas especialmente nos homens, na vida adulta tardia (1). Em geral, a maior idade está associada a uma regulação emocional eficaz, maior bem-estar emocional e maior coocorrência de emoções positivas e negativas (1).
Adultos jovens apresentam uma maior variação individual na emotividade do que adultos mais velhos. Em outras palavras, embora os níveis médios de emotividade sejam semelhantes entre os dois grupos, os adultos mais velhos demonstram uma menor reação positiva em resposta a eventos positivos, mas também uma menor reação negativa em resposta a eventos negativos (1). Contudo, adultos jovens podem enfrentar mais eventos estressantes do que adultos mais velhos (1).
Os relacionamentos também podem afetar as experiências emocionais e, consequentemente, o estresse (1). Pessoas que permaneceram casadas, especialmente aquelas que relataram maior satisfação conjugal ao longo do tempo, apresentavam marcadores associados a boa saúde cardiovascular em comparação com adultos em novos casamentos. Isso sugere que a tensão e a discórdia conjugal enfrentadas pelos adultos em novos casamentos tiveram efeitos duradouros em sua saúde (1).
O bem-estar subjetivo está relacionado a traços de personalidade, especialmente o neuroticismo. Pessoas com neuroticismo elevado são mais propensas a experienciar um baixo senso de bem-estar subjetivo. A alta extroversão e alta conscienciosidade, por outro lado, estão associadas a um bem-estar subjetivo elevado (1). Mais especificamente, na vida adulta, as pessoas costumam apresentar aumentos em amabilidade, conscienciosidade e estabilidade emocional e reduções na extroversão, neuroticismo e abertura à experiência (1). No entanto, também demonstram mudanças individuais, que podem ser respostas às suas trajetórias de vida pessoais e exclusivas, e esses fatores interagem entre si (1).
Satisfação com a Vida e Idade
A maioria das sociedades consegue atender às necessidades humanas básicas em um nível suficiente para que a felicidade seja a condição padrão em muitas culturas (1). Uma razão para esse achado geral de satisfação com a vida em diversas circunstâncias é que as emoções positivas associadas a memórias agradáveis tendem a persistir, enquanto os sentimentos negativos associados a memórias desagradáveis tendem a desaparecer (1).
O apoio social – de amigos e cônjuges – e a religiosidade são importantes contribuintes para a satisfação com a vida. Igualmente importantes são certas dimensões da personalidade – extroversão e conscienciosidade – e a qualidade do trabalho e do lazer (1). Além disso, a relação entre muitos desses fatores é interativa (1). Por exemplo, a felicidade no trabalho está associada a maior satisfação com a vida, o que indica maior produtividade e comprometimento ocupacional (1). Não surpreende, então, que a renda também afete a satisfação com a vida (1). No entanto, a aquisição de bens materiais não aumenta a satisfação com a vida, embora gastar dinheiro com experiências o faça (1).
Exercícios físicos também são relevantes. Em um estudo com uso de diário, adultos de meia-idade e mais velhos que praticavam mais atividade física regularmente relataram maior satisfação com a vida do que adultos mais sedentários, e todos os participantes do estudo relataram maior satisfação com a vida nos dias em que eram mais ativos do que o habitual (1).
Em geral, a satisfação com a vida é menor no início da vida adulta, aumenta na parte média e declina novamente na vida adulta tardia (1). A autoestima parece aumentar até a vida adulta intermediária, atingir um pico aos 60 anos e então declinar (1).
As Múltiplas Dimensões do Bem-Estar
Embora as pessoas geralmente tenham uma ideia de seu nível geral de felicidade, a felicidade é multidimensional, e os indivíduos podem estar mais ou menos satisfeitos com diversos aspectos de sua vida (1). Ryff e colaboradores desenvolveram um modelo que inclui seis dimensões, conhecido como “Inventário do Bem-Estar de Ryff”:
- Autoaceitação:
- Pontuações mais altas: O indivíduo mantém sentimentos positivos sobre si, integrando aspectos positivos e negativos do self multidimensional; está satisfeito com escolhas passadas (1).
- Pontuações mais baixas: O indivíduo está insatisfeito consigo e não gosta de suas características pessoais; preferiria ser diferente e se sente perturbado e decepcionado com escolhas passadas (1).
- Relações Positivas com os Outros:
- Pontuações mais altas: O indivíduo tem relacionamentos de alta qualidade, afetuosos e de confiança com os outros; expressa empatia e preocupação com o bem-estar alheio; valoriza a dinâmica e as trocas interativas que as relações humanas exigem (1).
- Pontuações mais baixas: O indivíduo é distante e desconfiado; demonstra pouca empatia ou afeto pelos outros; tende a permanecer isolado e infeliz nos relacionamentos; não está disposto a ceder (1).
- Autonomia:
- Pontuações mais altas: O indivíduo é autossuficiente e independente, age de acordo com normas pessoais e não é facilmente influenciado por pressões sociais; possui regulação interna do comportamento (1).
- Pontuações mais baixas: O indivíduo preocupa-se com as opiniões alheias; busca padrões de comportamento e orientações sobre decisões importantes em outras pessoas; tende à conformidade (1).
- Domínio sobre o Ambiente:
- Pontuações mais altas: O indivíduo sente confiança em suas habilidades e é capaz de manejar o ambiente; consegue utilizar oportunidades emergentes de forma eficaz; usa as necessidades pessoais para orientar a criação ou seleção de contextos adequados a elas (1).
- Pontuações mais baixas: O indivíduo é ineficaz no manejo das responsabilidades cotidianas; sente-se incapaz diante das dificuldades; não consegue reconhecer as oportunidades disponíveis ou mudanças em potencial que poderiam melhorar as situações; não possui um senso de controle pessoal sobre os eventos (1).
- Propósito na Vida:
- Pontuações mais altas: O indivíduo articulou objetivos pessoais e possui um senso de propósito na vida; tem crenças, metas e objetivos que guiam suas escolhas; possui um senso de significado que incorpora a vida passada e presente (1).
- Pontuações mais baixas: O indivíduo vagueia pela vida sem um senso de direção claro; não tem metas pessoais e não vê propósito na vida passada; sente que a vida não tem sentido (1).
- Crescimento Pessoal:
- Pontuações mais altas: O indivíduo sente que o self se desenvolve e expande continuamente ao longo do tempo e tem o senso de realizar seu potencial; é aberto a novas experiências; acredita que a melhoria pessoal do self e do comportamento é contínua; trabalha para melhorar e expandir o autoconhecimento (1).
- Pontuações mais baixas: O indivíduo sente-se preso no self atual e estagnado na vida presente; não desenvolve novas atitudes ou padrões de comportamento; é apático e entediado com a vida (1).
Indivíduos que obtêm maiores pontuações nessas dimensões tendem a ter um senso mais forte de bem-estar do que aqueles com pontuações menores (1).
Relacionamentos na Meia-Idade
Os relacionamentos sociais desempenham um papel central na experiência da meia-idade, influenciando o bem-estar e a adaptação.
Teoria do Comboio Social
De acordo com a Teoria do Comboio Social, as pessoas atravessam a vida rodeadas por “comboios sociais”: círculos de amigos e membros da família com graus variados de intimidade, nos quais podem confiar para assistência, bem-estar e apoio social, e a quem também oferecem cuidado, preocupação e apoio (1).
Características individuais (sexo, raça, religião, idade, educação e estado civil), juntamente com características da situação (expectativas de papéis, eventos de vida, estresse financeiro, lutas diárias, demandas e recursos), influenciam o tamanho e a composição do comboio (rede de apoio), a quantidade e os tipos de apoio social recebido, e a satisfação derivada desse apoio (1).
Em geral, o tamanho da rede social atinge seu auge no início da vida adulta, diminuindo subsequentemente. As reduções ocorrem principalmente nas redes de amizades, enquanto o tamanho da rede familiar permanece relativamente estável ao longo do tempo (1). Pesquisadores especulam diversas razões para a redução da rede de amizades, incluindo mudanças nas circunstâncias (p. ex., maior dedicação à vida profissional) ou nas metas motivacionais (p. ex., preferência por passar mais tempo com aqueles que proporcionam apoio emocional) (1). Outros relacionamentos, como com colegas de trabalho ou vizinhos, tendem a ser importantes em momentos específicos (p. ex., ao mudar de emprego). Mais tarde na vida adulta, se a família passa a exigir menos, as mulheres tendem mais do que os homens a adicionar novos membros às suas redes sociais (1).
A Teoria da Seletividade Socioemocional postula que escolhemos nossos amigos com base em sua capacidade de atender aos nossos objetivos (1). Segundo o autor, a interação social possui três objetivos principais:
- É uma fonte de informação (1).
- Ajuda as pessoas a desenvolverem e manterem uma noção de si próprias (1).
- É uma fonte de bem-estar emocional (1).
Na primeira infância, o terceiro objetivo – a necessidade de apoio emocional – é de importância suprema. Da infância à vida adulta jovem, a busca por informação assume proeminência. Na meia-idade, embora a busca por informação continue sendo importante, a função original de regulação da emoção e dos contatos sociais começa a se reafirmar (1). Em outras palavras, as pessoas de meia-idade buscam cada vez mais outras que as façam sentir-se bem (1). Por exemplo, os idosos descrevem os membros de suas redes sociais de forma mais positiva e menos negativa. Isso significa que adultos mais velhos optam por limitar suas interações àqueles que consideram fontes de apoio e satisfação emocional (1).
Relacionamentos, Gênero e Qualidade de Vida
Para a maioria dos adultos na meia-idade, os relacionamentos são fundamentais para o bem-estar. Por exemplo, o apoio social dos cônjuges – e, em menor grau, dos filhos – está relacionado ao bem-estar em adultos mais velhos, enquanto o apoio social em geral está ligado à satisfação com a vida em todas as idades (1). De acordo com duas pesquisas de âmbito nacional nos Estados Unidos, ter um(a) companheiro(a) e que este(a) esteja com boa saúde são os maiores fatores para o bem-estar de mulheres na faixa dos 50 anos (1).
Ter uma relação tensa com um cônjuge, mãe ou irmão, em outras pesquisas, foi associado ao risco de depressão, especialmente para as mulheres (1). Um senso de responsabilidade e preocupação pelos outros pode prejudicar o bem-estar de uma mulher quando problemas ou infortúnios afligem outras pessoas; os homens tendem a ser menos afetados dessa maneira (1). Assim, os homens tendem a se beneficiar mais dos relacionamentos do que as mulheres. Essa maior preocupação com o bem-estar alheio pode ajudar a explicar por que mulheres de meia-idade tendem a ser mais insatisfeitas em seus casamentos do que os homens (1). Ao estudar os relacionamentos sociais na meia-idade, é crucial ter em mente que seus efeitos podem ser tanto positivos quanto negativos (1).
Relacionamentos Consensuais
Casamento
O casamento na meia-idade difere significativamente do que costumava ser (1). Atualmente, mais casamentos terminam em divórcio, mas os casais que permanecem juntos podem frequentemente esperar por 20 anos ou mais de vida em comum após o último filho deixar o lar (1).
Em geral, os casamentos seguem uma sequência de desenvolvimento, com declínios iniciais acentuados na satisfação conjugal, seguidos por um período de estabilidade e, então, por declínios mais lentos a longo prazo (1). Não surpreende que os divorciados relatem uma satisfação conjugal ainda menor (1). Um fator que impacta consistentemente e negativamente a satisfação conjugal é o nascimento de uma criança. Mães e pais relatam menor satisfação após esse evento, mas muitos casais se recuperam à medida que as crianças crescem, tornam-se um pouco mais autossuficientes e, em especial, ingressam na escola primária (1). A satisfação conjugal também pode diminuir na meia-idade, quando muitos casais têm filhos adolescentes e estão fortemente envolvidos com a carreira. Apesar dos estereótipos em torno do “ninho vazio”, em média, quando os filhos saem de casa, o resultado geralmente é um aumento médio na satisfação conjugal dos pais, embora também aumente ligeiramente o risco de dissolução do casamento (1). A satisfação geralmente atinge um ponto alto quando os filhos estão crescidos (1).
A satisfação sexual afeta a satisfação e a estabilidade conjugal. Casais satisfeitos com suas vidas sexuais tendem a estar satisfeitos com seus casamentos, e uma melhor qualidade de vida conjugal leva a casamentos mais longos tanto para homens quanto para mulheres (1).
Coabitação
A coabitação nos Estados Unidos tem crescido consideravelmente, com um número estimado de aproximadamente 18 milhões de adultos coabitantes do sexo oposto em 2016, um aumento de quase um terço desde 2007 (1). Cerca de 8% dos adultos de 35 a 49 anos e 4% dos adultos com 50 anos ou mais coabitavam em 2016. Os baby-boomers apresentaram o maior aumento percentual nas taxas de coabitação entre todas as faixas etárias (1).
Quando adultos mais velhos coabitam, seus relacionamentos são geralmente mais estáveis do que os de coabitantes mais jovens, sendo a coabitação vista mais frequentemente como uma alternativa ao casamento, e não um prelúdio para ele (1).
Divórcio
As taxas de divórcio para adultos jovens diminuíram nos últimos anos, mas estão em ascensão para adultos de meia-idade (1). Embora o divórcio na meia-idade seja mais comum do que no passado, a ruptura ainda pode ser traumática. Em uma pesquisa com homens e mulheres que se divorciaram pelo menos uma vez na faixa dos 40, 50 ou 60 anos, a maioria dos entrevistados descreveu a experiência como tão emocionalmente devastadora quanto perder um emprego ou ter uma doença grave, embora menos devastadora do que a morte de um cônjuge (1).
O divórcio na meia-idade parece ser especialmente difícil para as mulheres, que são mais negativamente afetadas em qualquer idade do que os homens (1). Com relação à saúde física, a dissolução conjugal está associada a desfechos de saúde aparentemente contraditórios. Primeiro, o divórcio está associado a uma chance elevada de condições de saúde crônicas e mortalidade em ambos os sexos, mas especialmente em homens. Segundo, a maioria das pessoas se ajusta bem ao divórcio e acaba por se recuperar (1).
Casamentos de longa duração têm menos probabilidade de serem rompidos do que os mais recentes. Uma possível explicação está no conceito de “capital conjugal”. Quanto maior o tempo de casado, maior a probabilidade de que o casal tenha acumulado ativos financeiros conjuntos, os mesmos amigos, experiências importantes compartilhadas e se acostumado aos benefícios emocionais do casamento (1). Pode ser difícil abrir mão desse “capital” acumulado (1). Outro fator importante que impede muitos casais de se divorciarem é o dinheiro (1). Um nível socioeconômico mais alto está associado a menor risco de divórcio. Além disso, pesquisas mostram que a estabilidade do casamento e o endividamento do consumidor estão relacionados, e que casamentos estáveis tendem a ter menos dívidas e maior satisfação financeira (1). Discordar sobre finanças também é um preditor de divórcio (1). O gênero interage com a renda; no entanto, quando as mulheres ganham mais do que seus maridos, o risco de divórcio aumenta (1).
Quando as pessoas na meia-idade se divorciam, a principal razão citada é o abuso por parte do(a) parceiro(a) — verbal, físico ou emocional (1). O sentimento de expectativas frustradas pode diminuir à medida que o divórcio na meia-idade se torna mais comum (1). Embora o divórcio possa ser estressante, ele também pode levar ao crescimento pessoal. As melhores estratégias de regulação emocional dos adultos mais velhos e seu maior conhecimento de vida também os capacitam a lidar melhor com os transtornos da dissolução do casamento (1).
Estado Civil, Bem-Estar e Saúde
O casamento oferece benefícios significativos. Pessoas casadas parecem mais saudáveis, tanto física quanto mentalmente, na meia-idade, e tendem a viver mais do que pessoas solteiras, separadas ou divorciadas (1). No geral, pessoas casadas têm melhor saúde geral, menor mortalidade e melhor saúde cardiovascular do que suas contrapartes solteiras (1).
Mas por que o casamento (uma relação social) afeta a saúde (um estado biológico)? Duas teorias foram propostas para explicar esses achados:
- A primeira sugere que o casamento está associado ao incentivo de comportamentos que promovem a saúde (1). Por exemplo, um cônjuge pode incentivar o outro a parar de fumar (1).
- A segunda se concentra no sistema de resposta ao estresse. Sob essa perspectiva, o apoio social oferecido pelo casamento protege os indivíduos dos estressores da vida. Como o estresse crônico afeta negativamente a saúde, os casados são protegidos contra parte de seus efeitos (1). Tudo isso é medido através da função imunológica. O estresse de longo prazo enfraquece o funcionamento do sistema imunológico. Portanto, estar em um casamento com apoio social protetor pode fortalecer o sistema imunológico (1).
A qualidade conjugal parece ser um fator-chave. Ela está associada a uma saúde melhor e menor reatividade cardiovascular durante conflitos conjugais (1). Os efeitos protetores da qualidade do casamento são mais elevados em homens e estendem-se à mortalidade (1).
Uma boa relação conjugal pode proteger as pessoas dos estressores da vida, mas uma relação ruim pode torná-las mais vulneráveis. As tensões conjugais aumentam os declínios na saúde relacionados ao envelhecimento em homens e mulheres, e esse efeito é mais forte à medida que o casal envelhece (1). Da mesma forma, mulheres em casamentos ou relacionamentos de coabitação insatisfatórios correm maior risco de doenças cardiovasculares e outros problemas de saúde, especialmente quando há conflitos conjugais (1). Além disso, assim como podem encorajar comportamentos saudáveis, os cônjuges podem encorajar hábitos não saudáveis (1). Quando tentam parar de fumar, casados têm mais sucesso se o cônjuge tentar parar ao mesmo tempo, ou se não for fumante (1).
Na amostra do MIDUS, os solteiros, especialmente os homens, tendiam a ser mais ansiosos, tristes ou inquietos e menos generativos do que suas contrapartes mais jovens (1). Aqueles que nunca se casaram podem ter um risco maior de doenças cardiovasculares e outras doenças. No entanto, ser solteiro pode ser melhor do que estar em um casamento ruim (1).
Relacionamentos Homossexuais
Um fator que parece afetar a qualidade do relacionamento em homossexuais é a internalização de visões negativas da sociedade sobre a homossexualidade (1). Em geral, homossexuais que internalizaram uma visão negativa de sua sexualidade relatam ter relacionamentos de pior qualidade (1). Isso pode ocorrer porque, ao enfrentar episódios de discriminação, comuns para minorias sexuais, gays e lésbicas com crenças negativas internalizadas sobre si são mais propensos a reagir com ansiedade e depressão (1).
“Sair do armário” pode ser um grande desafio. Alguns homossexuais de meia-idade ainda estão lidando com conflitos com os pais e outros membros da família (às vezes incluindo cônjuges) ou escondendo sua homossexualidade deles (1). Um estudo recente mostrou que cerca de um terço dos adultos mais velhos ainda tem medo de serem completamente abertos em relação à sua sexualidade (1).
Amizades
A qualidade das amizades na meia-idade complementa o tempo que as pessoas não têm. Especialmente durante uma crise, os adultos recorrem a amigos em busca de apoio emocional, orientação prática, conforto, companheirismo e conversas (1). A qualidade dessas amizades pode afetar a saúde, assim como a falta delas. A solidão, por exemplo, prediz aumentos na pressão sanguínea, mesmo quando variáveis como idade, gênero, raça e fatores de risco cardiovascular são considerados (1). Na vida adulta tardia, é a qualidade dos amigos que importa (1).
Relacionamentos com Filhos Maduros
Filhos Adolescentes
Em geral, adultos de meia-idade são pais de filhos adolescentes. Enquanto lidam com suas próprias preocupações, os pais precisam enfrentar diariamente jovens que estão passando por grandes mudanças físicas, emocionais e sociais (1). Em geral, a maioria dos pais na meia-idade expressa felicidade em seu papel (1). Contudo, variáveis contextuais afetam essa felicidade (1). Por exemplo, os pais tendem a relatar mais felicidade quando estão financeiramente seguros, saudáveis, próximos dos filhos ou aposentados, ou quando foram pais mais jovens (1). A satisfação com a parentalidade também está positivamente relacionada com a escolaridade e o estado civil dos pais e negativamente com o conflito entre os pais (1). Uma tarefa importante para os pais é aceitar seus filhos como eles são, e não como esperavam que fossem. Esse processo é facilitado quando os pais consideram seus filhos maduros e aprovam suas escolhas de vida (1). O relacionamento entre pais e filhos geralmente melhora com a idade (1).
Quando os Filhos Saem: O Ninho Vazio
Embora alguns pais tenham dificuldades para se ajustar ao ninho vazio, eles são superados em número por aqueles que consideram essa partida libertadora (1). Em geral, pais cujos filhos deixaram o ninho relatam níveis mais altos de bem-estar, especialmente quando os filhos mantêm contato frequente (1). Eles são particularmente propensos a se adaptar bem quando os filhos saem “na hora certa”, são considerados bem-sucedidos e honrados, e quando há bons laços familiares (1). Padastros e madrastas cujos filhos com parceiros anteriores saem de casa relatam maiores aumentos na satisfação com a vida do que outros grupos com a saída dos filhos da casa da família (1). Contudo, quando os filhos não se realizam, esse processo pode ser mais difícil (1). Os homens, em particular, parecem ser mais afetados pelos sucessos e fracassos de seus filhos (1).
Os efeitos do ninho vazio sobre um casamento dependem de sua qualidade e duração. Em um bom casamento, a partida dos filhos adultos pode prenunciar uma “segunda lua de mel”. A saída dos filhos da casa da família aumenta a satisfação conjugal, talvez devido ao tempo adicional que o casal tem para passar um com o outro (1). O ninho vazio pode ser mais difícil para casais cujas identidades dependem de seus papéis de pais, ou que agora precisam confrontar problemas conjugais já existentes e adiados pelas responsabilidades parentais (1).
Cuidando de Filhos Adultos
Mesmo depois que os filhos deixaram a casa permanentemente, os pais continuam a exercer seu papel (1). Pais de meia-idade geralmente oferecem mais ajuda e apoio aos seus filhos adultos jovens do que recebem deles. Estima-se que a proporção de pais que fornecem ajuda financeira aos filhos adultos varia de 32% a 75% (1). Os pais tendem a dar mais ajuda aos filhos que mais necessitam, normalmente aqueles que são solteiros, pais solteiros ou que cometeram crimes (1).
Alguns pais têm dificuldades em tratar os filhos como adultos, e muitos adultos jovens têm dificuldades em aceitar a contínua preocupação de seus pais com eles (1). Ao mesmo tempo, os problemas dos filhos adultos têm o potencial de reduzir o bem-estar de seus pais (1). Além disso, a síndrome da porta giratória, às vezes chamada de fenômeno bumerangue, tornou-se mais comum. Um número crescente de adultos jovens, especialmente homens, retorna para a casa de seus pais, em alguns casos mais de uma vez, e em outros com suas próprias famílias (1). Muitas vezes, o retorno ao lar é precipitado por preocupações emocionais ou financeiras, ou problemas com o álcool (1).
À medida que os filhos passam da adolescência para a vida adulta jovem, os pais esperam que se tornem independentes, e os filhos esperam fazê-lo (1). Do ponto de vista do filho adulto, o apoio financeiro paterno pode ameaçar sua autoeficácia, e embora possa ser uma fonte de apoio financeiro e emocional extremamente necessários, morar com os pais também pode ameaçar seu senso de independência (1). Segundo alguns pesquisadores, a corresidência dos filhos só prejudica a qualidade do casamento quando não era normativa (1).
Outros Laços de Parentesco
Relacionamento com Pais Idosos
É comum que um adulto de meia-idade, em algum momento, perceba seus pais como pessoas idosas que podem necessitar de cuidados (1).
Tornar-se um Cuidador dos Pais
Mesmo sem viverem próximos, a maioria dos adultos de meia-idade e seus pais mantêm relacionamentos calorosos e afetuosos baseados em contato frequente, apoio mútuo, sentimentos de apego e valores comuns (1). Na maioria das vezes, a ajuda e a assistência continuam a fluir dos adultos para seus próprios filhos, e não para seus pais (1). Contudo, gradualmente, essa dinâmica está mudando. Por exemplo, um filho pode perceber que a mãe não consegue mais dirigir e decide ir ao supermercado para ela uma vez por semana (1). Esse desenvolvimento normativo é visto como um desfecho saudável de uma crise filial, na qual os adultos aprendem a equilibrar amor e dever para com seus pais com autonomia em um relacionamento de mão dupla (1). A maior parte da ajuda consiste em assistência nas necessidades diárias e, menos comumente, em emergências e crises, sendo este o padrão na grande parte das famílias (1).
Membros dessa geração, por vezes denominada “geração sanduíche”, podem encontrar-se sobrecarregados entre as necessidades concorrentes dos próprios filhos e as necessidades emergentes de seus pais (1). Mundialmente, o cuidado é geralmente uma função feminina. As relações entre filhas e mães idosas tendem a ser especialmente próximas. As filhas tendem a cuidar mais dos pais idosos, mas a proporção entre filhos e filhas na família afeta o processo (1). Não surpreende que muitos filhos adultos expressem ambivalência em relação a cuidar de pais ou sogros idosos. Essa ambivalência pode surgir da dificuldade envolvida em conciliar necessidades concorrentes (1). A maioria dos casais está disposta a contribuir com tempo ou dinheiro, mas não ambos, e poucos têm os recursos ou a disposição necessários para apoiar ambas as duplas de pais (1).
Tensões Provocadas pelo Cuidado
Cuidar de outra pessoa pode ser estressante (1). É difícil para mulheres que trabalham fora de casa assumir o papel adicional de cuidadoras, e reduzir as horas de trabalho ou deixá-lo para atender às obrigações como cuidadora pode aumentar o estresse financeiro (1). A tensão emocional pode originar-se não apenas do papel de cuidador, mas da necessidade de equilibrá-lo com as muitas outras responsabilidades da meia-idade (1). O papel de cuidador também pode criar problemas no casamento. Cuidadores adultos relatam menor felicidade conjugal, grande desigualdade conjugal, mais hostilidade e, para as mulheres, maior grau de sintomatologia depressiva e depressão com o passar do tempo (1).
A demência e condições relacionadas estão entre as mais difíceis de enfrentar. Além de serem incapazes de desempenhar as funções básicas da vida diária, pessoas com demência podem ser incontinentes, desconfiadas, agitadas ou deprimidas, sujeitas a alucinações, podendo vagar à noite, ser perigosas para si mesmas e para os outros e necessitar de supervisão constante (1). Às vezes, o estresse gerado pelas demandas pesadas e incessantes do papel de cuidador é tão grande a ponto de levar ao abuso, negligência ou mesmo abandono da pessoa idosa dependente (1). Um resultado dessas e de outras tensões pode ser o esgotamento do cuidado, uma condição de exaustão física, mental e emocional que afeta adultos que cuidam constantemente de pessoas idosas ou doentes (1). Mesmo o cuidador mais paciente e amoroso pode ficar frustrado, ansioso ou ressentido sob a constante tensão de satisfazer as necessidades aparentemente infinitas de uma pessoa idosa (1). Os cuidadores precisam ter uma vida própria, paralelamente à invalidez ou doenças das pessoas amadas (1).
Alguns cuidadores familiares, em retrospecto, consideram a experiência excepcionalmente gratificante (1). Quando conseguem identificar e articular os aspectos positivos de cuidar de uma pessoa com demência, os cuidadores familiares têm menor probabilidade de sofrer de depressão e maior probabilidade de relatar maior bem-estar, satisfação com a vida e autoeficácia.
Relacionamento com Irmãos
Os laços entre irmãos são os relacionamentos de mais longa duração na vida da maioria das pessoas (1). Algumas pesquisas sugerem que o relacionamento entre irmãos ao longo da vida se assemelha a uma ampulheta, com o maior contato nas duas extremidades — infância e meia-idade em diante — e contato mínimo durante os anos de criação dos filhos (1). Os conflitos entre irmãos tendem a diminuir com a idade, talvez porque irmãos que não se dão bem se veem menos (1). Os relacionamentos entre irmãos podem ser particularmente benéficos para adultos que não tiveram filhos (1). O cuidado de pais idosos pode fortalecer a união entre irmãos, mas também pode causar ressentimento e conflito. Problemas também surgem quando há percepções de favoritismo, seja uma percepção do presente ou uma lembrança da infância, particularmente em relação à mãe (1).
Tornando-se Avós
Frequentemente, o papel de avô ou avó começa antes do término das funções parentais (1). Cerca de 83% das pessoas com mais de 65 anos têm netos, e aproximadamente um terço delas considera que ter mais tempo para dedicar à família é o aspecto do envelhecer que mais valorizam (1).
Papel dos Avós
Em muitas sociedades, os avós participam integralmente da criação da criança e das decisões familiares. Sua ajuda é frequentemente precipitada por fatores como pobreza, doença, migração e outros desafios e crises familiares (1). Em países asiáticos como Tailândia e Taiwan, aproximadamente 40% da população com 50 anos ou mais vive na mesma casa com um neto pequeno, e metade daqueles com netos de até 10 anos são responsáveis pelo cuidado da criança (geralmente as avós) (1).
De forma geral, as avós têm relacionamentos mais estreitos, calorosos e afetuosos com seus netos (especialmente com as netas) do que os avôs, e os veem com mais frequência (1). Avós que mantêm contato frequente com seus netos, que se sentem bem em relação a serem avós, que atribuem importância a esse papel e que têm autoestima elevada tendem a ser mais satisfeitas por serem avós. É comum que os avós tenham dificuldade em equilibrar a conexão com seus netos e permitir que seus próprios filhos sejam os pais de suas famílias, de acordo com suas próprias crenças e valores (1).
Os Avós Após o Divórcio e um Novo Casamento
Um resultado do aumento nas taxas de divórcio e de novos casamentos é o número crescente de avós e netos cujos relacionamentos são afetados ou interrompidos (1). Após um divórcio, visto que a mãe geralmente obtém a custódia, os avós maternos tendem a ter mais contato e relacionamentos mais fortes com seus netos, enquanto os avós paternos tendem a ter menos (1). O novo casamento de uma mãe divorciada reduz sua necessidade de apoio de seus pais, mas não o contato deles com seus netos. Já para os avós paternos, um novo casamento aumenta a probabilidade de que sejam afastados ou de que a família se mude para longe deles, dificultando ainda mais o contato (1). Este é um desfecho lamentável, pois o contato contínuo e uma boa relação com os avós estão associados a maior satisfação com a vida, maior autoestima e domínio, e menor ansiedade em crianças cujos pais se divorciaram (1).
Criando os Netos
A maioria dos avós que assumem a responsabilidade de criar seus netos o faz porque não desejam vê-los em um lar adotivo desconhecido (1). Os avós frequentemente precisam lidar com um sentimento de culpa porque os filhos que eles criaram, agora adultos, falharam com seus próprios filhos, e também com o ressentimento que podem sentir em relação a esses filhos adultos (1).
Assumir o cuidado dos netos pode ser física e psicologicamente exaustivo. Estudos indicam que avós que cuidam de netos correm maior risco de problemas de saúde física. Avós que cuidam de netos também relatam níveis mais elevados de ansiedade, estresse e, em especial, depressão, sendo que aqueles que cuidam de crianças com problemas sociais, comportamentais ou emocionais correm risco particularmente alto (1).
Avós que fornecem cuidado de parentesco sem se tornar pais adotivos ou obter a custódia têm poucos direitos e nenhum status legal (1). Eles podem enfrentar muitos problemas práticos, desde matricular a criança na escola até ter acesso aos registros acadêmicos para obter seguro médico para a criança (1). Avós podem ser fontes de orientação, companheiros de brincadeira, vínculos com o passado e símbolos de continuidade familiar. Eles expressam generatividade, um desejo de transcender a mortalidade investindo nas vidas das futuras gerações. Homens e mulheres que não se tornam avós podem preencher as necessidades generativas tornando-se avós adotivos ou sendo voluntários em escolas ou hospitais (1). Ao encontrar formas de desenvolver o que Erikson chamou de a virtude do cuidado, os adultos se preparam para entrar no período culminante do desenvolvimento adulto (1).
Referências Bibliográficas
- PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento Humano. 14. ed., v. 1. Artmed, 2022.