Vivência Espaço-Temporal: Percepção Subjetiva e suas Alterações Psicopatológicas


Vivência Espaço-Temporal: Percepção Subjetiva e suas Alterações Psicopatológicas


Introdução

A vivência espaço-temporal é uma função neuropsicológica crucial que abrange a percepção subjetiva do tempo e o senso de realidade de um indivíduo. Essa capacidade permite a discriminação entre eventos passados e as ocorrências potenciais no presente, fundamentando a compreensão da memória e sua diferenciação da fantasia. A congruência do discurso, a organização cognitiva e a identidade individual dependem intrinsecamente dessa percepção temporal, que pode ser modulada pelo estado afetivo e pelo humor.


O Tempo: Subjetividade e Objetividade

O tempo, em sua vivência, pode ser distinguido em (1):

  • Tempo subjetivo: Uma experiência pessoal, que se configura como uma vivência subjetiva e intrínseca ao indivíduo.
  • Tempo objetivo: O tempo cronológico, que concerne à dimensão temporal objetiva e exterior ao indivíduo.

O Espaço: Profano e Sagrado

Com relação à percepção do espaço, também podemos classificá-lo da seguinte forma (1):

  • Espaço profano: Distingue-se pela liberdade de ações e comportamentos, pela predominância da informalidade e pela presença de um conjunto mínimo de normas que visam facilitar a convivência entre os indivíduos.
  • Espaço sagrado: É percebido como dotado de significado intrínseco, dissociado da realidade exterior e frequentemente acompanhado pela sensação subjetiva de estar em um local distinto. O movimento no interior do espaço sagrado caracteriza-se pela lentidão e é mediado por rituais, ritos ou liturgias específicas, os quais definem um comportamento formal e cerimonioso.

Alterações da Vivência do Tempo e Ritmo

O estado da vivência de tempo e ritmo pode ser analisado sob as seguintes dimensões: ilusão da duração temporal, atomização da percepção do tempo, inibição da sensação de continuidade temporal e desintegração da estrutura temporal.

  • Ilusão da duração do tempo: Consiste na descaracterização exacerbada da percepção da passagem do tempo. Este fenômeno é observado em quadros de intoxicação por substâncias alucinógenas e psicoestimulantes, bem como em situações de sobrecarga informacional.
  • Atomização do tempo: Caracteriza-se pela perda da capacidade de apreender a continuidade temporal, acompanhada de um estreitamento do registro das fronteiras entre o passado e o futuro. O indivíduo experimenta a sensação de viver em uma sucessão de instantes presentes desconectados. Consequentemente, ocorre uma dificuldade na compreensão do devir, perda do senso da relação de causalidade, manifestação de fuga de ideias e aumento da distractibilidade.
  • Inibição da sensação de fluir do tempo: Manifesta-se como um comprometimento na percepção do avanço temporal subjetivo, resultando na incapacidade de sincronizar o tempo cronológico com a vivência temporal interna. Este quadro é frequentemente observado em indivíduos com transtornos de ansiedade e depressão, nos quais há uma dificuldade em experimentar o tempo externo em consonância com o seu tempo interior.
  • Desintegração do tempo: Consiste na desvinculação da vivência subjetiva com a dimensão temporal, de modo que o passado se manifesta como um conjunto de fragmentos estranhos à própria identidade do indivíduo.

Alterações da Vivência de Espaço

  • Espaço exterior: Também designado como limite exterior, define a fronteira espacial que o paciente estabelece em suas relações interpessoais.
  • Espaço interior: Reporta-se ao espaço do ego do indivíduo em relação à distância e à vivência do espaço físico.

Nos estados maníacos, observa-se uma vivência de um limite espacial exterior expandido e abrangente, podendo inclusive transgredir o espaço pessoal de outrem. Contudo, no que concerne ao espaço interior e à noção de distância, o ego inflacionado tende a distorcer a percepção das distâncias e a ampliar subjetivamente os espaços físicos.