Vômito: Fisiologia e Manejo Clínico-Nutricional
Introdução
O vômito é um mecanismo reflexo de proteção do trato gastrointestinal superior, essencial para a eliminação de conteúdos irritantes ou em excesso. Compreender os complexos sinais fisiológicos que desencadeiam e executam o ato emético, bem como as estratégias de manejo, é fundamental para o cuidado do paciente.
Fisiologia do Vômito
O vômito é o meio pelo qual o trato gastrointestinal superior se livra de seu conteúdo quando alguma de suas partes é excessivamente irritada, hiperdistendida ou hiperexcitada (2). A distensão excessiva ou a irritação do duodeno é um estímulo particularmente potente para o desencadeamento do vômito (2).
Os sinais sensoriais que iniciam o vômito originam-se principalmente da faringe, esôfago, estômago e das porções superiores do intestino delgado (2).
Antiperistaltismo
O antiperistaltismo refere-se a ondas peristálticas “para cima”, que podem começar no íleo e progredir em direção à cavidade oral a uma velocidade média de 2-3 cm/segundo (2). Esse processo é capaz de empurrar grande parte do conteúdo do intestino delgado inferior de volta ao duodeno e ao estômago em 3-5 minutos (2). À medida que as porções do trato gastrointestinal superior são hiperdistendidas, essa distensão torna-se um fator excitatório que inicia o ato do vômito (2). No início do vômito, ocorrem fortes contrações no duodeno e no estômago, acompanhadas de um relaxamento parcial do esfíncter esofagogástrico, permitindo o movimento do conteúdo gástrico para o esôfago (2).
O Ato do Vômito
Uma vez que o centro do vômito tenha sido suficientemente estimulado e o ato emético instituído, os primeiros efeitos observados são (2):
- Respiração profunda.
- Elevação do osso hioide e da laringe para abertura do esfíncter esofágico superior.
- Fechamento da glote para impedir o fluxo de vômito para os pulmões.
- Elevação do palato mole para ocluir as narinas posteriores.
Em seguida, há uma forte contração do diafragma e dos músculos da parede abdominal, que comprime o estômago, elevando a pressão intragástrica a níveis consideráveis (2). Finalmente, o esfíncter esofágico inferior relaxa completamente, permitindo a expulsão do conteúdo gástrico para o esôfago e, consequentemente, para o exterior (2).
Vômito por Cinetose ou Fármacos
O vômito também pode ser desencadeado por sinais nervosos que se originam em outras áreas do cérebro (2). A administração de certos fármacos, como a apomorfina e alguns derivados digitálicos, pode estimular diretamente a zona de disparo de quimiorreceptores e iniciar o vômito (2).
A zona de disparo de quimiorreceptores localiza-se na área postrema, nas paredes laterais do quarto ventrículo cerebral (2).
Além disso, mudanças rápidas na direção ou no ritmo dos movimentos corporais podem induzir o vômito em algumas pessoas (2). Esse fenômeno, conhecido como cinetose, ocorre porque o movimento estimula receptores no labirinto vestibular do ouvido interno (2). Os impulsos são então transmitidos, principalmente via núcleos vestibulares do tronco cerebral, para o cerebelo e, desse, para a zona de disparo dos quimiorreceptores e, por fim, para o centro do vômito (2).
Conduta Clínica e Recomendações Nutricionais
Para o manejo do vômito, diversas estratégias clínicas e nutricionais podem ser adotadas:
- Após o vômito, a reidratação é crucial. Utilizar soro de reidratação oral ou bebidas isotônicas, administrando uma colher de sopa a cada 5-10 minutos (1).
- Priorizar pequenas refeições em maior frequência ao longo do dia (1).
- Evitar deitar-se imediatamente após as refeições (1).
- Chupar gelo ou beber líquidos gelados pode ajudar a aliviar o desconforto (1).
- Não ingerir líquidos durante as refeições; é recomendado consumi-los 1 hora antes ou 2 horas depois (1).
- Mesmo com a ocorrência de vômito, é importante estimular a alimentação, dando preferência a alimentos brandos (1).
- Evitar gorduras, bebidas gasosas, cafeína, leite e condimentos que podem irritar o TGI (1).
Referências Bibliográficas
- SILVA, S. M. C. S.; MURA, J. D. P. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia. 3. ed. São Paulo: Editora Pitaya, 2016. 1308 p.
- HALL, J. E.; GUYTON, A. C. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1–1176 p.